Bonnie e Clyde

115 24 5
                                    

Nesse momento que eu me toquei que estava na frente de um policial e que poderíamos ser presos facilmente pelo roubo desse carro, sinto minhas mãos começarem a suar ao mesmo tempo que meu coração bombeia o sangue pelas minhas veias e artérias com mais velocidade por conta do nervosismo.
"Quais eram as chances disso dar errado?" -Penso enquanto olho a expressão seria dos dois policiais que estavam do lado de fora olhando para nós dois.
-Boa tarde senhor e senhorita, como estão? –Apolo se dirige para os dois e consegue dar o seu melhor sorriso para eles, fico surpresa pela sua calmaria e serenidade, já deve estar acostumado a enfrentar situações como essa.
Os dois encaram ele de volta e não se abalam pelo seu grande charme que se fosse dirigido a mim, me deixaria cega em poucos segundos. -Estamos bem meu jovem. -O homem mais velho fala e os dois se inclinam melhor para olhar dentro do carro, como já estava entardecendo ambos acendem uma lanterna e apontam na nossa direção à procura de algo incomum ou errado.
Tento manter minha respiração controlada para falar com eles. -Boa tarde. -Digo alto para os dois me ouvirem bem e aceno com a minha mão esquerda, na intenção de conseguir atenção e deixar a aliança destaque. -O dia está lindo não acham? -Pergunto sorrindo apesar do nervosismo, uma mulher que acabou de ser pedida em casamento gostaria de deixar bem claro a sua felicidade e o seu amor pelo noivo, neste momento me lembro da Emma e tento agir igual a ela para ser o mais convincente possível.
-Está sim mocinha. -O homem responde enquanto a mulher apenas nos observa ao seu lado com atenção. -Documentos por favor. –Pede com a mão estendida na frente do corpo, ao ouvir essas palavras do policial meu coração gela ao mesmo tempo que meu sangue.
"Fodeu." -Sorrio sem mostrar os dentes para eles que nos olhavam e espero Apolo fazer algo, me lembro das suas falas de alguns minutos atrás, então confio nele e tento ser mais descontraída para não levantar suspeitas. -"Não pareça culpada de algo Isabela, relaxa."
-Me dê só um momento para eu achar. -Ele vira a cintura para o banco de trás depois de tirar o cinto de segurança e pega sua carteira que estava jogada no banco. -Viemos de última hora então eu só joguei tudo aqui dentro, desculpa a bagunça. -Me inclino um pouco melhor para conseguir olhar eles, ver o rosto e se estavam acreditando em nós, a minha ação acaba fazendo eu me sentir intimidada pelas luzes das lanternas.
Apolo mexe dentro da sua carteira que não parecia pertencer a um bandido ou assassino. –Vocês vão para onde senhor e senhorita... -A mulher pergunta ao recolher junto de seu colega dois documentos que pareciam ser nossos, pelo menos consegui observar nossas fotos estampadas neles antes de serem entregues. -Senhor Chris e senhorita Alice? -Termina sua frase que não tinha sido completada anteriormente.
"Chris e Alice?" -Foi uma péssima escolha para combinação de nomes, logo me toco de uma coisa. -"Como caralhos ele fez isso?" -Me pergunto e sinto meu coração bater forte quando eles trocam de documentos para avaliarem melhor.
Apolo deve notar o meu nervosismo porque se vira para mim e segura na minha mão esquerda que estava no meu colo. -Wisconsin. -Entrelaça nossos dedos assim como dois recém noivos apaixonados devem fazer.
A mulher avalia nós dois. -Fazer o que? -Olho para ele e observo seu sorriso para mim, me senti confiante com o seu olhar e logo o medo (ou parte dele) se esvaiu do meu peito então aproveitei o momento de coragem para responder à pergunta da mulher.
-Visitar minha mãe. -Sorrio alegre e coloco a mão na minha boca como se estivesse ansiosa em contar um segredo. -Ele me pediu em casamento essa semana, queremos dar as novidades para minha família. -Levo minha mão direita para o braço de Apolo e passos os dedos na sua pele.
A mulher é a primeira a reagir ao que eu disse, ela sorri de forma genuína para nós dois. -Estão noivos? Meus parabéns e felicidades. -Eu sorrio novamente e olho para Apolo, como se estivesse orgulhosa do nosso casamento.
-Muito obrigada, eu achei que ele nunca fosse me pedir em casamento. -Mudo de expressão e finjo estar frustrada, reviro meus olhos como se estivesse brava com algo. -Quase três anos de namoro esperando esse dia chegar.
A oficial parecia estar muito envolvida com a nossa pequena história de "amor", só espero que não faça perguntas difíceis sobre como nos conhecemos ou coisa parecida. -E valeu a pena? –Pergunta me olhando, afirmo com a cabeça sorrindo.
-Sim, o pedido foi lindo. -Volto a afagar o braço do meu "noivo" e logo ele se vira para mim o que me faz inclinar e dar um selinho longo nele, foi algo momentâneo e que eu fiz sem pensar. Parecia o certo a se fazer no momento e que ajudaria no nosso disfarce a parecer mais real, mordo meu lábio inferior por medo da reação dele que me olhava da mesma maneira que eu fazia com ele.
Levando em conta a expressão que o Apolo carregava no rosto, o beijo roubado não foi algo que ele detestou no momento, pelo menos conseguiu esconder bem o sentimento. -Felicidades ao casal. -O homem fala o que nos obriga a quebrar o contato dos nossos olhos.
-Obrigado. -Apolo que responde dessa vez o que me deixa aliviada, não sei se conseguiria falar algo sem minha voz sair trêmula.
-Odeio ter que estragar a felicidade de vocês, mas eu preciso do documento do carro. -Continua apontando a lanterna na nossa direção e consigo ver seus olhos duros apesar da claridade.
Me preocupo por um milésimo de segundo em relação ao que ele havia solicitado, e apesar disso tento não me preocupar.
Apolo concorda com a cabeça rápido antes de responder. -Claro, eu só preciso achar ele. -Solto a mão dele e me afasto para lhe dar espaço para procurar. -Amor onde você colocou minha pasta de fotos? Eu deixei dentro dela. -Se vira novamente para olhar no banco de trás do carro igual tinha feito antes.
-Que pasta? -Pergunto, franzo a minha testa sem entender ao que ele estava se referindo. Não sei do que ele está falando.
-Como assim você não sabe? -Apolo enfia a mão dentro da mala e logo volta a deixar o corpo reto ao meu lado. -A pasta que eu pedi para você guardar para mim, lembra? -Nego com a cabeça sem realmente entender sobre o que ele estava falando. -Eu pedi para fazer isso antes de sairmos do seu apartamento. -Quando ele me olha eu notei que fazia parte do plano, do seu plano de escapar deles, lembro do que tinha me falado, para entrar na onda junto com ele então faço exatamente isso. Entro na onda e sigo sua deixa.
Faço meu cérebro funcionar e penso em uma resposta boa e rápida para o que ele tinha me dito. -Você está me acusando de esquecer a sua pasta? -Pergunto olhando para ele e mudo meu semblante alegre para um sério. -Eu tinha acabado de ser pedida em casamento. -Cruzo meus braços enquanto ele se inclina para olhar o porta luvas e apesar de sabermos que não, verificar se o documento está lá, era necessário manter as aparências para o olhar curioso dos dois policiais que prestavam atenção em cada toque e movimento nosso. -Eu não deveria cuidar dessas coisas.
-Eu só pedi para você fazer uma coisa, guardar a pasta no carro. -Tira todas as coisas de dentro de forma dramática, nada daquilo pertencia a nós dois e sim ao dono legítimo do carro.
-Você planejou tudo menos isso? -Solto um grunhido fingindo estar brava com ele e nego com a cabeça. -Não acredito que vamos voltar para casa só por sua culpa. -Falo ríspida e logo ele se vira para me responder.
-Culpa minha? -Aponta para si mesmo, eu afirmo com a cabeça ainda com a cara fechada.
Me viro para ele e aproveito para olhar os policiais durante a minha ação, na espera de saber se estamos conseguindo convencer eles a acreditar no nosso pequeno show particular. -Toda sua.
-Não acredito que me disse isso depois do pedido que eu fiz. -Dou de ombros e olho para o lado contrário como se quisesse ignorar ele e sorrio internamente ao ver que ambos estavam constrangidos com a nossa briga falsa, isso era perfeito. -Amor eu só te pedi para cuidar de uma coisa. -Ele se inclina o que me obriga a olhar para seu rosto.
-E por isso vamos ter que voltar. -Falo brava, noto que as luzes que apontavam para nós começaram a piscar o que faz a nossa atenção voltar para eles.
Continuo com meus braços cruzados. -Isso é muito vergonhoso da nossa parte. -Apolo responde baixo sem jeito e coça a nuca. -Mas a gente esqueceu o documento do carro em casa.
-Sinto muito ... -Mesmo estando constrangido pela nossa briga o polícia estava com uma expressão inabalável. -Mas sendo assim vocês vão precisar voltar para pegar eles. -O homem fala e logo a mulher bufa ao seu lado.
-Tolice Jack. -Ela diz para o parceiro. -Eles acabaram de noivar e só querem ver a família para dar boas notícias. -Fala intercalando o olhar entre nós e acaba por sorrir. -Deixa os jovens serem felizes.
-Mas essa não é o procedimento padrão, precisamos olhar todos os documentos. -Ela abana uma das mãos o que faz a lanterna balançar.
-O que de ruim esses dois podem fazer de mal? -Deixa uma das mãos na cintura enquanto olha para o homem que eu julgo se chamar Jack.
"Prefere que eu dite em ordem alfabética ou por ordem crescente? Do menos pior para o mais pior?" -Respondo à pergunta na minha mente.
-Eu não sei que essa é uma boa ideia, se o nosso superior descobri vamos cair de cargo. -O homem retruca sua fala o que me deixa apreensiva.
Começo a torcer e orar para ele ser um péssimo policial e simplesmente ignorar a lei por um momento.
-Se você não contar eu não conto. -Faz um X no coração e joga a chave fora, ao olhar sua expressão com atenção dava para notar que ele estava quase se convencendo.
-Nós prometemos que não vou fazer nada errado. -Falo na intenção de ajudar ele a tomar sua decisão ao nosso favor. -Foi parcialmente culpa minha e eu odiaria ter que voltar tudo só para pegar um documento.
-Viu? A moça jurou que eles não vão fazer nada de errado. -Meu noivo sorri e afirma com a cabeça olhando para o homem. -Então a única coisa que impede é seu mal humor.
Ele revira os olhos e suspira alto. -Podem passar vocês dois. -Ele estrega os documentos falsificados e dou um sorriso aberto. -Mas andem logo antes que eu mude de ideia. -Acabo inspirando muito ar nos meus pulmões por não acreditar que havíamos nos livrado.
-Muito obrigado por intenderem. -Apolo guarda os cartões e se vira para os dois. -Vocês salvaram nossas vidas.
A mulher nega com a cabeça e deixa as mãos no peito. -Não precisa agradecer, apenas quero que vocês curtam essa nova fase da vida. -Afirmo com a cabeça com um sorriso ao notar que ela falou igual a minha mãe.
-Vamos ser muito gratos pelo o que estão fazendo, não é mesmo amor? -Apolo fala e se vira para mim, concordo com ele e sou pega de surpresa.
Ele me deu um selinho. -"Mas que porra foi essa?" -Tenho vontade de perguntar, mas me contenho por motivos óbvios.
-Seremos eternamente gratos. -Adiciono na sua fala para não correr o risco de dizer algo estranho ou errado.
-Que isso. -Ela sorri e acena com a mão para nós dois. -Boa viagem e felicidades novamente. -Sua fala me faz sorrir e Apolo liga o carro logo depois.
Sustento a mesma expressão. -Tenham um ótimo dia. -Sou a última a falar algo entre nós quatro.
Antes de Apolo conseguir dar partida com o carro para fazer a fila andar novamente, o Jack, coloca a mão na janela com rapidez o que atraí tanto minha atenção quanto a dos outros dois. Sua ação foi algo tanto quanto estranho o que me deixou preocupada instantaneamente. -"Será que ele descobriu do carro? O homem deve ter notado que algo estava errado entre nós dois." -Tento não mostrar medo com os meus olhos. -"Deve ter um mandato para esse carro e ele acabou de descobrir, ou será que ele lê mentes e sabe de tudo apenas por ter me lido?" -Sou bombardeada com um milhão de perguntas que nunca serão respondidas por ele.
-Pois não? -Apolo pergunta com a sua voz calma que nesse momento me deixa com raiva, como conseguia ficar desse jeito sendo que estamos com policiais?
-Não se esqueça do cinto se segurança. -Aponta para o tecido que tinha sido deixado de lado por ele.
Sinto vontade de gritar por alívio, ele só queria informar uma coisa pequena e não prender nós dois.
-Obrigado, eu nem tinha notado. -Apolo sorri novamente e logo cruza o cinto na frente do peito.
-Disponha. -Os dois dão um passo para trás e apagam as luzes das lanternas o que nos dá liberdade para sair com o carro.
Aceno com a mão uma última vez assim que saímos para longe deles e só então consigo soltar o ar do meu corpo que ainda estava preso e me sinto mais leve com isso.
Aperto o tecido do banco com força, sinto o sangue dos meus dedos parar de circular. -Nós conseguimos? -Pergunto ainda sem acreditar e com o olhar fixado no carro da frente
-Conseguimos. –Ele me responde com a voz descontraída.
-Como? –Pergunto ainda preocupada e uso o retrovisor para olhar no lugar que os policiais estavam, outro carro está sendo vistado por eles, isso só deixa tudo mais real.
-Com o meu charme e a sua ótima atuação. –Olho para ele e rapidamente meu nervosismo vai embora ao ver seu sorriso.
"Droga, eu odeio esse efeito que ele causa em mim. "
-Seu charme? Eu praticamente insisti para liberarem a gente. –Tiro os sapatos do meu pé e sinto meu corpo relaxar novamente.
-Mas tudo porquê eu pensei em uma ótima mentira em menos de cinco segundos. –Apolo desvia dos carros e consegue para a primeira cidade que passaríamos.
-O que? -Solto uma risada baixa. –Você só jogou toda a culpa na sua falsa noiva. –Olho para ele e o mesmo apenas encolhe os ombros.
-De qualquer jeito a mentira deu certo. –Tiro meu cinto de segurança por estar desconfortável. –O importante é que funcionou.
-Espero que Emma e Harry não se importem em emprestar a história deles por um dia só. –Deito a cabeça no banco. –Eles salvaram nossa pele.
-Não se preocupa com isso. –Consigo ouvir o sorriso na sua voz e o tom de humor. –Quando chamarmos eles para o nosso casamento eu conto tudo e peço desculpas.
Viro meu rosto na sua direção e faço uma pergunta por não saber se ouvi certo. -Quando chamarmos eles para onde?
-Nosso casamento falso Alice. –Ele fala sorrindo e sem desviar o olhar da frente. –Ou vai me dizer que esqueceu dele? –Reviro meus olhos ao perceber que ele estava brincando.
Entro na brincadeira e respondo da melhor maneira possível. -Como posso esquecer o melhor dia da minha vida? –Uso um tom apaixonado e levo as mãos para o meu coração.
Apolo sorri. –Eu não sei querida. –Nega com a cabeça. –Mas acho que esse é um bom momento para escolhermos a data do casamento, não acha? –Me olha rapidamente.
-Adorei sua ideia amor. –Cruzo minhas pernas e bato meu indicador no meu queixo para fingir que estou pensando. –Que tal um casamento ao pôr do sol, na primavera em um castelo na Itália ou Escócia? –Falo brincando.
-Por mim pode ser. –O carro continua seguindo por uma avenida, olho pela janela e vejo que já está escuro. –Mas só se pudermos chamar o Elvis para fazer a cerimonia. –Solto uma risada. –E o Ed Sheeran cantar na festa. –Afirmo com a cabeça sem pensar e solto um suspiro longo.
-Por isso que eu me apaixonei por você. –Uso uma voz melosa e falsa na esperança de disfarçar a verdade da minha fala. –Espera ... –Me lembro do que ele disse e franzo a minha testa. –Você gosta do Ed Sheeran?
-Gosto. –Responde sincero o que me faz olhar ele sem acreditar. –O que foi? Não posso gostar de música romântica? –Levanto minhas mãos em forma de rendição.
-Eu não falei nada. –Me defendo. –Só achei estranho.
-Por que? –Abaixo meus braços e penso por alguns segundos.
-Porque você é o homem que me sequestrou, gosta de música romântica e que ironicamente também do mesmo cantor que eu. –Respondo.
-Justo. –Fala simples. –Então entramos em um acordo? –Faz a pergunta provavelmente para não ficarmos em silencio.
-Que acordo? –Olho para ele sem entender e percebo que o sorriso voltou para o seu rosto.
-Que o Ed Sheeran vai cantar no nosso casamento. –Rio baixo depois de ouvir o que ele disse então afirmo com a cabeça.
-Pode apostar que sim. –Volto a olhar para frente.
Ficamos cerca de cinco minutos quietos enquanto Apolo dirigia, a única coisa que fazia barulho é o batuque que seus dedos faziam no volante do carro. –E inclusive ... –Sua voz chama minha atenção.
-O que? –Pergunto quando ele para de falar no meio da frase. –E Inclusive o que? –Na minha última palavra minha voz saí um pouco mais baixa do que o esperado.
Consigo notar que o ritmo em que o carro está andando diminui um pouco antes dele falar. -E inclusive nós formamos uma boa equipe.
Sua fala não tinha sido uma pergunta e sim uma afirmação, ouvir isso saindo da boca dele enquanto olho nos seus olhos fez meu estomago virar de cabeça para baixo e uma enorme vontade de vomitar me atingir em cheio. Ele me elogiou, não só a mim, mas nós dois. Elogiou o jeito que fingimos ser um casal na frente dos policiais.
"Isso não quer dizer nada Isabela, é só um elogio qualquer. " –Tento me convencer que isso é verdade e que suas palavras não significaram nada.
Noto que ele sorri sem graça por eu não ter respondido nada. –Eu ...também acho que formamos uma boa equipe.
-Acha? –Pergunta dessa vez olhando para frente.
-Sim. –Respondo simples.
"Quase como Bonnie e Clyde. " –Penso, mas decido ficar quieta e me apoiar na janela para tentar me manter longe dele.

Apaixonada Pelo Meu SequestradorOnde histórias criam vida. Descubra agora