A manhã na Ruth Goulart tinha sido diferente do que Bento havia planejado. Ele realmente pensara que poderia terminar o que tinha começado com Helena naquele quarto na tarde anterior. Mas a menina estava diferente, monossilábica, menos risonha do que o costumeiro. Em resumo, Rogatto não deu abertura para que Bento pudesse tocar naquele assunto. O sinal de término das aulas batia e ele precisava pensar rápido. "Vai logo, Bento! É isso ou passar mais uma noite em claro!"
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- Helena, espera!
- Bento, desculpa, eu estou com pressa e...
- Não posso deixar pra outra hora, talvez eu perca a coragem - o menino segurava o pulso da menina de maneira firme, mas não chegava a apertá-lo.
- Tudo bem, pode falar. - a menina se desvencilhava, sentando-se novamente na carteira.
- Helena... sobre ontem...
- Sobre ontem não foi nada! Não aconteceu e nem nunca vai acontecer!
- Não vai acontecer?
- Não, Bento, nós somos amigos...
- Olha, Helena, eu posso ser péssimo em linguagem corporal, mas eu juro, juro mesmo que você parecia querer também. Tanto quanto eu! - o menino estava nervoso e se esforçava pra não gaguejar, tudo estava fugindo do seu controle e ele não tinha ensaiado nada parecido com aquele diálogo.
- Ben... eu assumo, eu queria te beijar... Mas é que eu não estava pensando direito, não estava colocando as coisas na balança... Talvez você não saiba, mas os nossos atos influenciam a nossa vida... Um beijo seu poderia ser destruidor!
Ele tentava entender o que a menina dizia, ela parecia estar sendo sincera, mas o que raios teria mudado naquelas horas que separavam o momento em que ele a tinha entre os braços e esse outro no qual ela o desiludia?
- Helena... eu não entendo o que mudou de ontem pra hoje... Eu ainda quero seu beijo, se alguma coisa mudou, foi a vontade que ficou ainda maior! - ele aproximava seu rosto do dela lentamente
- A gente não pode! Não pode, entendeu? - a menina o afastou com uma das mãos.
- Você falou do passado influenciando o presente... Helena, você não quer ficar comigo por causa do... João? - o menino temia a resposta, mas a pergunta deveria ser feita.
- É! É sim! Por causa do João! Satisfeito? - a menina respondia com raiva
- Helena, eu sabia! Não sei como pude achar algo diferente! É claro que você ainda gosta dele! É claro que só anda comigo pra ter notícias dele...
- Cala sua boca! - a menina não conseguia controlar o acesso de raiva - Então você acha mesmo que eu passava esse tempo todo com você por causa do João? Você não é diferente de ninguém que eu conheci nas outras escolas! Todos sempre esperam o pior de mim, Bento, e você também! Se espera o meu pior, você vai ter o meu pior!
- Então não gosta dele?
- Não! Não gosto dele, não falo com ele, não falo dele! Todas as vezes que eu e você conversamos sobre o seu irmão, foi você quem puxou o assunto! Eu não sei como tem a coragem de me chamar de interesseira! Se eu pudesse mudar meu passado, eu juro, não teria conhecido nenhum Goulart!
- Helena... me desculpa... mas é difícil pra mim também... eu me sinto inseguro com essa história toda! Me sinto inseguro porque não quero só um beijo seu... eu quero você! Eu gosto de você!
- Não repete isso nunca mais! Você não gosta de mim, eu não gosto de você! A gente é amigo e nunca vai passar disso!
- Por que você já namorou o João?
- Porque eu já namorei o João!
- Helena... eu juro que não me importo com isso... o João também me disse que por ele está tudo bem... se você gostar de mim, a gente não precisa pensar no passado... É só você não se importar! - ele segurava a mão da menina, acariciando o dorso com o dedo polegar.
- "É só você não se importar"... Você jura? - a menina era irônica - Acorda pra vida, Bento Goulart... o mundo não é um morango não! Eu já fui muito julgada, em todos os lugares! Você acha que o resto das pessoas deixam de se importar quando você não se importa? Claro que não! Vai ter sempre alguém pra lembrar, pra brincar... eu não quero isso pra mim!
- Eu acho que você está exagerando...
- Claro que acha... porque a fama só fica pra menina... "A Helena é moça de família mesmo, hein? Pega todo mundo da família"... Isso eu ouço só por andar com você, imagina se a gente... me desculpa, Bento, mas eu e você nunca passaremos de amigos!
- Se essa é a sua decisão, se você quer assim... Eu vou respeitar... Mas eu quero que você se lembre que, se dependesse de mim, a gente tava junto. Se dependesse de mim, eu estaria te beijando agora e na frente de quem quisesse ver.
- Não depende de você!
- Eu entendi!
- Ah, e minha mãe ficou um pouco grilada com a gente, então acho melhor diminuirmos os estudos agora nesse finzinho de ano... podemos estudar por vídeo chamada também...
- Tudo bem... como quiser! Eu tô saindo.
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"Nunca vai acontecer"... Aquela frase era um balde de água fria, ele chegou a preferir nunca ter se declarado e, assim, pelo menos teria a esperança da possibilidade. Mas ele disse, disse com todas as letras que queria aquela menina, o seu coração tinha voltado a se encantar por alguém, por uma garota esvoaçante, risonha e muito inteligente. E recebeu como resposta um "nunca", um "esqueça" definitivo! Como ele poderia esquecer aquilo tudo? a sensação dos corpos unidos, os olhos pequenos e azuis perto dos dele, aquela boca sempre brilhosa que causava calafrios. Como poderia esquecer as borboletas que sentia por aquela borboleta? Ele estava apaixonado e não queria deixar de estar. Talvez tivesse que manter aquela paixão em dormência... se tudo um dia muda, quem sabe o nunca também possa mudar!
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- Demorou para chegar em casa, Bento! O almoço já até esfriou!
- Desculpa, tia, não estou com fome...
- Aposto que estava com a Helena - disse o irmão sorrindo
- Estava...
- Bento, me responde com sinceridade! Você e a Helena, tem alguma coisa acontecendo?
- Não tem nada, tia!
- Eu ando percebendo uma aproximação entre os dois... será que vocês não são... mais do que amigos?
- Pra eu ser mais do que um amigo pra Helena, só sendo o melhor amigo dela! - o menino respondia resignado e ia direto pro seu quarto.
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Gente, a história do Bento tá parecida com a da Juliete né? kkkkkkk Mas vamos seguindo, Belena não é realidade, para tristeza dos dois e esperança dos Kentolovers... E a parede fica cada vez maior! Muito obrigada pelas curtidas, comentários e leituras, continuem me contando o que acham da história!
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Parede de Papel
RomanceDizem que duas pessoas, quando se amam em segredo, estão separadas apenas por uma fina parede de papel. Basta um toque ou, até mesmo, um sopro, para que essa separação se desfaça em cinzas e o amor mostre suas chamas fulminantes. Uma fanfic de Kessy...