|31| Rosas-vermelhas

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"Jungkook"

Meus olhos estavam pesados. Fazia quatro dias que eu intercalava os dias e noites entre meu apartamento e o hospital.

Para ser sincero, eu não conseguia dormir na minha cama ou descansar em casa enquanto sabia que a vovó estava correndo risco de vida.

Ela havia acordado há dois dias, mas outra vez ficou inconsciente e voltou a dormir, e desta vez foi assustador.

Tive que ouvir todas aquelas máquinas descontrolarem-se. Jimin não estava comigo naquele segundo, mas eu não estava sozinho. Jackson e Lalisa estavam comigo naquele dia, e enquanto eu via os médicos adentrarem as pressas no quarto e checarem os sinais da minha avó, foram eles que seguraram o meu corpo que entrou em desespero.

Jimin chegou apenas horas depois, já estava me sentindo acabado. Minha avó estava estabilizada, mas recebia oxigênio e seus batimentos eram baixos.

Ele me abraçou e se desculpou por não estar ali para me proteger da realidade dolorosa, mas não seria ele a impedir que algo como aquilo acontecesse. Ninguém mais tinha controle sobre a saúde da vovó senão o destino.

Mas dois dias já haviam se passado e eu a observava cada vez mais fraca.

Ela não parecia mais querer viver. A pensar que ela sofreu com a síndrome do coração partido, a vovó talvez encontrasse mais paz partindo do que vivendo no mesmo mundo que Su-ji. Mas eu não admitia que talvez ela pensasse assim.

Eu ainda estava ali, estava vivo e ao seu lado. E ela era tudo o que me restava.

ㅡ Você precisa comer um pouco. ㅡ ouvi Jimin dizer, me ajudando a se erguer para caminhar até a sala separada do quarto.

Me sentei sobre a mesa, me sentia fraco. Ele buscou o almoço servido pelo hospital e o colocou à minha frente.

Não conseguia sentir fome. Não conseguia mais sentir nada.

Mas Jimin ainda parecia sentir muita coisa por mim. Ele se sentou na cadeira à minha frente, a puxando para mais perto e buscou os talheres, cortando a carne antes de buscar um pouco do arroz e do Kimchi, erguendo-o na altura da minha boca.

O olhei, ele sorriu e me incentivou a abrir a boca. Pouco a pouco fiz aquilo. O gosto não era nada bom, um peso me tomava e me fazia sentir preguiça até de mastigar, mas ainda o vendo tão esperançoso para que eu me alimentasse bem, mastiguei aquela porção e engoli, vendo-o sorrir e buscar mais um pouco para me dar na boca novamente.

ㅡ Me desculpa. ㅡ pedi baixo, abaixando o olhar enquanto tocava o fio solto da calça com um rasgo no joelho que ele usava.

ㅡ Sem desculpas dessa vez. ㅡ ele me fez erguer o rosto e colocou mais comida na minha boca. ㅡ você não tem culpa nenhuma, já te disse.

ㅡ Eu queria poder ajudar. Se eu pudesse, tiraria meu próprio coração e a dava. Não vou aguentar perdê-la também, hyung. É tudo o que eu tenho de família.

Jimin tocou minha mão e a apertou. Olhei em seus olhos, eles pareciam ter brilho, esperança, mas eu já havia perdido qualquer resquício daquilo em mim.

ㅡ Sua avó vai ficar bem, Jungkook. E você tem a mim, pode me ter como sua família também. Seremos nós três, uh? O que me diz?

Sorri fraco, assentindo somente por fazer.

Jimin voltou a cortar a carne, separando pedaços pequenos para voltar a me servir na boca.

Era quase patético que aos dezenove anos, um homem de trinta e um tivesse me alimentando daquele modo. Mas ele fazia aquilo de forma tão tranquila, tão a vontade que eu acabei aceitando com facilidade.

Bela Flor - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora