Parte 4

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  Aumentei o som da rádio quando começou a tocar minha música predileta. Parei o carro em um semáfaro no cruzamente a menos de 2km da casa da Kim. Estava praticamente deserto as ruas, nenhum carro passou enquanto estava ali parada.
  Quando o sinal abriu, atravessei o cruzamento e segui estrada a fora. Percebi que finalmente um carro estava atrás de mim.
  Ele estava chegando perto de mais, seu carro era um Civic preto com os vidros também escuros enquanto meu carro era praticamente uma carroça velha e inferrujada.
  Dei sinal com os piscas do carro para ele ultrapassar, dei sinal com o braço dizendo que estava livre para seguir seu caminho mas ele ou ela não se importou. Decidi deixá-lo ali atrás do meu Jipe Gurgel dos anos 80, mesmo que estivesse chegando muito perto.
  Estacionei meu Jipe na garagem da casa de Kim e desci do carro. Sua casa é estilo casa americana, mas tem uma pequena cerca branca, cercando-a.
  A casa havia dois andares, um porão e um sótão. Kim vivia no porão de sua casa, pois lá tem espaço para montar um pequeno apartamento e como é filha única, acabou ficando com o porão. Percebi que o carro que estava atrás de mim na estrada estacionara algumas casas a frente.
  Esperei alguém sair do carro, mas nada aconteceu. Fiquei quase cinco minutos olhando mas ninguém saiu. Segui até a porta de entrada e toquei a campainha.
  Kim abriu quase que de imediato.
  — Como você tá? — Perguntei enquanto seguíamos rumo seu quarto.
  — To mal, ainda mais porque alguém gravou os dois e colocou no site do colégio, pra todo mundo saber que fui traída. — "Ops"
  — Fica tranquila Kim, Nico vai pagar bem caro por isso. — Disse a fazendo rir. Conversamos e rimos um pouco.
  — Hey, vamos ao Julio's? Esquecer essa história toda?
  — Sei não Emma, amanhã tem prova e eu quero estudar. — Disse indo até seu guarda roupas e pegando suas coisas pra tomar banho e uma roupa que parecia ser nova.
  Ela sorriu pra mim antes de sair.
  Kim era assim, negava para ir aos lugares, mas ia sem dar nenhuma explicação, já me acostumei com isso. Peguei minhas chaves para ir pra casa me trocar, bati na porta do banheiro.
  — Kim, a gente se vê la, ok?
  — Ok, te ligo quando estiver indo.
  — Tá, Tchau.
  — Tchau.
  Fui até meu carro. Enquanto seguia pra casa liguei para Greg.
  — Como está indo a investigação soldado? — Perguntei antes de freiar com tudo para não atropelar um gato.
  — Estou seguindo ele agora, acabou de sair do colégio, esta indo para o leste, acho que vai pro Julio's .
  — Ótimo, me mantém informada, até mais.
  — Até. — Desligo o celular e sigo pra casa em silêncio.

×××

  Tomei um banho rápido ao chegar em casa, estava secando o cabelo quando meu celular toca. Suspeitei ser Kim me ligando para avisar que estava indo para o Julio's mas era Greg.
  — Greg? Tudo bem?
  — Emma, segui o Austin até o Julio's e ele veio encontrar o Nicholas, acha que eles são amigos? — Com certeza Austin e Nico não eram amigos, não depois da surra que Austin deu nele.
  — Não sei, me espera que eu vou ai ver. — Disse desligando e ligando pra Kim em seguida.
  — Kim, a gente pode ir pro Julio's mais tarde? Tive um imprevisto e tenho que sair.
  — Tudo bem, me liga quando chegar em casa. Tchau.
  — Tchau. — Jogo meu celular na cama e corro para meu carro.

×××

  Estaciono algumas ruas antes do Julio's. Fico um tempo olhando para a porta, mas ainda era umas duas da tarde, não tinha muito movimento.
  Começei a andar até a porta principal mas alguém me puxou para o beco que havia entre o Julio's e outro estabelecimento, estava pronta para socar quem quer que fosse, mas vi que era Greg.
  — O que está fazendo? Está louca?
  — O que!? Eu ia entrar! — Gritei e Greg tampou minha boca apontando para a porta. Eles estavam saindo, estávamos tão próximos, que podia sentir seu perfume e ouvir sua grave voz.
  Austin foi o primeiro a sair, sendo seguido por Nico.
  — Não quero mais ver você dando bola por ai, ainda mais perto da Emma, ela pode desconfiar de alguma coisa. Fique longe delas por um tempo, mas não suma entendeu? — Disse Austin. Nico pareceu pensar um pouco sobre a proposta, que aceitou com um simples balançar de cabeça positivamente.
  — Mas eu posso continuar com Megan né? Cara, ela é quente. — Tive vontade de correr e bater muito nele, mas Greg me segurou com força.
  — Você que sabe cara, esse já é um problema seu, só não quero te ver perto de Emma. Não se esqueça do que te falei.
  — Fecho, até mais tarde. — Diz Nico lhe dando tapinhas no ombro.
  — Até. — Austin se virou e voltou para dentro do bar. Olhei para Greg, que estava de boca aberta com o diálogo.
  — Que merda foi essa? — Perguntei antes de me sentar no chão.
  — Caramba, não sei não. Vai querer continuar com isso? — Greg se ajoelhou na minha frente.
  — Eu quero continuar. Me empresta seu celular? — Greg tira do bolso seu antigo celular, ligo para Kim e digo para nos encontrar na mesa de sempre, no Julio's.
  O bar era quase uma boate, o teto era bem alto, havia um balcão enorme onde os barmans serviam bebidas a minha direita. No lado esquerdo haviam algumas mesas encostadas na parede e um pouco acima de suas cabeças, vários quadros de Julio - O dono do bar - ao lado de alguns famosos que já frequentaram o local.
  Mais perto do balcão de bebidas haviam mais mesas e cadeiras. Uma pequena pista de dança se espalhava pelo meio de todo bar.
  A primeira coisa que se notava quando entrava pela primeira vez no Julio's era um pequeno palco montado bem no fim do bar, algumas bandas de rock se apresentavam lá nos fins de semana.
  Ao lado esquerdo do palco havia um corredor onde se levava aos banheiros. No lado direito, havia outro pequeno corredor, onde se levava a porta de saída dos fundos. Ao lado do corredor que levava a porta dos fundos, abria-se um cômodo onde se abrigavam os jogos.
  Me sentei na mesa próxima ao palco a direita e Greg me acompanhou.
  Uma garçonete alta e de longos cabelos negros veio até nossa mesa.
  — O mesmo de sempre? — Perguntou Aisha.
  — Sim, obrigada. — Aisha me lançou uma piscadela antes de sair. Austin estava sentado no banco do bar, de costas pra mim. Greg pegou sua câmera digital e me mostrou algumas fotos que havia tirado dos dois.
  Pouco tempo depois, Aisha chegou com as bebidas ao mesmo tempo que Kim chegou a nossa mesa. Aisha sorriu e voltou para pegar mais uma cerveja.
  — E ai seu chato. — Kim abraça Greg, que faz uma careta com a brincadeira, nos fazendo sorrir.
  Bebemos, sorrimos, cantamos algumas músicas... Austin parecia não ter me notado, ou estava me ignorando. Quase sete da tarde, nossa mesa já estava cheia de garrafas de cerveja e alguns copinhos cheios de tequila. Estávamos fazendo uma brincadeira, cada um tinha que falar uma verdade do outro, se fosse mentira, bebia uma dose, se fosse verdade tomava duas doses, nos conhecemos bastante então estávamos um pouco alterados.
  — É verdade que... — começou Greg — Emma pediu pra mim seguir Austin só porque quer dar pra ele. — Kim e Greg se explodiram em risadas, Austin ouviu e veio até nossa mesa, se abaixou até o meu ouvido e sussurrou.
  — Posso cuidar disso pra você. — Senti meu rosto queimar, sabia que eu estava corando e vi Greg se engasgar de tanto rir. Joguei um pouco de sal nas costas da mão, lambi antes de tomar uma dose de tequila e logo em seguida colocando metade de um limão na boca.
  — Pode tomar mais uma porque é a mais pura verdade. — Greg praticamente gritou.
  — Vê se cala essa boca. — Temi por Austin ainda estar escutando, mas o mesmo estava parado próximo a porta dos fundos conversando com Aisha, que parecia estar muito brava.
  Chutei Greg por debaixo da mesa e mostrei com a cabeça o casal irritado nos fundos. Austin saiu bufando e Aisha veio toda sorridente para nossa mesa.
  — Mais uma rodada pessoal? — Perguntou animada.
  — Não Aisha, acho que Kim bebeu demais. — Olhei para Kim que estava deitada sobre a mesa, praticamente desmaiada. Greg seguiu todo cambalhando para o caixa pagar nossa bebedeira, enquanto eu pegava Kim pelo ombro.
  Pedi para Greg levar Kim pra casa, fiquei para um pouco mais de investigação.
  Decidi seguir Austin pelo beco em que Greg me puxara mais cedo, já estava noite e o beco não havia iluminação. Segui o mais rápido que pude mas quando passei por um tambor de lixo, um barulho me assustou.
  Olhei para trás e vi aquele mesmo carro que me seguira mais cedo parar em frente ao beco. Ainda faltava um pouco até eu chegar onde queria, mas estava curiosa pra saber quem era, acabei esperando.
  Um homem alto, de terno preto e cabelo grisalho desceu do carro. Me virei e começei a dar passos rápidos e largos, queria sair desse beco logo.
  — Não adianta correr Emma, vou te seguir até você cansar. — Parei de repente. Como aquele maldito cara sabia meu nome? Me virei e encarei de longe aquele velho.
  — Como sabe meu nome? — Pergunto sem deixar transparecer medo.
  — Isso não importa, venha aqui pra conversar comigo.
  — Não obrigada, preciso ir. — Disse me virando.
  — Não Emma, você vai vim aqui, agora. — Começei a correr gritando  socorro e chamando por Austin, mas senti que minha voz não estava saindo.
  O beco começara a ficar cada vez mais longe do final. O cansaço me alcançou e eu parei, apoiando-me em meus joelhos, quando tomei folêgo, olhei em volta e o velho estava próximo de mim, bem do meu lado pra ser exata.
  Olhei para trás e vi seu carro, eu estava no começo do beco.
  — Você não corre nada. — Debochou. — Deixe eu me apresentar, sou Francis, queria falar com a senhorita, se não se importar é claro. — E então minha visão ficou preta.

Entre Anjos e Lobos - OrigensOnde histórias criam vida. Descubra agora