Capítulo 30 - Ethan

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A viagem até Montreal foi tranquila. Passado o primeiro momento de nostalgia que Luna e eu tivemos, fiz a verificação de praxe nos passageiros e do pessoal que trabalhava ali. O sistema de funcionários deles era algo bem elaborado, mas eu já tinha me preparado assim que Lorenzo disse sobre a viagem. A lista de passageiros também não foi difícil conseguir. Luna paquerou o funcionário de um setor de vendas e com a desculpa que tinha tido problemas com a passagem ficou cerca de vinte minutos na sala dele, tempo suficiente de inserir um pendrive e captar informações preciosas.

Nosso cuidado se devia ao fato de que queríamos ter um tempo tranquilo no Canadá e para isso não poderíamos deixar sujeira no caminho.

Lorenzo tinha razão quando disse que Luna adoraria a viagem. Nas primeiras três horas vimos muitos prédios e tudo que cidades grandes proporcionam, mas depois nos deliciamos com uma belíssima paisagem.

Decidimos fazer um tour pelo trem e passamos no vagão lanchonete e fizemos um rápido lanche, não havia muitas opções, mas foi o suficiente para segurar as pontas. Luna insistiu e fomos para o vagão principal panorâmico do trem. Subimos as escadas e nos deparamos com janelas na frente e até metade do teto. A paisagem era realmente de tirar o fôlego.

O trem seguia pela orla do Lago Champlain cruzando rios, fazendas, florestas temperadas. As casas pareciam saídas de filmes.

Nas margens do lago, milhares de patos se lançavam nas águas, era algo esplêndido de se apreciar. O trem seguia lentamente, por causa dos limites estaduais e soava seu apito sem pressa alguma ao longo do Hudson Valley. Perto do fim da viagem o vagão fechou e voltamos aos nossos lugares.

Na fronteira com o Canadá, o trem parou e fiscais subiram para conferir passaportes e vistos. Nossos nomes e vistos eram falsos, mas eu estava confiante que essa última etapa da viagem seria tranquila também e assim foi.

O resto do trajeto passamos entre cochilar e falar amenidades.

Paramos na enorme estação Central de Montreal. Fiquei feliz porque aqui não havia diferenças de horário, mas o meu corpo estava me cobrando as dez horas passadas dentro daquele trem.

_ E agora? – questionou Luna.

_ Bom temos duas alternativas. Buscar o carro que Lorenzo separou e seguir para Ontário. Ou descansar e ir pela manhã.

_ É seguro descansar aqui?

_ Acredito que sim. Ninguém sabe quem somos aqui. Considerando que morremos em Nova York. Não vejo problemas. Depois, amanhã seremos pessoas diferentes.

_ Então eu voto por ficar. Preciso muito descansar meu corpo.

_ Vou ligar para o contato de Lorenzo e aí decidiremos. Se pudermos ficar, ficaremos. Mas se tiver que ser hoje, então será.

_ Ok.

O contato de Lorenzo estava nos aguardando num hotel a duas quadras dali, saímos da enorme estação e seguimos rumo ao local combinado.

Eram dez da noite. E estávamos realmente muito cansados, mas tínhamos que resolver tudo, antes que qualquer coisa saísse do contexto planejado. Encontramos o jovem que deveria ter seus vinte anos e ele nos deu a chave e nos apontou um trailer do outro lado da rua.

_ O meu empregador disse que você viria hoje. E disse que era para entregar a chave. Mandou você ler o recado no compartimento secreto. Disse que se eu falasse isso, você entenderia.

_ Você pode esperar um momento?

_ Sim, mas não podemos demorar muito. É proibido estacionar a noite nas ruas daqui, só tirei o trailer quando ligaram, porque vocês disseram que viriam logo.

_ Vai ser rápido.

Entrei no trailer e a bagunça reinava. Metade das coisas que mandamos entregar da Argentina, estavam ali. Caixas e mais caixas empacotadas. O único espaço vazio era o banheiro e os assentos na frente.

Sentei no banco do motorista e procurei embaixo do assento o compartimento secreto.

Lorenzo e eu tínhamos o hábito de fazer um pequeno rasgo embaixo dos bancos, sofás e afins para guardamos coisas. E nesse caso não era diferente. Encontrei um papel enrolado, tirei e li uma pequena mensagem de Lorenzo.

"Se chegou até aqui, vai ficar bem. Tudo que é importante está nesse trailer. E não, eu não esqueci seus brinquedos eletrônicos preferidos. Então caso aconteça algo, vocês estão garantidos. Eu sei que vocês devem estar cansados, mas não pare agora. Nada de ficar em Montreal e descansar. Embora a tentação seja grande, reveze turnos na direção, tenho certeza de que antes do que esperam chegarão ao destino. Em Thunder Bay encontrará o resto das nossas coisas. É provável que esteja a caminho dependendo da data que estão chegando, uma empresa de mudança fará a entrega das coisas no final do mês, então não se assuste. Se afaste da cidade. Quanto antes saírem de cena, melhor. Mudem de identidade somente com dez horas de viajem. O motivo? Precaução. Ao chegarem lá precisam ser quem serão daqui pra frente. Cuidado com os pedágios e postos de verificação. As caixas da frente e de cima na maioria são roupas e tranqueiras da Luna então se não quiserem tirar nada do fundo, não terão problemas. Assim que chegar, fortaleça as defesas e as comunicações. Não conheço o bunker e foi impossível fazer ou solicitar qualquer tipo de reforma nele, mas consegui uma vistoria virtual da casa de cima e uma empresa se encarregou de arrumar ela pra mim. A essa altura ela deve estar em boas condições. Não sei se foram capazes de encontrar a entrada do bunker, que por acaso é a dispensa da cozinha. Foi o único lugar que pedi para não mexerem. Verifique o perímetro dentro e fora da casa antes de descansarem. Serão dias exaustivos, mas se alguém pode fazer isso, é vocês. Sim eu sei que sou o máximo e pensei em tudo. Estou há uns três meses preparando essa viagem para nós, não era exatamente para o Canadá, aliás eu nem sabia ainda para onde iriamos, mas a logística é a mesma. Só tive que aprimorar algumas coisas e traçar o destino. E se eu não estou falando isso pessoalmente, provavelmente alguma merda ocorreu no caminho. Mas vou ficar bem. Ligue apenas quando estiver no bunker seguro. Amo vocês. Cuidem se."

Lorenzo me surpreendia cada vez mais. O bon vivant que eu o considerava, vinha se mostrando um empresário, negociador e estrategista de primeira. Agora tínhamos um destino certo. Além de saber que iriamos para a província de Ontário, tinha o nome de uma cidade... Thunder Bay. Assim que tivesse oportunidade, iria saber tudo sobre aquele lugar, mas não ali, nem naquele momento. Saí do trailer e Luna carregava um isopor nas mãos.

_ O empregador pediu para eu providenciar essas coisas para sua viagem. – Apontou a caixa de isopor nas mãos de Luna. _ E isso também.

Me entregou um envelope pardo contendo dois mapas, um GPS e três maços de dinheiro, eram dólares canadenses, somente notas altas de cem dólares. Tirei algumas e entreguei ao rapaz.

_ Eu já fui pago pelo serviço senhor, muito bem pago por sinal.

_ Eu tenho certeza de que o empregador te pagou sim. Mas isso não é pagamento, é agradecimento. Por estar disponível a essa hora.

_ Faz parte do acordo senhor.

_ Apenas pegue o dinheiro e leve uma garota bonita para dar uma volta.

Ele pegou o dinheiro.

_ Precisa de algo mais senhor.

_ Não, temos o suficiente por agora. - Me virei para Luna e disse: _ precisamos ir. Agora.

Senti a cara de cansaço dela e a chateação por não conseguir o tão sonhado descanso, mas ela não disse nada apenas se agradeceu e se despediu do rapaz. Fiz o mesmo e entramos no trailer.

_ Faço o primeiro turno. Vou até onde conseguir e você abaixa o banco e descansa um pouco.

_ Achei que estávamos seguros aqui.

_ Estou seguindo orientações do Lorenzo. Não vou questionar. Ele deve saber o que está fazendo. – Entreguei a ela o bilhete que encontrei no trailer. Antes de ler o bilhete, ela abriu a caixa de isopor e me entregou um energético.

_ Acho que vai precisar disso.

Peguei e tomei num gole só. Peguei também um sanduiche de um fast food famoso e acabei com ele em três bocadas. Me sentei direito no banco do motorista afivelei o cinto, liguei o trailer e saímos rumo ao nosso destino final.

Mulheres Poderosas I - DonnatellaOnde histórias criam vida. Descubra agora