Capítulo 19: Uma Sombra, Parte 1

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     A cidade era belíssima, as casas e prédios eram feitos do mesmo mármore branco dos muros externos, porém, eram adornadas com gravuras verdes representando, plantas, animais, rios e montanhas, como se toda a arquitetura da cidade fosse feita como uma bela e longa tapeçaria, que demonstrava diversas paisagens diferentes.
     Não só elfos habitavam Iylvien, dentro de seu território, também haviam diversos pássaros de tipos variados, alguns até mesmo de raças há muito extintas, todos eles possuíam cores e tamanhos diferentes, dando ainda mais cor para a cidade.
     — Como pode existir tamanha beleza e ninguém saber sobre ela? — questionou Amis, fascinada com a primeira cidade totalmente élfica que via em sua vida.
     — Eu tive a exata mesma reação que você, irmã — disse Björn, caminhando ao lado de Núlian — Nunca cheguei a contar para você sobre este lugar, e por isso eu peço desculpas, mas o chefe da cidade prefere que ela permaneça escondida do mundo lá fora — completou.
     Amis não respondeu, ainda permanecia encantada com a visão das casas se mesclando ao tronco de árvores e dos belos pássaros voando acima de sua cabeça.

     — Não é algo recorrente, mas vez ou outra recebemos a visita de outros elfos, o que nos faz ter que ter a nossa disposição algum lugar para os visitantes ficarem — disse Núlian, parando e se virando para o grupo após um tempo de caminhada — Por isso, vocês podem ficar na cidade, nós temos algumas moradias vagas no topo da Grande Árvore, podem ficar com elas pelo tempo que permanecerem aqui — completou.
     — Ficamos muito agradecidos, senhor Núlian, muito obrigado pela hospitalidade, prometemos não abusar dela — disse Dragomir, fazendo uma rápida reverência ao elfo.
     — Não se preocupe senhor Dragomir, você, seus irmãos e o seu amigo Amir sempre serão bem vindos aqui — respondeu Núlian — Com sua licença, Björn, você pode acompanhar-me por favor? O chefe vai querer saber da sua chegada — completou.
     — Mas é claro, posso aproveitar para te contar as boas novas — disse Björn, seguindo o elfo para longe do grupo.

     Algum tempo se passou, e todos do grupo subiram a enorme árvore que cobria a cidade e escolheram uma casa para ficar, apesar de simples, ela não deixava de ser elegante e aconchegante, possuía sofás brancos e almofadas esverdeadas como as folhas da grande árvore, grandes janelas circulares deixavam passar a luz do dia, assim como também serviam como local de descansos para as aves que sobrevoavam a cidade. Hakon era constantemente visto acariciando e até mesmo conversando com essas aves, em especial, uma coruja de penas negras, ela era alta e parecia que suas penas formavam uma coroa em sua cabeça.
     Amis estava do lado de fora da casa, em uma sacada, olhando para a bela cidade, mas dessa vez, algo parecia perturbar sua mente, a deixando inquieta.
     — Ei, irmã, o que aconteceu? Você parece preocupada — disse Dalibor, se aproximando da jovem elfa.
     — Ah, Dalibor, desculpe, não havia percebido você aí — respondeu Amis.
     — Que bom, isso quer dizer que eu sou bom no que faço — disse Dalibor, dando suaves risadas e as provocando também em Amis.
     — Mas, é sério, o que te incomoda? — questionou Dalibor.
     Amis suspirou por um breve momento, e então, virou seu rosto para o de Dalibor.
     — Eu me pergunto, há quanto tempo esta cidade existe aqui? Escondida de todo o mundo — disse Amis, com um tom pesaroso em sua voz — Sabe, muitas vezes, no meu trabalho como médica ou simplesmente por ser elfa, eu ouvi pessoas dizerem que desejavam alongar suas vidas — completou.
     — Acho que já sei onde você quer chegar — disse Dalibor, escorando-se na beirada da sacada.
     — Isso é algo que eu realmente não consigo entender, por que alguém iria querer viver tanto? — disse Amis, virando seu rosto novamente para a paisagem da cidade — Muitos dizem que os elfos e outras raças possuem uma benção por causa de sua longevidade — completou.
     Dalibor apenas permaneceu em silêncio, sentia que Amis precisava de alguém que a escutasse.
     — Uma vida praticamente eterna, não é uma benção, e sim uma maldição — disse Amis, seu olho começava a se encher de lágrimas — Imagine-se nessa situação, você vai ver todos que você ama, morrerem, vai ver os filhos dessas pessoas morrerem, e também vai ver os filhos dos filhos dessas pessoas morrerem, em um loop praticamente infinito — completou, com as lágrimas já escorrendo pelo seu rosto.
     Dalibor continuou em silêncio, apenas se aproximou de Amis e a abraçou, sem dizer mais nada. Amis retribuiu o gesto, soluçando no ombro de Dalibor.



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