Capítulo 1 - Perdas

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Nina

Começa mais um dia na minha vida caótica. A sensação de impotência e desespero parece me acompanhar a cada passo que dou. Às vezes, sinto como se estivesse afundando em um abismo sem fim, sem ninguém para me estender a mão e me salvar.

Faz exatamente três meses que meu aluguel está atrasado, e eu não sei mais o que fazer. Todo mês é a mesma situação: "vender o almoço para comprar a janta". Minhas dívidas só aumentam, e não posso deixar de pagar a faculdade. Lembro-me do maior sonho da minha mãe: me ver formada e advogando — ah, mãe, como a senhora faz falta. Seus sonhos foram interrompidos devido ao incompetente do meu pai, se é que posso chama-lo assim. Drogado e nunca ajudava em casa, vivia agredindo a minha mãe. Ele não tinha um pingo de respeito.

Minha vontade era de matar aquele filho da puta. Eu não conseguia e não podia; como passaria na Ordem dos Advogados com um homicídio nas minhas costas? Desde que meu pai foi detido por matar a minha mãe, minha vida virou um verdadeiro inferno. Mas vou fazer esse desgraçado pagar por todo o mal que ele fez a nós. Ela não merecia sofrer. Sinto minhas mãos tremendo — Deus, não posso ter outra crise, seria a quarta só esta semana! — Pego minhas chaves e minha bolsa, vejo se não esqueci nada, e logo minha amiga Luana chega para irmos à faculdade juntas. Sempre fomos assim, grudadas uma na outra desde que a conheci na segunda série. Falo com toda propriedade: ela é mais que uma amiga, é como uma irmã, minha única família.

Vejo a tela do meu celular: são 7:25 da manhã. Porra, vou chegar atrasada na aula. Luana já está lá embaixo com sua Vespa, se achando a motoqueira. Juro, esses dias essa babaca quis apostar corrida com uma Ducati, e vocês adivinhem quem ganhou? Obviamente, o cara da moto ganhou, e eu quase morri de tanto rir.

— Pronta para correr mais rápido que o Flash? — Luana me entrega o capacete com um sorriso zombeteiro.

— Com essa "moto" que você tem? Eu teria mais chances de chegar à faculdade montada em uma tartaruga. Aposto que chegaria mais rápido! — Respondo, subindo e acomodando-me na moto. Luana me mostra o dedo do meio por cima do ombro, em um gesto brincalhão.

— Segura firme porque a nave vai decolar! — e assim começamos mais uma viagem pela selva de concreto, rumo a mais um dia de lutas e desafios.

Desci da moto entregando o capacete para Luana, mas ela não o pega. Me encara por alguns segundos:

— Amiga, aconteceu algo? Você está meio blé hoje... — A lazarenta me conhece bem.

— Ah... Lua — Suspiro desanimada — não sei mais o que fazer com a minha situação financeira. Estou me afundando em dívidas para manter o curso e poder comprar comida. Está difícil... Você sabe que depois que ela partiu, tudo mudou. Sinto muita falta dela... — Sinto as lágrimas se formando em meus olhos.

Luana sabia o quão difícil estava, faz pouco tempo que perdi minha mãe, e a ajuda do governo não faz diferença. Minha amiga fica pensativa e fala descontraída:

— Mano, você poderia muito bem virar uma camgirl, tipo, você usaria uma máscara e...

— Nem fodendo, Luana, isso é quase prostituição. Eu quero ser uma advogada renomada. Imagina se meus clientes descobrem que estou exibindo minha chereca na internet? — A encaro com as mãos na cintura.

Luana solta uma gargalhada, chamando a atenção de quem estava no estacionamento.

— Nina, não é prostituição. Você só vai mostrar seu corpo, exceto se, nas suas consultas, você começar esfregando a xota fedida ao invés de cumprimentar com um aperto de mão — começo a rir imaginando a cena. Essa trouxa sabe me fazer rir.

— Vai tomar no cu, LUANA! — Mostro meu dedo do meio, entrego o capacete, e ela guarda tudo no baú da moto. — Chega de ladainha, vou tentar conversar com o gerente do banco novamente para conseguir um empréstimo. Se nada der certo, posso tentar falar com a imobiliária para aguentar mais um mês.

Saí do estacionamento rindo para disfarçar a angústia dessa situação. Imagino a idiotice que essa menina falou, não sei de onde ela tira tanta bobagem. Camgirl? Só na base do álcool e desespero.

Chego na sala de aula e a porta já está fechada. Merda, estou mega atrasada! Senhor Thomas vai fazer o sermão daqueles: "Quando vocês forem para uma audiência, atrasados, igual à senhorita Giannina! O juiz vai cancelar a mesma e vocês perdem o processo!" Já estou até ouvindo. Minha vontade é de mandar ir se foder e trocar de faculdade, mas como não tem essa possibilidade, o jeito é encarar as consequências.

Hoje será um dia daqueles! O que mais pode dar errado, não é mesmo?

Secret Life - NinaOnde histórias criam vida. Descubra agora