Capítulo 27 - CIÚMES

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O horário de visitas no maior hospital da capital mineira começava às 14:00 e um de seus pacientes tinha bastante gente para receber. Ruth encontrou a família no saguão e passou as informações, antes que eles pudessem ver o menino.

- Bom, o Bento está bem, tá acordado, medicado e já fez as cirurgias que precisava. Os médicos acreditam que até amanhã ele poderá ser transferido para São Paulo, para continuar o tratamento perto de casa...

- Tratamento, tia? Então a senhora quer dizer que...

- Sim, João, infelizmente, as fraturas na perna levam um tempo para cicatrizar e ele não pode forçar os pés no chão...

- Ele não vai mais andar?

- Os médicos disseram que ainda é muito cedo para ter certeza, mas que... existe essa possibilidade.

João não continha as lágrimas, sentando-se em uma das poltronas da sala de espera.

- João, eu te prometo, tudo o que tiver ao nosso alcance a gente vai fazer...

- Ele já sabe que pode nunca mais andar? - agora era Poliana que perguntava.

- Sabe. Eu achei melhor contar tudo.

Kessya e Helena, sentadas cada uma em uma ponta do sofá, tentavam não se meter na conversa de família, mas sentiam o coração apertado, um nó na garganta. Aquilo era um pesadelo.

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Cada um dos visitantes tinha meia hora para ficarem no quarto. Eles então foram se organizando, ansiosos por ver o pianista.

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- Tio Otto!

- Não precisa se levantar, meu filho... Pode ficar deitado mesmo... Bento, se eu soubesse... - o homem esforçava-se para não chorar na frente do garoto, mas era triste demais vê-lo naquele quarto branco.

- Tio, ninguém poderia saber... Talvez seja esse mesmo o meu destino, não usar as pernas...

- Não fala isso, não repete isso! Eu estou entrando em contato com muita gente, hospitais, centros de tecnologia, universidades. Eu te prometo, Bento, eu não desisto até te ver andando novamente!

- Muito obrigado, tio... eu confio no senhor.

Bento tentava causar a menor impressão de dor ou revolta, pois sabia que isso magoaria seus tios, mas sentia seu coração pesado, triste mesmo. Não acreditava que pudesse se curar desta vez e sentia-se castigado.

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- Ben...10... Posso entrar?

- Entra, João!

Na frente do irmão, aquela armadura toda caía, enquanto João sentava-se na cama, do seu lado, Bento não podia controlar as lágrimas.

- Ben... eu nem sei o que te dizer, macho! Eu tô contigo, você sabe, não sabe? - o menino de cachinhos segurava forte a mão do irmão e olhava nos olhos dele.

- Eu sei, João... Mas, cara! O que é que eu vou fazer agora??? Eu já tive problema nas pernas outra vez, eu sei como é. As pessoas te olham diferente, os lugares não são acessíveis... não tem praticamente nada que a gente possa fazer sem pedir ajuda de alguém. Eu não quero isso pra mim de novo, João! Não quero!

- Vai ser só por um tempo, ma! Eu prometo! O tio Otto e a tia Ruth não vão cansar de procurar uma solução pra você e eu tô aqui pro que você precisar. Até te levar no banheiro eu levo. - o menino forçava uma risada, mas seus olhos estavam cheios de lágrimas. Também sentia que tudo era uma tremenda injustiça e queria encontrar uma forma de tirar a desolação que morava no coração de seu mano.

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