Capítulo 12

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Era extenso, em amplitude e majestade. O campo de treino em ambiente aberto trazia uma sensação de pequenez, deviam caber uns quatro campos de futebol dentro daquele galpão. Imaginei que estivéssemos indo fazer um treino em equipe onde melhoraríamos táticas de combate. Fui falho. Desde o vestiário não senti nem o cheiro de Luana. Érica havia a levado para outra área de treinamento. Éramos apenas eu e Ricardo. "Sendo sincero, a aura dele não é nada agradável, mesmo só o vendo de costas."

Ricardo parou abruptamente. Não notei por estar perdido nos pensamentos, e acabei trombando nele. Recuei dois passos. Havia batido numa muralha de carne. Tínhamos a mesma estatura.

O sargento virou-se para mim. Com o sorriso falso e gentil de um homem que convive com muita gente. Ele transmitia esse ar de detestar as pessoas ao redor.

— Você sabe por que está sendo treinado por mim, Gael? — questionou. Sem tirar o sorriso falso.

— Por má avaliação e imprudência? — a voz saiu baixa. Ele estava me deixando incomodado, como se tivesse que me desculpar por algo.

Ele riu. Acreditem, a risada também soava falsa. — Também, também. — balançou as mãos em afago a "piada". — Na verdade é por causa de Pavlov. — continuou.

Ajeitou os óculos que escorregaram no nariz oleoso. — Ele achou que seria bom um semi-slaaf ensinar ao outro.

"Semi? Semi-slaaf?" A metalinguagem me deixou confuso, mas deu para assimilar com clareza. O que eu não entendia era o motivo. A minha garganta secou. Ele?

— Eu sou igual a você. — Ricardo me respondeu. Em silêncio, começou a tirar a camisa, permitindo ficar apenas de calça.

Por um momento, fiquei sem entender, e achei até um pouco desgostoso. Mesmo franzino, a pele e falta de gordura detalham todos os músculos. A pele começou a rasgar no meio, em diversas partes. Vários rasgos surgiram nos braços, e um grande no meio do peito largo. O sangue expurgado descia como rio nos membros e cedia espaço a dentes. Bocas, com mandíbulas afiadas, tomaram espaço das feridas de Ricardo.

— Slaafs. Humanos que não comportavam a magia e a mana modificou o DNA tornando-as criaturas mágicas. — os maxilares batiam fervorosos, fazendo um barulho incômodo. — Semi-slaafs somos nós, Gael. Homens que lutam contra o domínio das criaturas em nosso corpo. — retirou os óculos e o jogou longe. — Somos monstros, Gael.

— V-você... — boquiaberto, e congelado, mal sabia o que dizer.

— As câmeras de segurança conseguiram registrar a missão "infantil" de vocês. Braço mastigado. A beira da morte. Ele percebeu o quanto havia se controlado para não deixar o Slaaf dentro de ti tomar conta. — Outro sorriso falso. — Por que você é um fracassado de merda.

— Como é!? — Maldito... Não mentiu em nenhuma das sentenças. A maior dor era notar que mesmo me esculachando, meu coração aceitava. Eu era fraco.

— O treino é simples. — Ele andava em minha direção. — Se não adquirir poder o suficiente para lutar, você morre. Se deixar o Slaaf assumir a conta do teu corpo, eu mato também.

Sorri. — Filho da puta... — Preparei o braço. Ricardo não ia pegar leve comigo. Dava para sentir a violência despejada do corpo dele. Não apenas isso. A mana dele era incrível.

Ele saltou. Com as pernas acima da minha cabeça direcionou um chute mirado nos tímpanos. Agachei, mesmo com um ataque aéreo o desgraçado não havia dado aberturas. Rolei para frente, e tentei retomar uma postura de combate.

Só que Ricardo era experiente. Assim que pisou no chão utilizou da mana para impulsionar o pouso e iniciar outro ataque veloz. Nossos corpos estavam próximos, e não conseguia desviar a tempo. Fiz o braço demoníaco moldar-se em forma de escudo. Ainda sim o impacto do soco carregado de mana me arrastou para longe.

Deuses de Sangue [VENCEDOR WATTYS 2022]Onde histórias criam vida. Descubra agora