Capítulo 35 - CINZA

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O plano de Kessya estava dando certo, já era setembro e ela tinha conseguido retomar uma amizade firme com o primeiro namorado. Eles saíam juntos, conversavam no recreio, sentavam-se um ao lado do outro na sala de aula... Ela evitava ao máximo tocar no nome de Helena, mas não podia deixar de se perguntar se os dois ainda conversavam frequentemente.

Na cabeça de Kessya, ela tinha até dezembro para tomar de volta para si o coração de Bento e, então, vinha tentando ganhar intimidade e colorir essa amizade cinza.

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Bento não podia negar que estava feliz com a aproximação de Kessya, com a companhia dela. Se bem que era uma tarefa difícil conviver tanto com a menina sem poder tocá-la. Eles chegavam em setembro com um papo muito mais aberto, conversavam sobre tudo e isso era bom, porém nunca mais tocaram no assunto do quase beijo na cozinha. Para ele, a menina ainda gostava de Luigi e estava buscando maneiras de se afastar do loirinho, por isso tinha mudado de lugar na sala de aula, por isso vivia marcando programinhas, puxando assuntos, para distrair a cabeça e não pensar no mais novo casal da sala: Luimin.

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Naquele mês, a escola decidiu promover um festival para comemorar o início da primavera. Os alunos, estavam animados, ensaiavam seus números, escolhiam figurinos. Kessya, como você já pode imaginar, decidiu apresentar uma dança.

No horário marcado, naquela tarde ensolarada de sábado, o pátio da Ruth Goulart estava em polvorosa.

Como já costumeiro naquele bimestre, Kessya foi, de braços dados com Poliana, conversar com os irmãos Goulart.

- Nossa, Poli, como você está linda! - João exclamava apaixonado.

- Obrigada, amor, você também! Estou muito feliz porque vamos cantar juntos hoje, como meus pais faziam!

- Sim, vai ser pai d'égua! Estou ansioso!

- E você, Bento, qual música vai tocar?

- Ah, Poli, eu não me inscrevi... não gosto de ter que ficar pedindo ajuda para subir e descer do palco, ainda mais com aquele tanto de gente pra olhar!

- Que bobeira, amigo, com o seu talento, isso seria a última coisa que eles reparariam!

- Talvez, se todos fossem você, Alice! Se todos tivessem esse seu coração gigante... - o menino fazia carinho no cabelo da cunhada.

- E eu... eu tenho certeza de que vou surpreender vocês! - Kessya dizia enquanto tirava a mão de Bento da cabeça de Poliana e a segurava balançando de um lado para o outro e chamando a atenção do menino para si. João olhava a investida da amiga com desconfiança, ainda não gostava muito da ideia de Kessya estar voltando a ser próxima de Bento.

- Eu imagino, você não fala em outra coisa, amiga! Na roupa, no penteado, na música...

- Nossa, isso você não conta pros amigos. - Bento brincava extrovertido e caindo, inevitavelmente, no charme daquelas mãozinhas delicadas de bailarina.

- É porque estou fazendo uma surpresa, você só vai me ver na hora, Ben!

- Por quê? Você é minha noiva? - Ele nem terminava a frase e já se arrependia envergonhado, a menina à sua frente também estava vermelha.

- Pessoal, eu acho melhor a gente ir pro auditório, senão não teremos tempo nem pra apresentar, quanto mais pra fazer surpresinha. - João falava cortando propositalmente o clima, Poliana percebia, irritada, a ação do namorado.

- É, vamos. - concordava Bento, soltando finalmente a mão de Kessya para segurar as muletas com firmeza.

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