Capítulo 29: Separados Novamente

1 0 0
                                    

     Hakon, Dalibor e Björn não demoraram para chegarem até sua casa, caminhando pelas estradas luminadas por uma aurora azulada. Quando terminaram de subir o grande lance de escadas, com certo cansaço, notaram que Amis não estava lá para acolhê-los. Vendo que o local estava vazio, decidiram acomodar-se e descansarem, Hakon e Dalibor sentiam um extremo cansaço devido ao serviço prestado para a guarda de caça de Iylvien, Björn por sua vez, sentia uma forte exaustão mental, como se tivesse passado por diversos testes de raciocínio em sequência. Muito exaustos para irem até os quartos, os três irmãos acomodaram-se na sala de estar, Björn e Hakon dormiram em um dos sofás enquanto Dalibor já cochilava em uma poltrona.

     O sol já raiava quando todos acordaram, o canto dos pássaros ecoava pela casa juntamente a uma brisa suave. Lentamente, os três despertaram, ainda bocejando e esfregando os olhos.

     — Bom dia gente — disse Björn, levantando-se e se alongando.

     — Bom dia, venham, o café da manhã já está pronto — a voz de Amis surpreendeu a todos.

     Lentamente, eles conseguiram sentir o cheiro de mel e canela vindo da cozinha da casa.

     Quando chegaram até a cozinha, havia um pequeno banquete sob uma mesa simples de madeira, em duas cestas haviam alguns pães que exalavam ainda o cheiro do forno, um pouco mais ao lado, em pequenos potes e jarros, havia um pouco de manteiga, geleia e canela. Para acompanhar, algumas garrafas d'água e copos estavam dispostos na mesa.

     — Sentem-se e comam, está uma delícia — afirmou Amis após terminar de finalizar a disposição da comida e da bebida em cima da mesa. Todos se sentaram e começaram a comer, o som de pássaros cantando e da comida passando de mão em mão preencheu a cozinha.

     — Irmã, aqui tem bem mais comida do que nós quatro conseguimos comer… — antes que Björn pudesse terminar de falar, a voz de Dragomir o interrompeu.

     — Bem, que bom que a comida não é só para vocês quatro — afirmou Dragomir, já se sentando em uma das cadeiras. Logo em seguida, Amir e Bentley se juntaram à mesa, onde todos já estavam comendo à vontade.

     — Arrumem suas coisas — disse Dragomir, parando de comer por um momento. — Em breve viajaremos para Shuri, ao norte, já passamos tempo demais por aqui.

     Todos continuaram a comer por mais um tempo. Dragomir levantou-se e caminhou até Björn, fez-lhe um carinho na cabeça.

     — É bom te ver novamente, irmão.
     Dragomir dirigiu-se até a sacada da casa. Conseguia ver toda Iylvien sob seus pés, via lentamente a cidade ganhar vida enquanto a alvorada chegava e banhava a cidade em uma luz alaranjada, limpando os últimos rastros de escuridão da noite.

     Todos continuavam a comer em silêncio, após algum tempo, restaram somente Björn e Amis a mesa.

     — Irmão, tenho algo para lhe pedir — disse Amis, olhando com seriedade para Björn.

     — Pois bem, conte-me do que precisa.

     — Desde que a mãe morreu, eu estive pesquisando mais sobre a doença que a atingiu — respondeu Amis, com pesar na voz — E durante minhas pesquisas, acabei descobrindo que pessoas como você e ela, que possuem capacidade de dominar algum elemento, são os únicos atingidos por essa doença.

     — Acredito que já sei onde você quer chegar. Você quer me estudar para tentar descobrir algum tipo de cura, não?

     — Exatamente.

     — Bem, eu não vejo mal algum, apenas preciso arrumar minhas coisas e avisar os outros.

     — Ótimo — respondeu Amis — Obrigada, Björn.

     Ambos saíram da cozinha e foram arrumar suas coisas, assim como todos os outros já estavam fazendo. Após alguns minutos, todos se encontravam na sala de estar.

     — Irmãos, por favor, preciso da atenção de vocês — disse Björn, chamando a atenção de todos — Visto os eventos dos últimos dias, principalmente os relacionados à mim, eu e Amis tomamos uma decisão. Nós teremos que nos separar, eu decidi me voluntariar para ser uma cobaia das pesquisas dela em busca de curar a doença que levou a nossa mãe.

     — Eu descobri que todas as pessoas afetadas por essa doença tem relação com os tipos de poderes que Björn e nossa mãe possuem, e estou certa de que com Björn, eu conseguirei encontrar uma cura, para que ninguém mais tenha que passar pelo que passamos — afirmou Amis.

     — Fico feliz por você, meu irmão — disse Hakon, olhando para Björn, os olhos brilhantes demonstravam uma grande admiração — Iremos comemorar quando nos reencontrarmos.

     — Não podemos ir todos juntos? — questionou Bentley — Tenho certeza de que ficaríamos muito melhor se ficássemos juntos.

     — Infelizmente não, meu irmão — respondeu Dragomir, sua voz grave e imponente era sempre causadora de um espanto em todos — Sinto que estamos ficando sem tempo, temos que achar nosso tio e nosso pai e livrá-los de seja lá onde estiverem.

     — Nesse caso, eu irei com Björn — declarou Amir — Nunca nos separamos durante nossas viagens, não nos separaremos agora.

     Björn encarou Amir por alguns instantes, seus olhos brilhavam com uma admiração gigantesca.

     — Se esse é o caso, se cuidem, espero revê-los em breve — disse Dalibor, com um sorriso carinhoso no rosto.

     — Tem mais uma coisa, eu visitei a biblioteca da cidade, para pesquisar sobre uma suspeita minha, e me deparei com algo que chamou minha atenção. Uma profecia — declarou Amis.

     — E o que ela dizia, minha irmã? — questionou Dalibor.

     Amis então, recitou a profecia que encontrou na biblioteca durante a madrugada.

Quando a Lua brilhar na terra dourada
Quando o sangue de um Antigo for derramado
Quando a alma do Condenado for expurgada
Ele haverá de retornar
Aquele que domina
Aquele que reina
Aquele que mente
Quando a passagem se abrir, o fim chegará

     Ao dizer as palavras, Amis sentiu um aperto no peito e um calafrio na espinha, ela tinha o sentimento de que aquelas palavras não deveriam ser ditas de maneira alguma, não deveriam sequer existir. Ela notou que todas tiveram a exata mesma reação.

     Todos ficaram em silêncio por alguns instantes, até Dragomir decidir finalmente quebrar o silêncio.

     — Obrigado por nos avisar, minha irmã, isso de certo será útil de alguma forma — disse Dragomir — Quanto aos outros, já estão prontos para viajarem?

     Bentley, Dalibor e Hakon assentiram, com seus equipamentos e suprimentos guardados em mochilas que encontraram guardadas na casa.

      — Ótimo, partiremos agora então.
     Lentamente, todos se despediram de Amis, Amir e Björn, trocando apertos de mãos e abraços. Até mesmo Amir demonstrou admiração ao cumprimentar Dragomir quando este se despediu.

     Enquanto caminhavam, avistaram Núlian em uma das ruas da cidade, ele também os notou e caminhou em sua direção.

     — Já estão partindo? — perguntou.

     — Sim, temos que nos apressar, já ficamos tempo demais aqui — respondeu Dragomir — Perdão, não poderemos completar aquele treinamento, ficamos extremamente agradecidos pelo tempo que nos acolheram.

     — Bem, se esse é o caso, adeus, meus senhores — respondeu Núlian — Se precisarem de abrigo algum dia, Iylvien estará de braços abertos para recebê-los.

     — Obrigado.

     Assim seguiram para o portão norte da cidade. Ao olharem para trás, conseguiam enxergar ao longe, a casa onde ficaram hospedados e onde se despediram-se de Amis, Amir e Björn. Todos sentiram um aperto no peito ao deixarem aquele local que os acolheu e ajudou, agora estavam partindo para o norte, em direção às dunas arenosas de Shuri.

     Talvez para nunca mais retornar.

Os AntigosOnde histórias criam vida. Descubra agora