Parte 5

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  Abrir meus olhos foi um trabalho difícil. Meu corpo todo estava doendo.
  Percebi que estava amarrada em uma cadeira no meio do mato. O que está acontecendo aqui?
  — Alguém me ajuda! — Gritei, mas óbvio que ninguém me ajudou. Ouvi alguns passos atrás de mim e começei a entrar em pânico.
  Tentei olhar pra trás e uma luz forte brilhou nos meus olhos. O velho estava segurando uma lanterna no meu rosto.
  — O que você quer? — Perguntei deixando o medo e o pavor passar pela minha voz.
  — Só quero fazer algumas perguntas Emma, não se preocupe. — Disse passando seus dedos enrrugados no meu rosto.
  Uma luz acima de nós se acendeu e percebi que não estávamos no meio do nada. Estávamos em um enorme celeiro, onde só haviam algumas ferramentas para a plantação. Francis pegou uma cadeira e se sentou na minha frente.
  — Por que está seguindo Austin? — Perguntou. Não respondi.
  — Por que Emma?! — Gritou me fazendo pular da cadeira mas ainda assim, não respondi.
  Então ele levantou uma das mãos até a altura do meu rosto e a fechou em um punho.
  Uma dor insuportável começou a subir pelas minhas pernas. A dor parecia estar cortando todo meu músculo pouco a pouco. Começei a gritar mas isso não estava ajudando.
  — Achei que ele estivesse me seguindo. — Disse por fim. Francis baixou a mão e então a dor parou por completo.
  — Por que ele estava te seguindo?
  — Eu não sei.
  —Você gosta de senti dor não é? — Perguntou antes de se virar.
  Alguma coisa estranha estava acontecendo com ele. Sua pele começou a mudar, estava ficando mais jovem, seu cabelo mais escuro.
  Francis se virou pra mim e sua aparência era de um homem de quase trinta anos. Tentei me levantar, e quase cai.
  —Agora que você pode ver como realmente sou, vai fugir?
  — Sai de perto de mim! — Gritei. 
Ele se sentou novamente na cadeira.
  — Me fala o que sabe do Austin. — Não queria responder, mas percebi que isso acabaria mais rápido se eu respondesse todas as perguntas.
  — Não sei muita coisa, só sei que ele é Dj e estuda na mesma escola que eu, só isso.
  — Adam! — Francis gritou olhando pra trás. Um rapaz alto, parecia ter uns dois metros de altura, correu até ele.
  — Ela não sabe de nada mestre, eles nem se conhecem direito.
  — Oh, ótimo ótimo. Deixe-a ir, não quero estragar isso. — Adam pegou um saco de papel e se preparou para colocá-lo em minha cabeça.
  — Só não se esqueça Emma, estou te vigiando. — Ameaçou antes da minha visão ficar preta novamente.

×××

  Abri meus olhos e percebi que estava no meu quarto. Minha cabeça rodava mais que um peão. Que sonho mais louco, credo.
  Olhei para o relógio que marcava quatro da manhã. Me levantei e fui até o quarto de Karin, que ficava no fim do corredor. Percebi que Karin não estava sozinha, então a deixei em paz. Voltei para meu quarto, queria muito falar com alguém sobre esse sonho maluco.
  Mandei uma mensagem para Kim. *Tive um sonho muito louco, queria falar sobre ele com você mais tarde ?*. Imediatamente uma mensagem chega em meu celular.
*Podemos falar amanhã no colégio? Minha cabeça está doendo muito.* Ri sem querer lembrando da nossa bebedeira. Como eu cheguei em casa? Pensei.
*Ok, te vejo amanhã.* Joguei meu celular em cima da minha cômoda ao lado da cama e adormeci.

×××

  — Acorda dorminhoca, ou vai se atrasar. — Karin me chama antes de fechar a porta. Olhei pro relógio digital na minha cômoda que marcava seis e meia.
  Fui até o banheiro e tomei um banho quente, deixei a água correr pelas minhas costas levando todo meu cansaço embora. Escovei os dente e desci pro café.
  Peguei só uma garrafinha com suco de laranja e sai. Queria dirigir um pouco. Meu carro estava estacionado no lugar de costume. Preciso me lembrar logo como cheguei em casa.
  Dirigi pela cidade por longos dez minutos, depois segui para o colégio. Cheguei alguns minutos mais cedo que esperava, então fui para a biblioteca.
  Apenas eu e a Sra. Miriam se encontrava no lugar.
  — Sra. Miriam, posso ficar aqui até o sinal tocar?
  — Claro Emma, divirta-se. — Sorri com sua resposta e fui atrás de um livro. Queria saber o significado daquele sonho maluco, procurei por um livro de significado de sonhos. Achei um bem grosso.
   Me sentei em uma mesa e começei a folhear. Quando finalmente achei, alguém se sentou ao meu lado. Senti um perfume amadeirado e já sabia quem era.
  — Você não veio ontem. — Disse Austin com sua voz grossa e sexy.
  — Não vim onde?
  — Na biblioteca, esqueceu do trabalho? — Droga, esqueci completamente do trabalho.
  Me levantei e corri para os livros didáticos, peguei vários de matemática e alguns de história e fui para os computadores.
  — O que você está fazendo? — Perguntou Austin se divertindo com minha corrida contra o tempo.
  — O trabalho, você ja fez sua parte? — Perguntei antes de pesquisar "História da matemática" no computador.
  — Não, eu também esqueci. — Ele ficou onde estava cruzando as mãos na nuca. O encarei de cara feia e o mesmo nem ligou.
  Me levantei e fui até ele, peguei em sua mão e o puxei para se sentar ao meu lado no computador para começar o trabalho. Por sorte Austin me ajudou em silêncio. Terminamos pouco tempo antes do sinal tocar.
  — Tudo pronto mocinha, vamos? — Austin pega as folhas.
  — Vamos. — O acompanho até a classe sem falar com ele.
  — Austin, você conhece um tal de Francis? — Perguntei parando em sua frente no corredor movimentado. Ele me olhou por meio segundo com um olhar de pavor, que relaxou logo em seguida.
  — Não, por quê?
  — Porque sonhei com um cara que se chamava Francis e ele me fez perguntas sobre você. — Disse lhe dando espaço para continuar andando.
  — Hum, anda sonhando comigo? — Abriu um sorriso triunfante.
  — Não é isso, para de ser convencido. — Entrei na sala e me sentei em meu lugar. Austin entregou nosso trabalho para o Sr. Stephen e se sentou ao meu lado.
  As aulas se avançaram rapidamente, peguei Austin me observando algumas vezes. Em outras oportunidades ele encostava sua perna na minha, encostava na minha mão quando tentava me ajudar com algum dever.
  Percebi que ele se sentia incomodado ao encostar em mim, mas não parou de achar desculpas para me tocar.

×××

  O sinal para o intervalo toca e Austin segue seu caminho em silêncio. Karin e John aparecem na porta conversando e me esperam. Kim já estava sentada á mesa quando cheguei.
  — E então? — Kim me perguntou quando me sentei ao seu lado.
  — E então o que?
  — Seu sonho Emma, como foi? — Perguntou irritada. Contei meu sonho todo para Kim que ouviu atenta.
  — Que sonho louco Emma, sai de perto de mim. — Disse fingindo estar com medo.
  — Né? Eu toquei no assunto com Austin e ele me pareceu preocupado, mas acho que foi só impressão minha.
  — Sei não Emma, é muita loucura pra minha cabeça de vaca loira. — Caímos em gargalhadas.
  Austin estava sentado a algumas mesas de distância, bem na minha frente. O peguei me observando algumas vezes. Ele não cansa de ficar me olhando?
  Dessa vez fiquei o encarando também, e então eu percebi que os olhos de Austin estão pretos, me lembrei vagamente da noite na festa de Kim e seus olhos não eram pretos e sim verdes.
  Fico me perguntando o que poderia ter deixado os olhos dele assim. Talvez ele usa lente ou talvez eu estivesse muito bêbada e tenha trocado as cores.
  — Daqui a pouco sai um raio dos olhos de vocês dois. — Karin percebeu que estávamos nos encarando por muito tempo.
  Desvio o olhar e lhe mostro o dedo do meio. Percebo Greg se aproximando da mesa onde eu estava.
  Greg estava com seu look de sempre, o cabelo escuro bagunçado no alto da cabeça, um suéter verde escuro, calça jeans preta, seus sapatênis predileto e seu óculos fundo de garrafa, formando assim o maior nerd do colégio.
  — Emma posso falar com você?
  — Oi pra você também Greg. — Kim e Karin dizem em conjunto.
  — Oi meninas, desculpa mas estou com pressa. Vem Emma. — Greg me puxou para o corredor que levava aos banheiros, os alunos quase não passavam por lá.
  — O que foi Greg?
  — Emma, quando eu estava vindo pro colégio, um cara alto que parecia ter uns sessenta anos me parou e ficou fazendo perguntas estranhas pra mim.
  — Que tipo de perguntas?
  — Perguntou se eu estava seguindo Austin e o que eu sabia sobre ele. — Greg terminou e começei a entrar em pânico. Então não foi um sonho? Aquela coisa toda foi real? Como seria real um velho se transformar em um cara jovem bem na minha frente?
  — Emma você está bem?
  — Não Greg, eu estou a ponto de pirar. — Coloquei as duas mãos no rosto, incrédula.
  — Porque Emma, me fala! — Greg gritou com pavor.
  — Porque esse cara também me procurou.

Entre Anjos e Lobos - OrigensOnde histórias criam vida. Descubra agora