Capítulo 11 - CONVIVÊNCIA

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Era o primeiro dia de aula do 2º semestre, um retorno que não traz tanta empolgação como o do começo do ano, quando os materiais são novos, os uniformes também. A volta às aulas de agosto não era, digamos, tão legal assim. Esses pensamentos rodavam a cabeça do nosso Goulart enquanto fazia o caminho tão rotineiro, dessa vez, no carro dos tios.

- Tia, a gente tinha mesmo que vir mais cedo?

- Bento, você sabe como é, o primeiro dia é aquela agitação toda, eu preciso me preparar, organizar as filas, dar indicações... Além do mais, você e o João sempre gostaram de me ajudar a arrumar as fichas, abrir as salas...

- Tá certo, eu entendo...

O menino batia os dedos no vidro lateral do carro num ritmo rápido, estava nervoso, voltar para a escola era também voltar para a realidade, uma realidade muito estranha, diga-se de passagem. "Eu vou mesmo ter que ver os dois juntos... todos os dias!".

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A campainha dos Soares tocava no horário costumeiro, a menina terminava o suco...

- Já vou, Luluuuu! - dizia ela enquanto corria para atender o namorado.

- Hum, melancia? - o menino brincava depois de beijar a namorada...

- Você quer suco? - a menina sorria

- Não, tô de boa... Mas... aceito beijinhos...

- Vocês dois vão se atrasar! - exclamou Gleyce que descia as escadas naquele momento.

- É verdade, Lu, vamos!

E, de mãos dadas, o casalzinho seguiu o caminho que já fazia todas as manhãs.

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Muitas pessoas ainda não sabiam do romance, então keigi foi a novidade do primeiro ano, os alunos cumprimentavam o novo casal e, claro, também prestavam muita atenção nas reações dos seus respectivos ex. O burburinho era maior na hora do intervalo:

- Pra onde você tá indo, ma?

- Pra biblioteca, João! Essa escola tá parecendo uma novela, todo mundo olhando pra mim, pra Song, fazendo brincadeirinha de mau gosto, testando minha paciência... Eu vou ocupar a cabeça, se eles quiserem achar que estou fugindo de algo, tô nem aí!

- Calma, cara... Eu vou com você!

- Vão pra onde? - era a Rogatto que se levantava de sua carteira e ia na direção dos meninos

- O Bento quer dar uma passadinha na biblioteca e eu vou fazer companhia pra ele.

- Ué, companhia por companhia... eu posso ir com o Ben... A Poliana foi na direção da cantina e estava sozinha...

- Nossa, já que você faz questão, vou deixar meu irmão muito bem acompanhado e vou pra cantina também ficar muito bem acompanhado... - brincava o João enquanto se despedia dos amigos e ia para junto de sua namorada.

- Então vamos, dona Rogatto?

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- Aqui na biblioteca é que a gente vê quanta coisa ainda precisa ser aprendida...

- Nossa, que filósofa... - brincou o menino olhando para Helena que estava do outro lado da estante.

- É verdade, ué! Eu, pelo menos, não preciso me preocupar com isso...

- Ah, não? - respondia num ar provocador...

- Não... por que tenho um professorzinho muito esperto que consegue enfiar qualquer tipo de caraminhola e teoria na minha cabeça...

Os dois riam juntos e aquela atmosfera que inventaram ia se formando novamente.

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Helena queria distrair o menino, queria que ele não pudesse ver os olhares, ouvir as risadas... Chamou atenção de alguns colegas durante a aula, mas o novo casal era novidade demais para merecer o silêncio e a discrição. Então, ir à biblioteca no primeiro dia de aula, era um esconderijo perfeito. Ninguém em absoluto queria saber de livros, mas de novidades. Ali, naquela sala, ela poderia fazer seu amigo esquecer os problemas e, de quebra, matar as saudades que havia nutrido durante todo o inverno. Era bom estar perto de Bento novamente, ela não havia colocado nome naquele sentimento, mas eu e você sabemos, Helena estava apaixonada.

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Tudo nela era atraente e, por mais que se esforçasse, não conseguia deixar de ser levado por aquela presença forte e feminina. Bento tinha seus motivos, acabara de terminar um relacionamento contra sua vontade, estava se acostumando com a realidade de ver a menina que amava junto a um de seus amigos mais queridos... Então ele não podia, não podia mesmo se apaixonar por ela. Ainda por cima, era a ex do seu irmão, todos já estavam falando dele e falariam ainda mais, pareceria uma vingança boba, um tiro trocado... Além do mais, as chances da Rogatto ter se aproximado dele para chamar atenção de João não podiam ser descartadas. 

Todos esses argumentos eram repetidos mentalmente pelo pianista naquela biblioteca. Eram repetidos porque não cair nos encantos daqueles olhos azuis e penetrantes era tarefa difícil, exigia esforço mental e quase físico. Os olhares se cruzavam entre as prateleiras, a menina fazia comentários divertidos e depois sorria como se o mundo fosse só ali... ainda tinham aqueles corredores apertados que, quando os dois andavam juntos e ela parava para ler a capa de algum livro, era impossível evitar o toque, o encostar de ombros, o perfume dela... Bento estava se segurando com todas as forças, mas nós sabemos que estava caindo.


Gente, voltei, como o prometido! Muito obrigada pelo apoio, pela leitura, votos e comentários! Me contem o que estão achando! Ôh, paredinha pra fazer a gente sofrer!


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