Era chegada a hora de decidir se iria ou não se despedir de Bento. Kessya deixou Poliana esperando no quarto e foi tomar seu banho, prometeu que sairia dele com uma resposta definitiva. Enquanto a água morna batia em seu corpo pela pressão do chuveiro, a garota se lembrava daquele primeiro tratamento, quando ainda eram crianças. Lembrava-se da expectativa pelos telefonemas, das orações e palavras de incentivo, de como Bento sempre fazia questão de dizer que ela era a primeira pessoa a saber de cada avanço no sentido da cura.
Pensou, então, se não poderia ser assim novamente, se ela não seria o suporte, o apoio de que ele precisaria nesse ano de solidão em um lugar tão distante. Queria que Bento precisasse dela. Afinal, o que é a beleza do amor senão a certeza da constância em momentos dolorosos?
Decidiu que iria naquela festa e diria para ele que estava disponível, como sempre esteve, para ajudá-lo no que fosse preciso durante aquela fase difícil e inevitável.
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Não conseguiram esconder a festa por muito tempo, a agitação de Ruth e João, correndo com malas e bolo, com documentos e salgadinhos... Bento sacou logo que teria algum momento de despedida, mas não imaginou que ela viesse. Foi surpreendido, então, quando sentado no sofá viu a menina vindo em sua direção.
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- Helena? - ele não poderia estar mais surpreso.
- Foi só eu voltar para você arranjar um jeitinho de ir embora, não é, Goulart? - a menina sentava-se ao lado de Bento sorrindo.
- Nossa, eu estou muito feliz de te ver! Vai, me conta, como estão as coisas, a vida na Coreia, os novos amigos...
- Bentinho, hoje o assunto não sou eu... Tô muito contente pelo seu tratamento, torci muito para que tudo desse certo, meu pai me disse que é o melhor do mundo... Estou bastante esperançosa!
- Pois é... eu também... apesar do medo!
- Você tira de letra... morar fora é muito difícil, não nego, mas é emocionante também, cada rua que você entra é uma aventura, é tudo novo, tudo a ser explorado!
- É verdade...
- Mudando de assunto, não me leve a mal,mas sua festa de despedida está meio capenga, né? - ela continuava sorrindo.
- Ai, ai, Helena, você não tem jeito!
- Tô falando sério! Eu esperava que, no mínimo, estivesse metade do colégio aqui...
- Pois é, pelo visto não sou tão popular como gostaria.
- Você deixou toda a popularidade pra sua namo blogueirinha... Aliás, cadê a Kessya?
- Ah, não sei se ela vem...
- Por quê? Ela viajou, está doente?
- A gente não tá mais junto, Lena...
- Você só pode estar de brincadeira! - a menina respondia visivelmente brava.
- Aconteceram algumas coisas, depois eu conto melhor, mas a real é que eu acho que não tenho a confiança suficiente para estar do lado de uma menina que nem ela, entende?
- Não! Não entendo de jeito nenhum... Bento, você parece que tem vocação pra sofrer, não consegue aceitar nada de bom na sua vida, é o que, medo de ser feliz?
- Não é isso, Helena...
- Eu acho bom você encontrar uma desculpa melhor, porque a Kessya acabou de chegar!
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Kessya apertava firme o braço de Poliana enquanto passavam pela porta. De longe ela já tinha visto aquilo que temia. Bento e Helena, íntimos como sempre, sentados no sofá. A menina se arrependia de ter ido, queria sumir, voltar pra casa...
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Parede de Papel
RomanceDizem que duas pessoas, quando se amam em segredo, estão separadas apenas por uma fina parede de papel. Basta um toque ou, até mesmo, um sopro, para que essa separação se desfaça em cinzas e o amor mostre suas chamas fulminantes. Uma fanfic de Kessy...