Capítulo 11: Relembrar

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     Dragomir havia passado o dia inteiro em busca de pistas sobre quem havia roubado o banco de Nova Zaradi, apesar de ter certeza de que sabia quem havia cometido o crime, ele ainda precisaria provar e encontrá-los, e isso não seria uma tarefa fácil. Revirou documentos, jornais, interrogou criminosos e contatou informantes, nada, ninguém sabia de nada, só lhe restava uma opção.
     Durante a madrugada, reuniu seus itens e se equipou, saiu pelas ruas da cidade, agora escuras e vazias, elas causavam uma presença totalmente diferente, de dia, era alegre e movimentada, porém, durante a noite, era sombria e triste. Dragomir não podia deixar de notar os olhares tortos em sua direção, das poucas pessoas que haviam nas ruas, muitas lhe eram familiares.
     Continuou a caminhar, imponente e de cabeça erguida, atravessou esquinas, vielas, becos e ruas imundas, até parar na frente de um estabelecimento. O lugar fedia a hidromel de origem no mínimo questionável, haviam algumas pessoas escoradas próximas à entrada do local, acima da porta, uma placa ligada a uma tora de madeira dizia "Bar do Anão Empinadeiro".
     — Odeio esse lugar — sussurrou Dragomir. Abriu lentamente a porta da taverna e entrou, no mesmo instante, a multidão dentro do lugar se virou para olhar quem havia chegado, apenas para exibirem expressões de raiva ou nojo. Dragomir continuou caminhando até chegar ao balcão da taverna, que ficava no centro do lugar, tinha um formato circular e vários bancos ao seu redor, Dragomir não se sentou.
     — Você sabe que não é bem vindo aqui, né? — disse o taberneiro, ele não possuía um dos olhos e seu nariz era torto — Onde está a Anília? — disse Dragomir — Não sei, agora saía da minha taverna — respondeu o taberneiro, virando-se de costas para Dragomir — Onde ela está? — Perguntou novamente, dessa vez com um notável tom de raiva em sua voz — Escuta aqui amigão, eu acho melhor você sair daqui ou vai aprender a se por no seu lugar! — disse o taberneiro, se virando raivosamente para Dragomir.
     Todos da taverna se levantaram, o clima ficou pesado, Dragomir os encarava e eles encaravam Dragomir. Subitamente, Dragomir escutou o som de algo se movendo rapidamente atrás de si e logo se moveu para o lado, desviando de uma adaga que iria lhe acertar. Tomado pela raiva, Dragomir agarrou a cabeça do humano com a adaga na mão e a bateu contra o balcão da taverna, em seguida, arremessando o homem em cima de um segundo que partia para cima de Dragomir.
     Nesse momento, um homem alto e musculoso agarrou Dragomir por trás, prendendo seus braços enquanto um elfo se aproximava com uma espada curta, quando desferiu o golpe, Dragomir chutou o rosto do elfo, o derrubando em cima de uma mesa e estilhaçado as garrafas que haviam em cima dela, em seguida, Dragomir cabeceou o homem atrás de si com tamanha raiva que conseguiu escutar seu nariz se quebrando, assim conseguindo se libertar do agarrão.
     Quando Dragomir estava prestes a socar outra pessoa na multidão, todos ouviram a porta se abrindo novamente — É sério isso? O que isso? Uma escola lotada de crianças? — ecoou uma voz feminina — Saíam logo da frente! Eu quero beber até desmaiar — continuou. Toda a multidão se afastou, criando um corredor que levava até a porta de entrada, onde havia uma mulher de cabelos escarlates e roupas de couro — Não é possível, você? Aqui?! — disse Anília.
     Dragomir e Anília saíram da taverna, alguns homens tentaram impedir que o meio-dragão saísse, porém, com um simples olhar de Anília, todos retornaram para seus lugares. O casal se afastou do lugar, virando algumas esquinas e adentrando vielas — Agora me diz, o que você tá fazendo aqui? — disse Anília, raivosa — É bom te ver também, Anília — disse Dragomir — NÃO, não me vem com "é bom te ver", é por culpa sua que estamos aqui! — vociferou Anília, furiosa — Eu sinto muito, eu realmente não queria vir para cá, porém, o meu trabalho é mais importante — disse Dragomir — Claro, sempre foi! Eu já sei disso! — respondeu Anília — Vou ir direto ao ponto, você sabe algo sobre o roubo ao banco? — disse Dragomir. Anília o encarou incrédula, como se acabasse de receber a notícia mais mirabolante da história — Tá de brincadeira né? Não é possível que você acha que eu vou falar alguma coisa — disse Anília — Por favor Anília, eu preciso da sua ajuda — disse Dragomir — Agora precisa de mim né?! Faz anos que não nos vemos, e quando finalmente você vem falar comigo, é pra pedir informação — disse Anília.
     A dupla permaneceu em silêncio, os segundos pareciam horas — Eu sinto muito que as coisas tenham acabado daquela form, Anília, precisava acabar — disse Dragomir, se aproximando — Droga, seu desgraçado — respondeu Anília, tão baixo que quase sussurrava — Me perdoe por incomodá-la, vou arrumar outra maneira de encontrar pistas — disse Dragomir, caminhando para longe de Anília, que permaneceu parada.
     Dragomir continuou a caminhar pelas ruas, refazendo toda a cena do roubo no banco e tentando lembrar de algum lugar específico que tinha ficado em seu passado. Apesar de inúmeras tentativas, não conseguiu nada, então decidiu retornar para casa.
     Ao chegar em casa, retirou sua armadura e guardou sua espada embainhada, seguiu para o banheiro e tomou um banho quente, sentia que algo dentro dele necessitava daquele momento para refletir, para relembrar, para viver. Ao sair do banheiro, se vestiu e deitou em sua cama, não conseguia pregar os olhos para dormir, algo dentro de seu peito o mantinha acordado.
     De repente, ouviu batidas na porta de sua casa, e se viu caminhando rapidamente, como se estivesse ansioso — Já vai — respondeu ao ouvir mais batidas.
     Ao abrir a porta, sentiu algo que não sentia havia muito tempo, seu corpo se aqueceu como se estivesse próximo a uma fogueira, o toque dos lábios que há tanto tempo não sentia, era demais para ele, não conseguiu se controlar e foi indo às cegas para seu quarto.
     Nenhum deles iria passar aquela noite sozinhos.

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