Capítulo 26: Despertar

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     Bentley havia passado vários dias ansioso, andando de um lado para o outro, sem pensar em mais nada além de quando ele poderia ir buscar sua nova espada. Hoje não havia sido diferente, ele andava em um corredor dentro da casa que estava morando, Núlian havia o deixado com uma caneca e uma chaleira, que estava cheia de um chá calmante, a chaleira havia sido enfeitiçada para encher a caneca sempre que Bentley desejasse.
     — Disseram-me que você está bastante ansioso — disse uma voz familiar para Bentley, assustando-o — Se acalme, rapaz — disse O Mentor.
     — Eu não sei se consigo — respondeu Bentley — Como chegou até aqui? — questionou.
     — Boa pergunta, Núlian pediu para que alguns guardas me trouxessem para cá — respondeu O Mentor — Mas falemos do que importa, seu auxiliar está pronto — declarou.
     Bentley abriu um sorriso, ele estava muito animado com a ideia de pelo menos conseguir caminhar sozinho novamente.
     — Pois então, onde está? — questionou Bentley.
     Bentley não ouviu resposta falada, porém, escutou o som da lâmina sendo retirada da bainha, mas algo chamou sua atenção, ele escutava um zunido metálico, não conseguia identificar que som era aquele, nunca o havia escutado antes.
     — Aqui está — disse O Mentor. Bentley escutou passos lentos vindo em sua direção. Ele tateou seus arredores até encontrar O Mentor, quando conseguiu, procurou seus braços e, em seguida, as mãos. Enfim, seus dedos encontraram o frio da lâmina, o zunido havia ficado um pouco mais alto, ele passou os dedos pela lâmina cuidadosamente até encontrar o cabo, e então, a empunhou.
     Bentley virou-se de costas para O Mentor, e então balançou a lâmina em uma rápida sucessão de golpes, o som do corte era baixo e agradável, e a lâmina era leve.
     — Ela está perfeita! — exclamou Bentley, alegre.
     — Ótimo, agora sente-se, hora de se sintonizar ao seu Auxiliar — respondeu O Mentor.
     Bentley sentou-se, instintivamente pôs as pernas uma sobre a outra, e a lâmina embainhada acima delas.
    — Quando estiver pronto, feche seus olhos e se concentre no peso da lâmina — disse O Mentor. Bentley seguiu o comando, e como se já o tivesse feito outras vezes, ritmou sua respiração e focou sua atenção no peso da lâmina sobre suas pernas.
    Bentley sentiu o chão abaixo de si sumir, ele se sentia jogado no ar, somente ele, o vazio e a lâmina. Aquele som, o som metálico veio em sua mente, se tornava cada vez mais alto, porém, não era incômodo, do contrário, soava como uma calma melodia tocando no final de uma tarde ensolarada. Bentley ficou nesse estado de transe pelo que pareciam ser horas.
     Finalmente, seus olhos se abriram.

     — Gente! — disse Björn, saltando da cama ao ver Amis, Núlian e Amir entrando no quarto. Ele correu até a escada, rápido como o vento, lançou-se em cima de Amis, que estava a frente do grupo, abraçando-a como nunca o havia feito na vida.
     — Björn! — disseram os três, espantados com a velocidade em que Björn subira a escada.
     Björn soltou-se do abraço em Amis e encarou todo o trio, em seguida, abraçou cada um, incluindo Amis, em quem deu um segundo abraço.
     — Temos muitas perguntas, meu amigo, mas agora, vamos descer estas escadas e nos sentar para que possamos conversar sem o risco de cairmos da escada — disse Núlian, exibindo um sorriso simpático em seu rosto.
     Todos desceram a escada e sentaram-se de frente uns para os outros.
     — Muito bem, sobre o quê querem saber? — perguntou Björn.
     — Primeiramente, o que aconteceu para que você fosse encontrado com tantos ferimentos na noite do ataque? — questionou Amis.
     — Ah, sim — respondeu Björn — As memórias daquele evento ainda estão nubladas em minha mente, lembro de sentir muita raiva depois de ver… — Björn se interrompeu, franziu a testa em espanto, como se acabasse de se lembrar de algo — Como estão Bentley e o Dragomir?! Lembro de ver o Dragomir sem uma das mãos, e o Bentley… tanto sangue — completou.
     — Bem, eles estão vivos — respondeu Núlian — Mas de fato, Dragomir teve a mão esquerda decepada, quanto a Bentley, seus dois olhos foram cortados, ele jamais voltará a enxergar novamente — completou, pesaroso.
     Björn permaneceu alguns instantes parado. Vivos, seus irmãos estavam vivos, mas haviam sacrificado muito para tal.
     Você possui grande poder, mas não adiantará de nada se não souber usá-lo.
     — Que bom que eles estão bem — afirmou Björn, voltando à realidade.
     — Eu falei com um amigo meu, ele irá ajudar Bentley a se acostumar a viver sem enxergar — disse Núlian.
     — Obrigado, meu amigo — respondeu Björn, voltando a ficar absorto em seus pensamentos. Ele tinha de ficar mais forte, quanto mais seus irmãos iriam sacrificar apenas para protegê-lo? Quantas feridas seriam necessárias para que ele permanecesse ileso?

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