Meu Deus... Quanta merda de uma vez só.
Ou Ethan era muito burro, ou mentia muito bem. E aquela história da sua família... agora não tinha mais dúvidas de que era um vespeiro, dos piores e mexia com eles.
_ Que porra foi essa? O que deu em você para querer machucar meu irmão Manu?
Luna me encostou na parede e soltou o verbo.
Deixei-a falar. Já tinha entendido que quando ela estava nervosa, estressada o melhor era deixá-la falar e esvaziar. O problema disso é que ela era bocuda. Imagine se alguém a pega e ela desanda a falar tudo o que sabia... eu estava muito ferrada. Precisava me preparar para zarpar. Quando ela se acalmou, eu expliquei.
_ Olha, eu realmente dei mole. Não queria xeretar a vida de vocês. Terminei as planilhas das entregas e vi a pasta sem nome. Como tenho essa coisa por arrumação, abri ela para ver o conteúdo e nomeá-la. Não foi de propósito. Eu juro.
_ Eu sei. Só me assustei na hora que vi você sobre ele. Achei que vocês estavam tendo um lance... Até ia sair, mas aí vi a navalha e seus olhos de quem estava pronta pra matar...
Ela tinha razão, existe algo em mim, que quando atinge o ápice, eu fico no modo morte súbita. Dificilmente vejo uma pessoa quando estou assim, tudo que eu enxergo é um alvo a ser eliminado. Ainda bem que a Luna entrou na hora certa... e o que seria esse tal de lance, que ela cismou...
_ Eu tenho problemas com alvos eu sei, peço desculpas..., mas o que seria esse tal de lance? De onde você tira essas coisas?
_ Ahh tá. Acha que não percebo como você fica atrapalhada quando está perto dele? Ou como ele baba por você, quando está no palco? Ou como você evita ele? Você não tem medo de nada. Homens em geral, você trata feito nada. Não importa o tamanho ou modelo, pra você são todos iguais. Eu vi isso com alguns homens aqui da boate, eu vejo isso todos os dias que, você dança naquele palco. Mas o Ethan... ele te incomoda. Muito. Você fica estranha. E olha que eu nem te conheço tanto assim. Mas se quer saber o Takeo também notou. E quanto ao meu irmão...ele nunca foi atrás ou quis saber mais de uma garota, mas de você ele quer...
Respirei fundo. Isso era muito. Informações demais. Eu disse que ela era bocuda. Primeiro... aquele pedaço de homem interessado em mim, era algo a se pensar. Segundo... aquele hacker inteligentíssimo interessado em mim, era algo a se evitar.
Claro que eu sabia do trabalho paralelo dele e era por isso que não tinha investido nele. Minha obrigação era saber o terreno em que estava e se o terreno fosse feito de areia movediça, melhor nem passar perto.
Eu tinha que ter material para trabalhar caso precisasse, saber o tipo de pessoas que nossos empregadores estavam envolvidos era algo primordial, pra ficarmos mais tranquilos no lugar.
Suspirei. Medidas precisavam ser tomadas. Era uma pena. Eu gostava daqui, gostava deles. Eram uma família, gostaria que fossem da minha família. Pareciam um porto seguro, se protegiam.
Parecia... Infelizmente para mim não poderia ser mais, mas talvez T ficasse bem aqui, entre eles.
_ Primeiro, eu não fico incomodada não. - Digo. _Eu não... sei lá. E depois ... ahh foda-se. Para com essa história. Eu vou embora porque já deu meu horário. Da uma chave de perna e fica com o T logo. Você tem menos de uma semana. Mostra pra mim que você e o Lorenzo vão cuidar dele. Porque meu tempo aqui está chegando ao fim. E nenhuma palavra... com ninguém, okay. Aliás deveria tentar não falar quando está nervosa.
Sai de lá pensando nos prós e contras em deixar meu amigo/irmão pra trás. Eu via como ele adorava a liberdade que tinha ali. Ele se dava muito bem com a Luna, idolatrava e era fiel a Lorenzo e vivia querendo aprender truques com Ethan. Esse tipo de fidelidade T só tinha por mim, Mia e Kim. Acho que ele, só não se permitia mais, porque não sabia quanto tempo nossa estadia ali iria durar. Nós geralmente ficávamos, de um a dois meses no mesmo lugar e ali estávamos a seis meses, quase sete.
Eu tinha que conseguir um trunfo importante, uma moeda de troca. Qualquer coisa. Eu precisava que a máfia italiana me desse a oportunidade de me explicar. Claro que eu sabia que, as chances que tinha de sair viva de lá, seriam mínimas. Mas se eu conseguisse que eles ficassem do meu lado, chegar ao Romeu seria bem menos complicado.
Eu costumava fazer expedições sem o T. Ficava três a quatro dias longe, em busca de pistas do dito. Sem ele era sempre mais fácil. A logística de se proteger era uma e a de proteger alguém era outra, algo bem mais complicado. Não que T não tivesse condições de se proteger sozinho. Ele tinha, era tão bom quanto eu quando estava no modo ataque. Mas essa, não era a vida que ele gostava. T gostava da parte de viajar, conhecer lugares, pessoas novas. Eu via Lorenzo contar pra ele coisas e aventuras da época de faculdade e T parecia se encantar cada vez mais por uma vida « normal ». E o fato de colocá-lo em perigo novamente, não era algo que me agradava. Matar alguém para ele, era algo que torturava sua alma. Depois, ele já estava morto aos olhos de todos e tinha a chance de conseguir uma vida diferente, longe daquela sujeira toda.
Já eu estava ferrada mesmo. Era matar ou morrer. Ou matar e viver. Viver o momento. Bem estilo Carpe Diem. E eu já tinha me conformado com essa ideia.
A decisão estava tomada. Eu iria à caça. E iria deixá-lo. Ele não precisava saber que eu ficaria mais tempo dessa vez... ou que talvez não voltasse.
Fui direto para a quitinete que tinha com o T no beco da boate. Ter tudo perto e as mãos, facilitava o pouco trânsito. A pouca locomoção era perfeita para evitar câmeras. Conhecer bem o local onde você está, é importante para saber quais as suas rotas de fuga.
T ainda estava na boate. Além do serviço de segurança e ser um dos « homens » do Lorenzo, ele cuidava da segurança de Luna sempre que possível e ficava com ela até que ela estivesse segura em sua casa.
Aproveitei para pegar passaportes e dinheiro. Tinha um sistema de locação de armários e caixas postais onde colocava documentos, disfarces e dinheiros em cada canto dos países e cidades que pudesse. Nada muito exorbitante, pois se fosse descoberto não faria falta, mas o suficiente para um momento de desespero. Tinha uma empresa fantasma que fazia esses pagamentos de locações, entregas e mantinha outras propriedades, nada que ligasse a mim. Na verdade, estava no nome de solteira da minha mãe. Mas depois de tantos nomes, era difícil alguém lembrar o verdadeiro.
O fato é que enquanto a empresa funcionasse o esquema estaria de pé. T conhecia o esquema, ele achava cofres bancários mais seguros. Pra mim a questão não era assegurar o conteúdo, mas sim o acesso. É claro que o conteúdo era importante, mas o acesso fácil e rápido era muito melhor. Com um moletom e um capuz, eu ia a um armário num posto postal e pegava o que precisava sem ser notada, mas no banco não conseguiria ir assim, chamaria muita atenção.
Comecei elaborar os preparativos para minha ida. Seria na terça. A boate ficava fechada de segunda a quarta. Só trabalhos internos. Então eu trabalharia hoje e amanhã normalmente. Amanhã não, hoje e domingo. Já era manhã de sábado. O dia já começava a clarear. E eu precisava descansar. Dançaria mais cedo hoje. Guardei novamente as coisas, verifiquei minha arma debaixo do travesseiro e me joguei na cama.
Apesar da decisão estar tomada, eu não estava feliz. Nunca fiquei tanto em um lugar porque quis e dessa vez eu parecia presa, sair estava me dando uma dor no peito. Não só por deixar meu irmão para trás, mas por deixar pessoas que eu queria que estivessem sempre na minha vida. Fechei os olhos quando ouvi T entrar. Não queria discutir nada agora, precisava tentar relaxar, ficar tranquila um pouco. Deixar a ideia assentar e aceitar que esse era o melhor caminho, a melhor escolha. E que não era eterno, tudo passava.
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Mulheres Poderosas I - Donnatella
RomanceMuitos acreditam que mulher é o sexo frágil. Se você pensa assim está redondamente enganada. Mulher é a Fênix que renasce dia a dia em todas nós. Para Donnatella não foi diferente, passou uma infância fugindo e teve sua vida roubada por aquele que...