Capítulo 30: Memórias

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     Já era anoitecer do primeiro dia de viagem até Shuri, o grupo estava dentro de uma caverna localizada entre algumas colinas. Uma luz pálida entrava pela boca da caverna, mais a dentro, uma fogueira crepitava, todo o grupo estava sentado ao redor, comendo suas rações.

     — Então, qual é o plano? — questionou Dalibor.

     — O quê? — respondeu Hakon.

    — O plano — declarou, afastando o rosto da comida — O que faremos em Shuri? Como encontraremos o nosso tio e nosso pai?

     — Essa é uma boa pergunta — respondeu Bentley — Temos que pensar em algo. Você não tem nenhum contato por lá, irmão? — perguntou a Dalibor.

     — Não — respondeu Dalibor — Shuri tem se tornado cada vez mais independente dentro de Katch, isso vale para o pessoal que eu tinha lá, boa parte não me contatou mais.

     — Decidiremos isso em um outro momento, por agora, descansem — declarou Dragomir, terminando de comer e levantando-se — Eu fico com a primeira vigília.

     Todos terminaram de comer em silêncio, em seguida, pegaram seus sacos de dormir e deitaram-se, a luz da fogueira diminuía conforme as chamas lentamente se extinguiam. Ao longe, na boca da caverna, a silhueta de Dragomir permanecia de pé, a postura ereta e o rosto direcionado para cima o faziam parecer ainda maior do que ele realmente era.

     Lentamente, todos adormeceram, com o uivar do vento batendo em seus corpos e indo até as profundezas da caverna.

     Dragomir permaneceu acordado, vigiando as colinas iluminadas pelo luar. Sua cabeça estava em um turbilhão de pensamentos diferentes, o que seria de Björn? Será que ele seria a chave para encontrar a cura para a doença que levou a mãe deles, ou ele seria apenas mais uma vítima? E seus parentes desaparecidos? Será que ainda estavam vivos?

     Essas dúvidas e preocupações inundaram a mente de Dragomir como uma hoste de soldados que dominava o campo de batalha em uma guerra. Em determinado momento, alguns minutos após seus irmãos adormeceram, Dragomir saiu e começou a caminhar ao redor de onde estavam acampados, em busca de acalmar sua mente e pensar com mais clareza. Ele sentia o vento bater em seu rosto e mover as folhas das árvores, ao longe, ele escutava o som de um pequeno riacho, banhando aquelas terras.

     Dragomir, enquanto caminhava sozinho por aquelas terras, sentiu seu corpo relaxar por completo, como se um pesado fardo sob suas costas tivesse sido retirado, sentir-se livre para respirar, por um momento, estranhou tal sensação.

     Lentamente, ele permitiu-se acalmar sua mente com a paz daquele lugar, a lua brilhava alta no céu, diversas estrelas brilhavam enquanto o céu negro da noite cobria tudo como um manto escuro. Estar ali o fez voltar a sua infância, em uma tarde ensolarada, toda sua família sentada ao redor de uma mesa, era hora do almoço, lembrou-se das risadas de todos, principalmente a de sua mãe.

     Relembrar aquele momento lhe trouxe um calor no peito, quase conseguia ver todos eles à sua frente, brincando e rindo juntos. Era como estar no paraíso, um lugar sem dor ou sofrimento, apenas aconchego e carinho.

     Aqueles momentos nunca mais voltariam.

     Com mais um sopro do vento sob seu rosto, ele retornou à realidade, ele sabia que aqueles momentos nunca mais aconteceriam, sua mãe estava morta, morta pela mesma doença que poderia atingir Björn. Seu pai estava desaparecido, e agora ele e seus irmãos estavam indo para o norte, onde estranhos avistamentos e ataques de Ínferos tem aumentado a cada dia.

     Após relembrar tudo isso, Dragomir refez o caminho de volta até a caverna, onde encontrou todos os seus irmãos dormindo pacificamente, Bentley movia-se a quase todo instante, Dalibor parecia ter encontrado a posição mais confortável de todas e adormecia levemente, Hakon também estava dormindo tranquilamente, mas era possível notar um pequeno sorriso em seu rosto.

     Ao ver aquela cena, Dragomir sorriu e teve esperança de que mesmo sem sua mãe, aqueles momentos de alegria com a família reunida poderiam voltar a ocorrer.

     Hakon foi o primeiro a acordar de manhã, a primeira coisa que ele botou foi Dragomir, sentado de costas para a parede da caverna, totalmente descoberto, sua cabeça pendia para frente, estava dormindo.

     Hakon, sem fazer barulho, levantou-se e foi até seus equipamentos, pegou uma das refeições prontas que tinha guardado consigo, mas antes de abrir, reparou em seu arco e sua aljava, escoradas em sua mochila. Parou por um momento e encarou a refeição ainda embalada, então, guardou-a de volta na mochila e pegou seu arco e colocou a aljava em suas costas e saiu da caverna.

     Algum tempo depois, retornou ao acampamento carregando o corpo de um cervo. Sem muita demora, acendeu uma fogueira e cortou em pequenas porções o corpo do cervo, em seguida, as furou com alguns gravetos pontudos e colocou sob a fogueira, virando para o lado contrário quando um já estava totalmente assado.

     Quando todas as carnes estavam assadas, os outros foram lentamente despertando.

     — Que cheiro é esse? — disse Dalibor, os cabelos ondulados bagunçados caíam sobre seu rosto.

     — Bom dia — disse Bentley em meio a um longo bocejo, levantando-se logo em seguida.

     — Bom dia, irmãos — disse Hakon — Saí para caçar algo para comermos. O cheiro da carne assada deve ter despertado vocês.

     — Caçar? — questionou Dalibor — Mas nós já temos as rações diárias.

     — Fui atrás de comida de verdade — respondeu Hakon — Vamos, sentem-se e comam, já está quase pronta.

     — Bom dia irmãos — disse Dragomir lentamente — Que cheiro bom. Foi você que caçou, Hakon?

     — Sim, agora venham logo, já está tudo pronto.

     Todos se reuniram ao redor da fogueira e começaram a comer juntos. Era uma manhã ensolarada, alguns pássaros voavam sobre eles e pousavam por perto, Hakon sempre tirava um pequeno pedaço de carne e os alimentava. Quando terminaram de comer, imediatamente levantaram-se e arrumaram duas coisas para partirem, em poucos minutos, já estavam novamente na estrada.

     — Lembrem-se, assim que sairmos das proximidades de Iylvien, partiremos para oeste até chegarmos à costa, depois rumaremos para o norte, não deve levar mais do que duas semanas — declarou Dragomir enquanto guiava o grupo.

     — Bem, alguém aqui já esteve em Shuri alguma vez? — questionou Bentley.

     — Não — responderam todos.

     — Tudo que sei sobre Shuri são das histórias que o pai e a mãe contavam e de alguns relatórios recentes dos Cavaleiros de Prata — afirmou Dragomir.

     — Bom, o que eles contam? — questionou Bentley.

     — Apesar de ainda fazer parte de Katch, Shuri já é quase totalmente independente, visto que ela se situa em um deserto grande o bastante para poder ser um país e de seu povo já desejar a independência há algum tempo.

     — Isso é tudo que sabemos? — perguntou Dalibor, tirando do caminho o galho de uma árvore à sua frente.

     — Sim, tudo. — respondeu Dragomir.

     Dalibor suspirou, frustrado, e disse:
     — Que grande preparo nós temos.

     Seguiram em viagem por mais alguns dias, conseguindo finalmente sair da floresta de Iylvien na tarde do terceiro dia desde que partiram. Hakon assumiu o papel de guiar o grupo, agora caminhando sobre planícies verdejantes que se estendiam por dezenas de quilômetros.

     Durante o entardecer do quinto dia de viagem, foram surpreendidos por um grito desesperado.

     — SOCORRO!!!

— — — —

DESCULPEM A DEMORA PRA POSTAR, DE VERDADE 🙏🏼

Estive passando por vários momentos ruins consecutivos e demorei pra ter ânimo de escrever de novo, mas agora tô melhor

Prometo que volto a postar nos dias certos

Espero que tenham gostado desse novo capítulo, até a próxima!

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