Capítulo 38: Luto

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     Amir estava…
     Morto.
     Aquele que fora seu melhor amigo…
     Aquele que fora seu protetor em tantos perigos…
     Aquele que podia ter sido algo mais…
     Estava morto.
     O corpo do enorme homem que um dia fora seu amigo, agora não passava de um amontoado de sangue.
     E lâminas.
     Lâminas perfuradas em sua pele.
     Rasgando-a.
     Uma enorme poça de sangue havia se formado nos instantes que se passaram, talvez minutos, talvez horas.
     Björn não se importava.
     Amir estava morto.
     E nem sequer conseguiu dizer suas últimas palavras.



     Quando Amis finalmente conseguiu alcançar Björn, já estava extremamente cansada. Seu irmão havia escapado do abraço e corrido como o vento, Amis nunca tinha visto ninguém correr tão rápido quanto Björn havia corrido naquele dia.
     Naquela noite.
Ao virar mais uma rua, Amis finalmente o encontrou, ajoelhado, lágrimas descendo sob seu rosto como uma cachoeira, e em em seus braços…
     Pelos deuses…
     Os braços de Björn estavam ao redor da cabeça ensanguentada de Amir, sob o colo do irmão jazia o enorme corpo musculoso do meio-gigante, banhado em sangue. Faltava-lhe um dos braços, diversas lâminas de aparência espectral haviam perfurado sua carne.
     Tanto sangue.
     Amis se perguntou como era possível tantas lâminas perfurarem tanto um mesmo corpo. Precisou se apoiar sob uma parede para não cair antes de dizer:
     — Björn?...
     — Ele está morto, Amis — respondeu o irmão, entre soluços e lágrimas — Morto!
     Amis avistou ao final da rua, uma outra figura, caída no chão, uma longa barba grisalha caindo sobre o corpo coberto em uma armadura de batalha. A elfa deu alguns passos na direção do irmão e se ajoelhou ao seu lado, o manto sendo encharcado por todo o sangue de Amir.
     Sem palavras a dizer, Amis apenas abraçou Björn, fazendo o irmão repousar a cabeça em seu ombro, os sons dos soluços e fungadas sendo abafados. Suas mãos ainda permaneciam sobre o rosto do meio-gigante, que estava em uma expressão calma e de olhos fechados.
     Os soluços pareciam não ter fim.

     Núlian usou o que lhe restava de sua magia para erguer os escombros que o tinham soterrado, em uma fração de segundo, Amir se libertou e o jogou para muito longe.
     Precisava se apressar.
     Björn estava sozinho contra Amir.
     Contra Amir não. Contra aquela coisa que o tinha tomado.
     Núlian nunca tinha visto nada como aquilo, nem mesmo os Espectros da Morte lhe causavam aquela sensação.
     Medo.
     Apressado, Núlian correu pelas ruas da cidade, a perna esquerda latejava a cada passada, tinha sido esmagada por diversos escombros, Núlian teria sorte se conseguisse caminhar direito em menos de um mês.
     A caminhada foi lenta e dolorosa, mas após algumas viradas de esquinas, Núlian se deparou com Vadrik sentado no chão, com as costas apoiadas na parede de uma casa. O corpo do elfo ancião estava tão encharcado de sangue quanto o de Núlian, mas uma expressão de alívio estava clara em seu rosto.
     — Não teve outro jeito, Núlian — sibilou Vadrik.
     Núlian levantou o rosto para olhar a rua, preocupado.
     Amir estava morto. E Björn estava ao lado corpo, com a cabeça do meio-gigante repousando em seu colo. Núlian se sentou ao lado de Vadrik, aliviando a dor na perna.
     — Deveria ter ficado onde estava — afirmou Vadrik — Sua perna está um horror.
     — Não podia ficar lá parado enquanto Björn corria risco de vida — respondeu Núlian entre suspiros.
     — Seu amigo está vivo — respondeu Vadrik — Mas não graças a você, devia ter matado aquela coisa quando teve a chance!
     — Eu sei! — respondeu Núlian — Eu sei…
     — Enfim, vamos, é hora de se levantar — Vadrik se apoiou em um dos joelhos para de levantar, grunhindo de dor no processo — Temos que fazer a contagem de corpos
     Núlian encarou o elfo ancião por alguns segundos antes de dizer:
     — Certo.

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