Quando outubro chegou, encontrou Bento já muito bem adaptado à rotina do hospital. Ele conhecia cada paciente da sua ala, conhecia todos os enfermeiros e seus respectivos horários, todos os médicos e plantonistas, todos os fisioterapeutas e camareiras, sentia-se, finalmente, em algo parecido com um lar.
As melhoras também era bastante visíveis, há duas semanas abandonara as muletas e estava cada vez mais seguro ao andar sem o apoio que elas lhe ofereciam. Sentia saudade de casa, dos abraços calorosos da tia, de implicar com João, de comer comidinha caseira, de estar com os amigos, por isso, a chegada de outubro era, também, uma exaltação, logo o fim de ano chegaria e, com ele, a sonhada alta.
Era cedo, porém, para pensar sobre isso, ainda precisava dedicar seu tempo aos exercícios e tratamentos.
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Kessya contava os meses sempre em "menos um". Outubro chegava e agora era cada vez mais próxima a volta de Bento. Ela fazia planos, os amigos perguntavam sobre datas e ela não tinha certeza, mas sabia que era logo. A ansiedade e a saudade eram suas maiores companhias.
Como sempre fazia, logo que chegava da aula, a menina corria para o celular para conversar com o amigo. Nos últimos dias, no entanto, algo vinha lhe incomodando bastante. Era Hannah.
A colega do quarto ao lado do de Bento parecia bastante prestativa, interessante, boa prosa...: "Ah, a Hannah me trouxe um livro maravilhoso que conseguiu com um enfermeiro", "A Hannah acabou de sair daqui, estava me contando de quando viajou para a Argentina e quase foi passear no Brasil", "Nossa, hoje o café estava muito gostoso, eu amei, mas a Hannah achou bem forte e quase não conseguiu tomar toda a xícara", "Aqui começou a esfriar e a Hannah está fazendo cachecóis para todos, falei para ela fazer um bem bonito pra eu levar pra você".
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Kessya evitou ao máximo falar dela, porque a intimidade de Bento com essa moça a incomodava bastante. Então ela não se alongava em nenhuma conversa em que o menino estivesse contando algo sobre a nova amiga... Não queria demonstrar ciúme, não queria igualar a relação que tinham com essa nova relação. Repetia para si mesma várias vezes que o que tinha com o pianista era maior do que o que qualquer outra menina conseguiria construir, ainda mais em poucos meses, mas também não conseguia parar de pensar que no hospital as pessoas estão mais frágeis e as relações que fazem costumam ser mais intensas.
Hannah estava lá, onde ela queria estar, acompanhava de perto os altos e baixos do menino do seu coração. E se toda essa ajuda e disponibilidade resultasse em algo a mais?...
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Por chamada de vídeo:
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- Ah, que bom Kess, eu fico feliz que deu tudo certo com o bingo beneficente do CLL, depois me manda as fotos, quero ver tudinho!
- Pode deixar, mando sim...
- Vou mostrar as fotos para a Hannah, ela ama essas coisas...
- É, pelo visto essa Hannah ama muitas coisas...
- Oi?
- Nada...
- Ah, já sei, vou levar o celular lá no quarto dela, talvez...
- Bento, não precisa...
- Não, eu faço questão... Ela quer muito te conhecer, a gente sempre conversa sobre você...
- Se conversar com ela sobre mim na mesma quantidade de vezes que você conversa sobre ela comigo, já é lucro... - ela falava mais baixo e Bento, que estava no corredor a caminho do quarto de Hannah, não ouvia muito bem os resmungos da menina.
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Parede de Papel
RomanceDizem que duas pessoas, quando se amam em segredo, estão separadas apenas por uma fina parede de papel. Basta um toque ou, até mesmo, um sopro, para que essa separação se desfaça em cinzas e o amor mostre suas chamas fulminantes. Uma fanfic de Kessy...