Capítulo bônus

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E desde quando um sorriso significa felicidade? Às vezes um sorriso e uma risada servem para esconder um passado, e acredite, funciona mais que uma mentira ou uma história inventada. (Pâmela Mello e Júlia Cristina)

Por Alice:

No momento em que eu escuto a proposta de conversa da Emily faço uma careta e me encolho, e quando todos voltaram a atenção para mim foi como se eu estivesse no mesmo lugar...No mesmo lugar de quatro anos atrás. Lembro-me bem das paredes escuras que eu tanto temia, das correntes, dos desafios.

Eu não tenho uma boa história para contar.

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Uma menina de nove anos de idade, desconfiava de tudo e todos menos do seu irmão, ela sabia que poderia confiar inteiramente em seu irmão mais velho pois ela mesma via ele sofrer igual a ela de formas diferentes. Por isso não dizia nada e fingia não saber que seu irmão fugia todas as noites para se encontrar com amigos, se ela tivesse coragem faria a mesma coisa.

Então um dia a menina de vestido rosa e com tiaras brilhantes carregava seu ursinho de pelúcia favorito, carregava seu urso para todos os lugares como um verdadeiro amigo, seu irmão havia dado de presente a ela em seu aniversário de seis anos e desde então vivia com àquele urso. Andava pelo castelo mas não normalmente, olhando para todos os lados e se assustando com os mínimos barulhos.

Sem perceber andava em direção ao ferreiro oficial de Artenis, ele trabalhava em um pequeno cômodo localizado após a cozinha e quase ninguém sabia sobre ele mas a menina sabia de tudo que acontecia ali, infelizmente sempre sabia. Ela bateu timidamente na porta e o Senhor gritou para entrar mas a menina não conseguia alcançar a maçaneta.

- Tio, sou eu, Lice-A menina gritou e logo o Senhor se apressou para abrir a porta.

Magro e com roupas manchadas, dedos queimados e rugas na pele, mas mesmo assim ele conseguia sorrir sincero quando via a pequena princesa de Artenis, deixou a mesma entrar junto com seu querido ursinho.

- O que faz aqui?-Ele pergunta -Seu irmão anda aprontando mais alguma?

- Não, não é isto. Eu quero saber algumas coisinhas...-Ela hesita mas mesmo assim continua -Existe uma forma de abrir uma porta sem chave?

- Que pergunta é essa? Para quê quer saber disso?-Ele fica até preocupado.

- É só curiosidade, mas então, tem como? Não precisa ter medo de responder tio!-A menina fala frustada e ele ri.

- Está bem eu falo-O Senhor então se senta em sua cadeira nada confortável e pega de sua mesa um grampo velho de ferro -Está vendo isso? Parece ser inofensivo e apenas um enfeite para lindos cabelos como o seu. Mas também tem outras atividades, com um grampo de ferro da maneira certa conseguimos abrir uma porta sem muito esforço.

Era isso o que a menina procurava e sorriu na mesma hora, irritando o Senhor ferreiro fez com que ele desistisse de negar e então a ensinou como abrir qualquer porta ou cadeado com um simples grampinho. A menina estava radiante, essa seria sua salvação.

- Obrigada-De maneira fofa a menina agradece antes de ir embora dali.

- Mas não vá fazer besteria, de irresponsável já basta seu irmão!-O Senhor falou por fim vendo a menina de olhos verdes concordar e acenar, para logo depois sair correndo aos pulos.

A menina se apressou para chegar em seu quarto e pegar vários grampos rosas e de qualquer outra cor. Sua babá, Dulce, a olhava com receio. Dulce era a única que sabia exatamente o porquê da menina estar fazendo isso e curiosa sobre portas, graças a Dulce o jeitinho meigo e dócil da menina continuou, se não fosse por ela a menina talvez teria se matado ou coisa pior. Afinal, quem iria aguentar ser maltratada pelo próprio pai?

- Cuidado Alice, não deixe ele perceber-Dulce diz tentando ajudar, infelizmente o Rei a mantinha calada e se pensasse em denunciar iria direto para a forca, então só o que a restava era ajudar a menina de outra forma -E nunca esqueça, no mundo tem coisas boas e seja o que for não deixem tirar sua alegria e bondade, porque é isso que querem mas você é forte!

- Claro Dulce-A menina então sorriu e balançou seu cabelo agora com vários grampos.

De noite a menina resolveu ir ver como sua mãe estava, pois soube que passara mal de tarde. Mas para isso teria que passar pelo escritório do seu pai e o deixava furioso ao se aproximar do quarto andar. Então a princesa tentou ao máximo não ser vista e nem fazer barulho mas mesmo assim ele percebeu, e então era tarde de mais.

- Nunca aprende!?-Ele grita formando ecos pelo corredor vazio, segurava seu bracinho com força e ela começa a chorar pela dor -Quieta! Vamos para seu cantinho do castigo.

O "cantinho do castigo" ficava em seu escritório, uma porta secreta e antiga que não era mais usada como refugio para ataques rebeldes. O lugar era assustador e as paredes tinham mofo e bichos nojentos, ela começa a chorar mais ainda ao encarar a porta branca manchada.

- Até sexta-feira filha-Ele diz friamente para logo depois aparecer um sorriso -E bom descanso.

Então jogou-a brutalmente no local e a trancou, a menina batia e batia na porta mas nada, gritava até perder as forças. Ainda era terça-feira, como aguentaria ficar sem água, sem comida e sem banheiro por três dias seguidos?

Já conseguira ficar quatro dias nesse quartinho mas desmaiou e teve que ficar em coma por dois meses, mas preferia isso do que ser obrigada a matar...Um dos desafios que seu pai a fazia era isso, matar um coelho, um cachorrinho e até um gato fofo! Tinha pesadelos todas as noites pelos seres que ela tirou a vida com apenas um arco e flecha.

Mas então sentada no chão frio e encostada na porta de ferro em completa escuridão se lembrou dos grampos, será que daria certo?

Não deu, por estar escuro e a menina nunca ter nem sequer testado não deu certo. Um dia se passou mas ela não desistiu, continuou ali mesmo fraca tentando e tentando. Apenas na quinta-feira de noite ela conseguiu, lembrou do que o Senhor ferreiro tinha a informado "girar de vagar o grampo, com rapidez nunca dará certo" e assim ouviu o clic e a porta abriu.

Ela caiu de joelhos no chão e sua pele suando muito, continuava segurando o grampo (agora torto) em sua pequena mão, conferiu que estava de noite e saiu do escritório tropeçando. Era o tempo de comer alguma coisa e voltar para o mesmo lugar, mas aconteceu imprevistos. Um baile estava acontecendo e ela arregalou seus olhos, quando pensou em dar meia volta ela perdeu as forças e caiu totalmente no chão e segurou suas lágrimas.

- Nossa!-Um grito abafado preencheu o lugar e Alice se esforçou para olhar quem era com medo de ser seu pai, mas para sua sorte ou azar não era ninguém conhecido e sim um menino (muito bonito) e que usava roupas apropriadas para bailes reais, estava na cara que era um príncipe.

- Não importa o que aconteceu agora-Ele diz e se aproxima da menina a ajudando a levantar -Só o que importa agora é te ajudar, vamos para a cozinha certo? Tu és quem? Foram rebeldes?

E foi assim que então uma segunda pessoa além de Dulce soube o que acontecia com a menina, fora assim que Anthony descobriu.

E desde àquele dia Alice nunca jamais deixou de usar um grampinho em seu cabelo...

Nem sei o que dizer, um capítulo triste e bastante revelador. E antes que me perguntem, não, Alice nunca foi estuprada ou espancada, foi uma forma de violência sim mas diferente. Uma tortura psicológica que pode doer mais do que fisicamente. E se tiverem alguma dúvida sobre o assunto ou sobre o capítulo podem perguntar!

Votem e comentem bastante❤ Novamente sem previsão para próximo capítulo mas acho que será daqui a uns quatro dias no máximo.

Fuiii.

Escrito por Pâmela Mel.












As princesas do Reino Cristalya~Vol.1~Onde histórias criam vida. Descubra agora