Eu sou uma garota legal, dessas que curtem a vida sem grandes expectativas e sem querer chamar atenção...
Mentira...
E você vai descobrir que esse é um dos meus muitos talentos...mentir.
Vivi parte da minha infância em Dover, Idaho. Uma cidadezinha americana com cerca de 40 mil habitantes. No subúrbio em que vivia, todo mundo conhece todo mundo e era bem legal e normal pra mim.
Até que minha mãe, que sempre foi meio paranoica, adoeceu de vez. As crises de ansiedade e depressão aumentaram depois que ela descobriu que meu "tio Fergus", o amigo que nos mantinha escondidas, tinha morrido.
Tudo bem que até então, eu era uma lesada e nem sabia o por quê estávamos nos escondendo. Mas em minha defesa, eu era adolescente. Só queria ser convidada para as festinhas e conseguir meu primeiro beijo. Aos 12 anos, são grandes expectativas. Acredite.
Mas, como merda pouca é bobagem, o excelentíssimo senhor Romeu Esposito, vulgarmente conhecido como "papai" nos encontrou.
Minha mãe que vivia dopada por conta dos antidepressivos, simplesmente apagou a vida de seus olhos.
Ver minha mãe indo embora dia a dia, era uma perda que me deixava arrasada. Para o meu pai ressuscitado, era apenas uma chance de vingança por ela ter fugido dele e ameaçado delatar suas tramoias, para a máfia italiana. Mas isso eu só fui descobrir bem mais tarde. Romeu, vugo papai, era um mentiroso brilhante e não sei como, conseguiu abafar a história na máfia, voltando a ter permissão para caçar, matar e desfrutar das vantagens de viver em meio aos grandes mafiosos italianos.
Mamãe sabia que a máfia não perdoava, por isso tentou se livrar de Romeu, juntando provas que incriminavam ele. Infelizmente, ela falhou.
Mas se a máfia era ruim, "papai" era a encarnação do mal. Da máfia só se saía morto e da vida de "papai" também. Não sem antes, você pagar um pequeno pedágio, claro.
Como ele conseguiu reaver todas as provas que mamãe havia conseguido, o jeito para ela, era tentar fugir. Com a ajuda de Fergus, ela foi bem sucedida por alguns anos... mas, nada dura para sempre!
No momento que pisei os pés na casa do Romeu, fui isolada de tudo e de todos, tudo que me era permitido era estudar e treinar, lembra das festinhas e beijos...esquece.
Vivia escondida. Aos olhos dos outros, eu tinha morrido muitos anos antes, com minha mãe. E aos olhos de Romeu, naquele momento, eu valia mais morta do que viva.
Segundo ele, eu não era bonita o suficiente para ter um bom pretendente, então teria que "pagar" pelas nossas vidas, de outra forma.
Eu era uma exímia aluna. Uma aprendiz aplicada e exemplar. Me tornei muito rapidamente uma pequena máquina de matar. Completamente controlada por Romeu, através de uma tola esperança, de ver uma mãe apática, voltar a vida.
Se aquela era minha porta de saída e esperança, eu iria abrir e passar por ela.
Falava cinco idiomas com perfeição, arranhava outros dois. Exímia dançarina, aplicada e aperfeiçoada na arte de machucar (e porque não dizer matar) outro ser humano, com as mãos.
Foram doze anos de aprendizado e muitas surras. Sim, porque até eu me transformar no que sou hoje, apanhei muito. Matei muito a mando de Romeu, incluindo seus capangas, que ele colocava para me "ensinar" e se divertir.
Então, enquanto me preparo para entrar no palco, fico recordando da minha cara de pastel quando Romeu, me olhava com olhos de reprovação.
Segundo ele, eu não era linda o suficiente para ele me vender ou doar a algum grande chefe ou família mafiosa, fazendo assim uma bela transação comercial. Eu sabia que era bonita, sabia me transformar numa mulher fatal, mas não era o suficiente pra ele.
Com o tempo e o aprendizado, passei a ser o maior trunfo e o pior pesadelo do senhor Romeu Esposito.
Matei por anos para ele. Com as mortes que carrego ele ficou muito bem visto e saiu da posição de associado, para soldado. Algo raro para alguém não nascido na máfia, mas seu desejo era ir além.
Eliminar minha mãe e me perder foi um risco que, ele calculou mal.
Como disse, eu era bonita, pequena, simpática e sabia me tornar em uma mulher fatal, mas não tinha virado um lindo cisne como ele queria. As características da minha mãe brasileira, se sobressaiam as do sangue italiano. Tinha bunda e seios fartos. Olhos e cabelos negros como a noite. Minha pele era um tom bem mais escuro que a dele, gostava de pensar que me parecia com uma índia. E minha baixa estatura, não me ajudava muito, na opinião dele.
Era uma bela morena na opinião de muitos, mas se comparada ao branco da pele de Romeu... resumindo, eu não tinha o tom de pele certo.
Minha mãe era filha da mistura de índios com espanhóis, então minha mistura era bem justificada. Mas Romeu não pensava assim. Pra ele eu tinha que ser branca de olhos e cabelos mais claros, como os dele que eram quase loiros.
Mesmo assim, isso não o impediu de tentar me vender num casamento, há tempos atrás.
Nesse dia, eu descobri que minha mãe, já estava morta havia dois meses. Nesse dia, eu descobri que não pude me despedir, pois ela morreu enquanto eu estava fora num trabalhinho para Romeu. E quando voltei desse trabalho, ele disse que ela havia contraído uma infecção e não podia receber visitas.
Eu acreditei. Acreditei cegamente, pois nesses anos todos, não era a primeira vez que ela precisava ficar isolada.
Mas nesse dia, a pequena porção de esperança e bondade que havia em mim morreu. Nesse dia eu mostrei a face do monstro em mim, a parte em mim que herdei dele e que só usava no meu trabalho. Neste dia, eu toquei o foda-se e matei todos que consegui...
E depois fiz o que aprendi com minha mãe... fugi.
Óbvio que não foi fácil assim. Realmente não foi. Mas nada nunca é.
Sabe como foi? Sem nada mais a perder e como uma boa rebelde que sou, me recusei a casar e ainda por cima ri na cara do velho russo.
Sim. Foi uma burrice das maiores, porque ao que parece os amigos do Romeu não aceitam bem um não e se for acompanhado de risos, a coisa piora.
Rolou uma pequena matança, alguns russos importantes foram mortos, outros poucos envolvidos da máfia italiana que estavam de conluio com Romeu passaram dessa pra melhor, coisas assim.
Meu adorável pai, não quis deixar testemunhas da minha loucura e da traição dele. Por que obviamente, se alguém saísse vivo dali, a máfia italiana saberia e ligaria os pontos.
Logo, Romeu tratou de se certificar que todas as pessoas que pudessem depor contra ele, sobre o ocorrido morressem ali, por mim ou por suas mãos.
E para deixar tudo bem enterrado, colou fogo em tudo. Em todas as provas e pessoas que poderiam depor contra ele.
Mas assim como ele sempre tinha alguém atento a tudo, a máfia também tinha algum informante que se safou do fogaréu e da matança.
Não sei como, consegui tirar o Takeo daquele mar de fogo sem Romeu ver. Deixei suas coisas pessoais em outro corpo. Joguei ele num carro e saí.
Depois de um tempo, Romeu soube que eu estava viva. Ele também sabia que a "família" o estava caçando, porque ele tinha muito o que explicar. Mas conseguiu fugir de mim e da máfia.
De lá pra cá o seu esporte preferido é fugir da máfia italiana e me caçar.
Sim... sou caçada.
Acha que ele está atrás de mim porque quer fazer as pazes??? Claro que não.
Ele foi jurado pela sua família Basile. Acusado de traição, conspiração, entre outras coisas. Tudo porque trouxe os russos para dentro da máfia italiana. Agora ele não tem mais família, ele não tem amigos, não tem nada. Suas tentativas de se justificar acabaram com seus mensageiros mortos e pendurados em frente as suas muitas casas.
Agora, meu querido papai quer vingança. E desse sentimento eu entendo.
Eu tenho consciência que se ele me acha e eu dou mole, morro. Mas não vai ser agora, espero que não seja hoje.
Então é melhor eu me concentrar, entrar no palco, curtir e agradecer pelo dia de hoje.
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Mulheres Poderosas I - Donnatella
RomanceMuitos acreditam que mulher é o sexo frágil. Se você pensa assim está redondamente enganada. Mulher é a Fênix que renasce dia a dia em todas nós. Para Donnatella não foi diferente, passou uma infância fugindo e teve sua vida roubada por aquele que...