Sanduíche

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Durante as outras quatro horas de viagem para atravessar a fronteira dos dois estados eu tentei me manter sem contato algum com Apolo a maior parte do tempo, as vezes era inevitável já que aparentemente eu era uma boa companhia para ele, minhas falas irônicas não conseguiram manter o mesmo longe de mim por muito tempo.
-Se você está reclamando tanto assim eu deveria para de ficar te dando a comida dentro do carro. –Entrego a latinha do refrigerante que estava ao meu lado
-Eu não estou reclamando. –Reviro meus olhos e pego a lata enquanto ele termina de beber e volta a levar sua outra mão para o volante.
-Tem certeza que não está? –Afirma com a cabeça. –Então por que você parece com meu avô quando está falando comigo assim?
Ele me olha rapidamente e logo volta sua atenção para a rodovia em que estamos. –Eu só pedi para você ser mais cuidadosa na hora de me dar o sanduiche.
"Balela dele. " –Nego com a cabeça e mordo o meu pão junto com o recheio enquanto ouço ele continuar a falar.
-Quase derrubou tudo no chão do carro suas vezes. –Mastigo e peço com a mão para ele esperar eu mastigar antes de responder.
-Você que tem a mão furada e não me viu segurando ele bem no seu lado. –Me defendo e noto que Apolo apontou para sua boa, o que me faz desenrolar o seu pão e esticar na sua direção.
Ele pega o sanduiche junto com o papel e dá uma grande mordida, devolve para mim e continua olhando para frente, enquanto ele mastiga eu me preocupo em tomar o refrigerante.
-Eu estou dirigindo, acho que o principal é eu não bater o carro e não pegar um pão da sua mão. –Encosto minha cabeça no banco.
-Justo. –Concordo com sua fala. –Mas eu continuo não me responsabilizando se ele cair no chão. –Sinto um mal-estar na barriga e logo uma vontade de arrotar segundos depois. Solto ele e rio logo depois ao ver a expressão de Apolo. –Culpa do refrigerante.
Me inclino e entrego para ele a bebida. –Deu para ver, só não se ache muito. –Ele dá um gole grande e me entrega a lata que já estava na metade. -Minha irmã mais nova arrota melhor que isso.
-Sua irmã arrota melhor do que eu? –Dou um sorriso e logo mordo meu sanduiche, coloco a mão na frente para poder falar. –Pensei que ia falar de si mesmo e não dela.
-Lamentavelmente o talento da família se soltar arrotos foi totalmente para ela. –Me responde irônico o que me faz rir baixo. –Um desperdício eu diria.
-Por que? –Sorrio e entrego o pão novamente para ele e dessa vez tomo mais cuidado para não cair, mordo o meu sanduiche no mesmo momento que Apolo e espero a sua resposta quando coloco os dois logo depois no meu colo.
-Ela está naquela fase que tem vergonha de tudo e todos. –Fala depois que engoliu a comida. –Então os concursos de arroto dela ficaram para o passado.
-Hum, a fase temida da adolescência. –Faço uma careta ao me lembrar de como eu era na época, mas palavras da minha mãe quase que um mini demônio. –Até que ela demorou para chegar nessa fase.
Deito minha cabeça no banco e fico olhando ele. –Na verdade ela entrou com quinze anos e não saiu ainda.
-Jajá isso passa, não esquenta. –Tento reconfortar ele, particularmente eu deduzo que a mudança de infância para vida de adolescente e logo adulta foi bem pior para as garotas, então é normal.
-Eu espero. –Aponta novamente para o sanduiche e logo entrego o pão para ele comer.
-Não sei por que, mas eu estou sentindo que você está se aproveitando da situação.
-Talvez eu esteja, mas só um pouco. –Olho para ele de forma suspeita, com os olhos estreitos depois de sanduiche da sua não, o meu e o dele já estavam acabando.
-Só um pouco? –Pergunto irônica.
-Um pouco mais que só um pouco. –Concordo com a cabeça ao ouvir sua fala. –Mas a culpa não é minha.
-Pode até não ser, mas eu sei que você está adorando. –Vejo ele concordar com a cabeça e pedir o último pedaço do seu sanduiche.
-Isso eu não tenho como negar. –Pego o papel vazio assim que ele enfia tudo dentro da boca e jogo dentro do saco de plástico onde o lixo estava sendo descartado.
-Idiota. –Falo alto para ele me ouvir e só recebo meio sorriso, já que é o máximo que eu consigo ver por estar ao seu lado.
Termino de comer logo depois dele e tomo todo o resto do meu refrigerante, solto um arroto baixo e "para dentro". –Falta quanto para chegarmos na divisa?
-Acho que menos de vinte minutos. –Suspiro agradecida.
-Finalmente, não aguento mais ficar dentro desse carro. –Me espreguiço ainda sentada na cadeira e acabo bocejando. –Nenhuma viagem da minha vida foi tão longa quanto essa.
-É impressão. –Nego com a cabeça e mexo dentro da sacola com chocolate dentro e abro uma das barras, era uma mistura de ao leite com branco, na hora que eu peguei não estava com muita paciência para escolher um sabor.
-Não é. –Tento melhorar minha posição em que estava sentada mesmo com o carro em movimento. -Minha bunda está quadrada já faz uma hora e meia.
-Quadrada? –Afirmo com a cabeça.
-Pode apostar que sim. –Ele me olha rapidamente. –Não sei como a sua não está.
-Anos de experiência. –Me responde simples. –Com o tempo você se acostuma também, em Wisconsin esse tempo sentada nem vai fazer diferença para você.
Lembro que o chocolate está na minha mão então trato de abrir a embalagem e tirar uma fileira inteira. –Você quer? –Viro meu rosto para Apolo novamente e recebo um sorriso dele.
-Quero. –Abre a boca, eu quebro um quadrado e coloco na sua frente, ele apenas se inclina e logo tem ele dentro da sua boca.
-De nada inclusive. –Faço a mesma coisa comigo. –Se não fosse por mim você não estaria comendo chocolate agora.
-Sim, eu estava lá quando isso aconteceu. –Ofereço outro quadrado para ele quando o mesmo já tinha mastigado e engolido. –E obrigada.
Sorrio sem mostrar os dentes. –Agora sim.
Nós dois juntos conseguimos quase que comer toda a barra sozinhos, não me arrependo do que eu fiz.
Apolo aponta para frente, onde no final da rua alguns carros começaram a se acumular ao lado de várias tendas com algumas viaturas em volta. -Assim quando chegarmos na fronteira vão ter alguns policiais, o que é normal. -Afirmo com a cabeça e olho ele com atenção, isso parecia ser importante.
-Sim.
-Você só precisa manter a calma e não parecer que está sendo sequestrada. -Reviro meus olhos com a sua fala.
-Pode deixar. -Pego a última fileira do chocolate para comer sozinha. -Tenho uma pergunta.
Ele me olha já que o carro parou atrás de alguns outros que esperavam para ver revistados. -Pode fazer.
-Por que você está me contando isso logo agora? Quer dizer ...-Dou de até achar as palavras certas. -Não é a primeira vez que a gente atravessa uma fronteira.
-Mas é a primeira vez que você está acordada enquanto a gente atravessa a fronteira. -Torço meu nariz, era verdade.
-Touché. -Mastigo o chocolate e noto que o carro anda mais alguns metros.
-Em todo momento eu só peço que você entre na minha onda, no final sempre dá certo. -Afirmo com a cabeça depois de engolir.
-Acho que eu consigo. -Cruzo minhas pernas uma encima da outra. -Ser convincente e entrar na sua onda, não parece ser difícil.
-O script é o seguinte...-Franzo a minha testa e levanto uma das mãos para impedir ele de terminar de falar.
-Script? O que? -Ele ri baixo e vira o rosto na minha direção, o carro ainda estava parado então não era perigoso.
-Uma história pequena, precisamos seguir uma se quer que a gente se livre dessa. -Olho para ele com os olhos estreitos.
-E como isso funciona? -Levo outro pedaço do chocolate na minha boca enquanto olho Apolo.
-Somos recém noivos, e estamos indo visitar sua mãe que mora em Wisconsin para contar do noivado. -Olho para ele com um sorriso nos lábios e solto uma risada alta.
-Você não é nem um pouco criativo sabia? -Ele afirma com a cabeça. -Está copiando a vida da Emma e do Harry, que feio. -Finjo decepção, mas acabo rindo.
-Assim é mais fácil, nenhum policial vai querer parar para visitar o carro de um casal que acabou de noivar. -Afirmo com a cabeça, ele estava certo.
-Mas e a minha aliança? -Levanto a mão esquerda para mostrar meu dedo anelar vazio.
-Calma... -Apoio tira as duas mãos do volante e retira um anel do seu dedo mindinho e me entrega, era um simples e de um prateado puro. -Isso deve servir para algo. -Estava com a palma da mão virada para cima quando pego ele, coloco no meu anelar e por incrível que pareça não ficou nem largo ou apertado, coube perfeitamente.
-Fofinho. -Estico minha mão para a frente e afasto ela para poder olhar melhor, não era nem um pouco parecido com um anel de noivado, mas para enganar um policial desatento deve servir.
-Gostou? -Me olha rapidamente já que a fila de carros voltou a andar, nós éramos os próximos.
-Muito meu amor. -Respondo sua pergunta de forma irônica e logo volto a comer o chocolate. -Obrigada pelo seu anel usado.
-Faço de tudo para o amor da minha vida. -Acabo sorrindo para o mesmo enquanto ele segurava o volante com as duas mãos. -Inclusive fazer o pedido de casamento mais romântico do mundo. -Ele usa uma voz aveludada e incrivelmente sedutora, o que quase me deu uma imensa vontade de beijar ele.
Balanço minha cabeça para afastar o pensamento. -"Não Isabela, se concentra."
-Lembrasse de ser convincente. -Afirmo com a cabeça e olho para ele com um falso sorriso apaixonado.
-Pode deixar. -Coloco outro chocolate na boca quando o carro começa a andar até parar ao lado do policial, a janela de Apolo abaixa totalmente.
Nesse momento que eu me toquei que estava na frente de um policial e que poderíamos ser presos facilmente pelo roubo desse carro, sinto minhas mãos começarem a suar ao mesmo tempo que meu coração bombeia o sangue pelas minhas veias e artérias com mais velocidade por conta do nervosismo.
"Quais eram as chances de isso dar errado?" -Penso enquanto olho a expressão seria dos dois policiais que estavam do lado de fora olhando para nós dois.

Apaixonada Pelo Meu SequestradorOnde histórias criam vida. Descubra agora