Capítulo 9 - AS FÉRIAS DE KESSYA

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O fato de morarem separados tinha pausado a tradição de viagens dos Antunes. Primeiro, porque era estranho viajar com seu ex, segundo porque os gastos de Joana e Sérgio tinham aumentado, agora que ele pagava pensão e aluguel e ela arcava com as contas da casa sozinha. Luigi, então, estava um pouco aborrecido, mas se alegrou ao receber uma notificação da namorada.
"Kessya te adicionou ao grupo: Planos para as férias"

No mesmo dia, os dois já tinham organizado piqueniques, visitas a museus e parques, restaurantes diferentes e temáticos... São Paulo, quem diria, também era uma cidade turística.

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Kessya olhava na internet uma receita de bolo para o encontro com o namorado, quando encontrou um daqueles vídeos chamativos: "O melhor bolo para piqueniques, você precisa fazer!". Ela entrou no link rapidamente, mas a animação não durou muito.

- Minha filha, mas o que é que tem o bolo ser de chocolate? Todo mundo gosta de bolo de chocolate!

- Nada não, mãe... mas acho que prefiro fazer cookies.

- Tudo bem, eu tenho uma receita ótima no meu caderno do CLL, muito melhor do que essas receitas de internet. Vou buscar!

- Obrigada!

Kessya não quis dizer para Gleyce e, se pudesse, não admitiria nem para si mesma, mas tinha coisas que a faziam lembrar o pianista. Pior, tinha coisas que a faziam lembrá-lo e que ela não queria perder, não queria deixar de sentir, não queria... banalizar.

O bolo de chocolate lembrava Bento, era isso. Era uma de suas sobremesas prediletas, algo que sempre comiam nos dias em que assistiam As Visões da Raven e estava chovendo. Pensou se seria errado separar algumas recordações de algo que, apesar de acabado, tinha sido bom. Chegou à conclusão de que não havia problema algum, deixaria aquela série, o edredom, o barulho da chuva e o bolo de chocolate como lembranças intocáveis de um amor passado. Com Luigi, faria piqueniques, comeria cookies em parques bonitos e ensolarados, criaria novas recordações.

- Bicarbonato de sódio?

- É pra deixar fofinho, minha filha!


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Tudo estava sendo bom, aquelas duas semanas recheadas de conversas divertidas, descobertas, risadas, companheirismo tinham enchido o recente casal de certezas e alegrias. Era bom compartilharem a vida, as ruas movimentadas de Sampa, a cidade que nos deixa ser anônimos. Era uma delícia! Eles podiam tudo!

- Kessya, eu amo vocêêêê! - gritou o menino, enquanto esperavam o metrô, divertindo a namorada com o eco e com os olhares da multidão.

- Luigi, cadê toda aquela vergonha?

- Você não percebeu, Kes? Aqui, somos nós dois, mesmo em muitos!

- Engraçado, eu sempre achei isso... que na multidão é onde estamos mais sós, porque ninguém repara na gente. Mas agora somos dois contra essa multidão!

Luigi se emocionava com a menina, como Kessya era capaz de melhorar seus roteiros, ele pensava e ensaiava e ela fazia o melhor, de improviso.

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Não voltou a pensar em Bento um dia sequer, a não ser quando Poli, numa das últimas noites das férias, postou um vídeo do menino nos stories, nele Bento aparecia num pedalinho, sentado de frente para João e Poliana, que gravavam. A paisagem era incrível, o sol batia em seu rosto fazendo com que ele parecesse brilhar. Ao fundo, a voz dos amigos:

"Passeio de pedalinho aqui com os Goulart, olha esse sol, esse lago pessoal... Ah, e olha o Bentinho!... Faz pose, Ben! Isso, modelo, modelo..." dizia a menina do contente, toda entusiasmada.

"E tá solteiro, tá pom, beninas?" brincava João, imitando a namorada e, de quebra, gastando um pouco o irmão, o storie acabava em risadas dos três.


"Solteiro?. Então o lance com a Helena não havia sido sério. Talvez o Bento tenha decidido aproveitar a solteirice, se bem que não é bem a cara dele... mas as pessoas mudam... ele é um cara bonito, tem mesmo que aproveitar..." Os pensamentos surgiam uns atropelando os outros e Kessya tentava aquietá-los para conseguir dormir. Enfim, se lembrou que no outro dia teria de acordar cedo para um passeio com Luigi ao outro lado da cidade. Fez mais esforço para pegar no sono, conseguiu, enfim. Naquela noite, Kessya sonhou com um menino banhado de sol, e o menino não era loiro.

Já dizia Henrique e Juliano, recaídas existem kkkkk Obrigada por continuarem comigo, por me apoiarem e pelas leituras na nossa história! Me contem o que estão achando nos comentários, é muito bom saber!



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