XXXV - "greedy"

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A estalagem naquele pequeno vilarejo estava como o inferno de cheia. E era uma merda, porque não era difícil de me reconhecer dentro da minha própria Corte. Mudei a postura e o temperamento, esperando que a capa que eu usava fosse o suficiente.

Tinha apenas um minúsculo quarto disponível. Ótimo. Feyre e eu em um espaço onde mal conseguiríamos nos mever sem se tocar.

Pelo inferno abaixo. Eu ainda pensava no que tinha acontecido aquele dia. O encontro com  Lucien, o que Feyre tinha dito, o que ele tinha dito. Eu esperava que ela estivesse bem.

E tenho certeza que trocar as roupas ensopadas era o primeiro passo para estar melhor depois do dia de hoje. Ela deveria estar exausta.

Fomos até o quarto, e merda, era minúsculo, eu mal caberia ali com as asas.

E havia apenas uma cama, mesmo eu tendo pedido duas.

— Eu pedi duas. — Disse notando onde a atenção de Feyre estava.

Aquele quarto estava gelado e nós dois ensopados depois de voar pela chuva fria não estava ajudando.

— Se não pode arriscar usar magia, então precisaremos aquecer um ao outro —
Pela Mãe Feyre, a cama já era pequena demais para que eu sozinho já estivesse tendo ideias demais. — Calor do corpo — Ela esclareceu vendo meu olhar.— Minhas irmãs e eu precisávamos dividir uma cama, estou acostumada.

Certo Rhysand, use a porra da cabeça e não estrague tudo. Para ela não é nada além de uma noite dormindo ao lado de um... amigo? Ainda não era a hora.

— Vou tentar segurar as mãos. — Disse, sem deixar de provocar.

— Estou com fome.

Certo. Ela tinha treinado o dia todo, eu era um belo idiota por não penar logo nisso.

— Vou descer e pegar comida para nós enquanto você se troca. — Feyre ergueu uma sobrancelha. — Por mais que minhas habilidades de me misturar sejam notáveis, meu rosto é reconhecível. Prefiro não ficar lá embaixo por tempo suficiente para ser notado.

Eu terminava de colocar o capuz quando notei o olhar de Feyre.

Aquele olhar que eu amava, que não era medo, era apenas... um olhar, muitas vezes de curiosidade mas... comum. Um que me aquecia, que eu gostava, desde a primeira vez que tinha a visto, eu gostava.
Era como se ela me visse como eu realmente sou, sem o poder, sem o título, sem o passado de toda merda que eu já tinha feito. Apenas... eu, Rhysand.

— Adoro quando você me olha assim. — Disse baixinho.

— Como?

— Como se meu poder não fosse algo do qual fugir. Como se você me visse realmente.

— Tive medo de você a princípio.

Sorri. Não, ela não teve, nem mesmo quando me viu pela primeira vez, quando ainda era uma humana, uma humana corajosa, que não tinha se afastado.

E por isso, eu jamais consegui ficar afastado desde então.

— Não teve não. Nervosa, talvez, mas jamais sentiu medo. Já senti o terror genuíno em pessoas suficientes para saber a diferença. Talvez por isso eu não conseguisse ficar longe.

Antes que ela dissesse alguma coisa, fechei a porta e fui buscar comida.

🌌⭐🌌

Fiquei ali apenas o tempo necessário para pegar a comida, sem pensar muitos em como seria a cozinha daquela espelunca, era o que tínhamos naquele momento.

A Corte do Príncipe SombrioOnde histórias criam vida. Descubra agora