Parte 9

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Austin e eu seguimos em silêncio pela estrada. A lua estava escondida atrás de uma enorme nuvem negra de chuva e as árvores a beira da estrada se chacoalhavam com o vento forte. Austin respeitou meu silêncio e não me fez pergunta alguma, apenas dirigiu e ficou me ouvindo chorar baixinho. Minha cabeça estava a mil. Formulava a cada dois segundos uma nova frase para contar a Karin o que havia acontecido.
- Eu não posso ir pra casa hoje, não vou aguentar ver Karin me perguntar sobre Logan. - Minha voz falha ao falar seu nome.
- Tudo bem, não se procupe. - Disse Austin colocando sua mão no meu joelho e me lançando um sorriso amigável. Meu corpo se relaxou ao seu toque e eu acabei adormecendo.

***
- Emma, acorda. Já chegamos. - Abro meus olhos e vejo Austin saindo do carro. Olho pra fora do carro e vejo que estamos na área de casas popular da cidade. Todas eram extremamente iguais, tirando algumas que tinham muros e outras que os proprietários pintaram de cores mais alegres. A de Austin era normal, a cor era de um bege velho, havia uma pequena porta de vidro e uma janela na frente. Um pequeno caminho de pedra nos levava até a porta, impedindo assim, de pisar na grama verde ao redor.
- Bonita casa. - Digo assim que saio do carro.
- Você não viu nada. - Austin sorri e eu noto o tom irônico na sua voz. Será que ele pensou que eu estava sendo irônica? O primeiro cômodo em que se entra logo ao abrir a porta é a sala de estar. A sala era pequena com apenas um sofá e uma poltrona, ambos de couro preto, uma tv grande presa na parede e alguns quadros estranhos. Um corredor nos levava mais para os fundos, havia duas portas no corredor, um levava ao banheiro e o outro a um pequeno quarto. No fim havia a cozinha, um pouco maior que a sala, com uma pequena mesa redonda, uma pia e entre outras coisas.
- Você pode dormir aqui. - Austin me leva a uma porta quase que escondida no fim da cozinha, ele abre e acende a luz. Esse concerteza era o maior cômodo da casa. Uma cama de casal enorme pousava bem no centro do quarto com lençois de seda escuros. Dois pequenos criado-mudo descançavam ao lado da cama. Um enorme guarda roupa preto estava em frente a cama. Havia também uma mesa para computador e uma estante com alguns livros encostados na parede do lado esquerdo. Uma pequena porta se escondia ao lado da estante de livros.
- Pra onde ela vai? - Pergunto apontando para a portinha.
- É só um pequeno banheiro. Fique a vontade, vou preparar algo pra comer, você quer?
- Sim, to morrendo de fome. - Austin saiu e eu fechei a porta. Me deitei na cama e desejei que tudo isso acabasse logo. Poucos minutos depois me levanto e vou até a cozinha.
- Hey, já esta quase pronto.
- O cheiro esta incrivel. - Me sento em uma cadeira na pequena mesa já posta com pratos, talheres e copos.
- E então, me fale um pouco de você Srta. Emma.
- Não tenho muito o que falar, me fale exatamente o que quer saber.
- Bom... seus planos pra vida, quais são?
- Os mesmos que quase toda mulher, sabe? Achar um cara bacana, casar com ele, ter filhos, levar uma vida boa e essas coisas. Mais pra agora eu só quero terminar meus estudos e arrumar um emprego. E você? - Pergunto assim que Austin coloca uma travessa cheia de macarronada em cima da mesa e pega uma garrafa de vinho e nos serve.
- Bom, quase isso. - Austin não termina sua frase e eu não insisto. Queria perguntar tantas coisas pra ele mas eu não queria saber a resposta, não agora. Conversamos sobre coisas aleatórias enquanto comiamos. Várias vezes entre o jantar percebi Austin me estudar com atenção, parecia estar tentando me desvendar.
- Conheci o Drew hoje mais cedo, ele disse que deve a sua vida a você, porque?
- Eu o ajudei com várias coisas no passado, mas ele esta exagerando.
- Bom, Austin, obrigada por hoje, eu não saberia o que fazer se você não tivesse aparecido, obrigada mesmo. - Digo colocando minha mão em cima da sua. Austin segura minha mão e cruza seus dedos nos meus. Ficamos assim até terminarmos o jantar. Ajudei Austin com a louça e fui até o quarto. Andei até a estante de livros e vi que Autin le livros em outras línguas. Aliás, em várias outras línguas. Fui olhando mais amplamente e achei livros em alemão, outros em japonês, alguns em  punjabi... Fui até a pequena porta e vi que la havia um banheiro, com uma enorme banheira. Deve caber umas três pessoas ai. Decidi tomar um banho e tirar minhas roupas sujas de sangue, mas antes fui até o guarda roupas de Austin e achei uma camiseta preta de uma banda que eu não conhecia que ficava como um vestido em mim. Quando terminei de tomar banho, aproveitei para lavar um pouco do sangue que ficou na minha calça e na minha blusa, aproveitei pra lavar também minha calcinha para eu usá-la assim que acordar. Estendi minhas roupas ali mesmo onde ficava a "cortina" da banheira para tapar a visão de quem entrasse. Apaguei as luzes e dormi naquela cama incrível.
** Estava parada em uma rua escura e sem saída, algumas casas abandonadas se encontravam ocupando as calçadas. Me virei e segui em frente tentando achar uma saída, mas dos dois lados, muros enormes de pedra me cercava. Francis apareceu atrás de mim e sua risada maléfica ecoou em todo o lugar. Logo atrás dele estava Logan ajoelhado chorando, dois homens grandes estavam te segurando. Corri até ele mas parecia que se afastava. Parei de correr e um dos homens girou a cabeça de Logan, fazendo ela quebrar. Começei a chorar e fui até Logan, os homens haviam desaparecido então pude abraça-lo. Aisha aparecendo descendo do céu com uma grande asa branca, era muito brilhante e deixava seu rosto ainda mais perfeito. Me estendeu a mão e eu a peguei, deixando o corpo de Logan deitado no chão. Ela me levou até minha casa, indo embora logo em seguida. Karin estava chorando nos ombros de Austin quando o mesmo lhe contava a tragédia. Entrei no meu quarto e me deitei na cama. Abri meus olhos e Francis estava em cima de mim me sufocando...**

Acordei assustada, passei a mão pelo meu pescoço e não senti mãos e nem dor. Que bom que foi apenas um pesadelo. Me sentei na cama e peguei meu celular. Ele marcava 04:40 da manhã. Fui até o banheiro do quarto e molhei meu rosto. Peguei minha calcinha, agora seca, e a vesti. Sai do quarto e percebi um brilho vindo da sala. Fui até lá e Austin estava deitado assistindo a tv, sorriu ao me ver e se sentou.
- Sem sono? - Perguntei.
- Sim, você também?
- Na verdade foi um pesadelo. - Disse me sentando ao seu lado. Austin se aproximou e me puxou para um abraço. Me encolhi em seu corpo e ficamos assim, até que consegui pegar novamente no sono.

***
Acordei abraçada com Austin no sofá, ele havia tirado as almofadas para dar mais espaço. Me sentei assustada, passei a mão pelo meu cabelo tentando arrumá-lo. Me levantei e olhei para Austin. Seu corpo perfeitamente esculpido, agora estava relaxado. Fui até o banheiro do quarto e coloquei minhas roupas agora secas e "limpas". Peguei meu celular e nele marcava 11:55. Caramba, deve ser por isso que estou com fome. Lavei novamente meu rosto, peguei um pouco de pasta de dente e coloquei na boca, tentando inutilmente limpa-la. Pelo menos vai me livrar do meu bafo matinal. Sorri com o que pensei. Guardei meu celular e fui até a sala para chamar Austin pra me levar pra casa, mas ele não estava lá. Ouvi barulhos vindo do quarto no corredor e fui ver o que era. Austin estava de costas pra mim com uma toalha enrolada na cintura, tentando achar alguma coisa para vestir. Notei uma enorme cicatriz na suas costas. Cobria ela toda em forma de V de ponta cabeça. A ponta vinha da sua nuca e descia em duas linhas grossas até onde a toalha tampava. Isso é estranho, mas é bem sexy. Austin ia se virar então eu praticamente sai correndo até o quarto onde dormi e arrumei a cama. Logo depois ouvi barulhos na cozinha e fui até ele.
- Bom dia. - Disse ele ao me ver sair pela porta, agora estava vestindo uma camiseta preta de banda com uma calça também preta, com um All Star da mesma cor.
- Bom dia. - Disse me sentando à mesa.
- Vamos almoçar em um restaurante? Conheço um que fica aqui bem perto.
- Tudo bem. - disse me levantando. Mais tempo pra eu pensar.
Já na estrada, pego meu celular e vejo as ligações de Karin. Foram mais de dez ligações, algumas de Kim também. Decido ligar primeiro para a Kim.
- Oi
- Emma eu vou te matar, achei que você tivesse sumido, onde esta agora?
- Eu dormi na casa do Austin, ele ta me levando pra almoçar agora.
- O QUEEE??!! - Tive que afastar o celular para não ficar surda, Austin começou a rir e eu não consegui me segurar e ri também. - ...Como você não me falou nada, me conta agora, tudo tudo.
- Kim, depois eu falo com você Ok? Tchau. - Desligue antes de outro ataque histétrico. Não podia falar do que aconteceu por telefone, muito menos nessa animação de Kim.
- Você me ajuda a falar com a Karin?
- Claro. - Austin responde e me lança um sorriso, me sinto mais aliviada assim. Chegando no lugar, ele estaciona em uma vaga em frente ao restaurante. O lugar era bem aconchegante com várias mesas e cadeiras de madeira escura. O balcão onde se pagava era bem grande, logo atrás dele havia uma porta dupla que levava á cozinha. Nos fundos havia os banheiros. Nos sentamos em uma mesa para dois que ficava encostada na parede. Um homem baixinho nos entregou um cardápio e nós folheamos.
- Vou querer o prato do dia com um suco natural de laranja. - Falei lhe entregando o cardápio.
- Quero o mesmo. - Diz Austin fazendo o mesmo.
- Já pensou no que vai falar pra Karin? - Diz Austin quando nossa comida chega.
- Eu não faço idéia de como vou falar pra ela. Eu só queria entender porque alguém fez isso com ele.
- Eu também queria entender isso. - Austin pega na minha mão. - Sinto muito pelo o que aconteceu Emma.
- Eu também. - Disse lhe mandando um pequeno sorriso e voltando para minha comida. Ficamos conversando sobre como falariamos para a Karin, mas achamos melhor responder suas perguntas primeiro e depois lhe contar tudo.

Entre Anjos e Lobos - OrigensOnde histórias criam vida. Descubra agora