Deuses de Sangue [VENCEDOR WATTYS 2022]

Capítulo 10

"Para a polícia, Slaafs e magos criminosos possuem classificações de poder. Usados de C a S para ranquear o perigo que o policial pode estar enfrentando. Para os Slaafs, a classificação é destinada ao seu nível de consciência mental. Quanto mais inteligente, mais perigoso."

"Para magos, é o nível de capacidade da utilização de mana. Magos de classificação B a S possuem a capacidade de usar o segundo estágio da magia. Complexidade. O real vínculo do mago com o domínio do próprio poder. A complexidade é um estágio que ativa de maneira abrupta toda sua força."

— Bruno, e Rei. São ambos parceiros de Ivan. — Pavlov conversava sério, e me olhava, pois sabia que era de meu interesse. — Só que Ivan não é um traficante. Na verdade, nossas investigações descobriram que ele está destruindo pontos de vendas de drogas na cidade.

— E por que ele faria isso?

— Ainda não sabemos. — Pavlov sentou na ponta da mesa. — Mas ele não é um mago qualquer, e você tem isso em mente. Os que o seguem também são poderosos, e poderiam ter matado vocês se quisessem.

Pavlov nos colocou em nosso lugar. Estávamos há poucos dias na polícia e havíamos arriscado nossas vidas. "Poderia ter me matado, e não vingaria meu irmão." Era isso que ele queria me dizer.

— E vocês dois? — Gael debochou. — Você nos disse que não é mago, mas isso é claramente um pacto.

— Pacto? — Me virei .

— Você também não sabe sobre as especializações? — Gael inclinou o corpo para frente.

— Além das classificações, existem também as formas de utilizações mágicas. Normalmente o mago escolhe, mas há casos dele selecionar por forma natural. Expansão, são usuários de poder que utilizam da magia para causar impacto em terrenos ou grandes áreas. — Luana sabia muito, não era por menos que Pavlov confiava tanto nela. — É minha especialidade.

— Os de transformação conseguem modificar parte do corpo. — Gael me olhou, enquanto o silêncio pairou no recinto. — O que foi? Eu não sou tão inteligente quanto a senhorita CDF aí do teu lado.

— Pavlov. — Luana olhou para o Tenente. — Isso não te faz um mago de invocação?

— Isso é muito esquisito. — Encarei Pavlov. — Não sinto nenhuma quantidade de mana vindo de ti, mas ainda sim, naquela noite... — Me recordava vagamente do combate. — Você estava usando um artefato mágico.

Pavlov coçou a cabeça. A unha roçava no lado da rã — que estava cochilando durante a explicação. — O anfíbio acordou, e bocejou alto.

— Na verdade ela, Heket, é uma deusa. — Pavlov referiu-se a rã

— Eu vim a terra atrás de um humano esquisito, e achei-o. — A deusa pulou para a mesa. — Sem magia, e extremamente fraco. Além de feio.

Tenente e rã se entreolharam como se brigassem com os olhos. Nada proferiram após os insultos do anfíbio ranzinza. Pavlov devia estar acostumado com o palavreado grosseiro da companheira de trabalho.

— Magos de invocação são capazes de invocar armas, criaturas... — Dava para ver que o tenente refletia sobre outras possibilidades, mas de modo falho. — Acho que é isso.

— Você deve ser uma maga de Exaustão. — Gael me olhou.

— É... — eu não sabia. A sala sabia que eu não sabia.

— São magos com vínculos íntimos com a própria mana, já que a usam de modo severo para atacar. Logo, a magia deles os tornam exímios atacantes, mas de combates rápidos. — Concluiu e acendeu um charuto puxado do bolso.

— Se isso é verdade. Por que... — engoli a saliva, com vergonha. — Por que não sofreu arranhões ontem?

— Existem... Em raras ocasiões... — A rã tomou a explicação, enquanto Pavlov seguia rumo a janela. — Alguns nascimentos que nem mesmo nós, deuses, somos capazes de preceder. Esse feioso é um deles.

Batidas na porta. Alguém desejava interromper a aula que tínhamos no momento. Não fizeram cerimônia em aguardar a autorização para entrada. Correram à porta. Algo que imaginei ser de profunda reprovação na boca autoritária de Pavlov. Contudo, o Tenente permaneceu calado. Após jogar a fumaça para fora do basculante, se virou.

— É por isso que chamei os sargentos para ajudarem vocês a evoluir suas habilidades e enfrentarem vossas fraquezas. Ricardo, e Érica.

Eles eram o vislumbre de uma sensação de poder que ultrapassa minhas compreensões. Caleb havia passado por tudo isso. Havia trabalhado na polícia antes de servir aos Protetores ao lado do nosso pai. Ele queria ter me colocado direto no mesmo distrito, mas seria impossível acompanhá-los. "É um patamar diferente de magia, dá para sentir."

Ricardo, por trás dos óculos fundo de garrafa, transmitia leveza no sorriso semicerrado e gentileza no movimento do corpo. Érica era o oposto, onde os cabelos pretos que mal batiam no pescoço balançavam com violência quando decidia tomar uma direção para o nariz pontiagudo. Ela parecia estar pronta para briga a qualquer momento.

Ao trocarem olhares com Pavlov bateram continência ao oficial. "Incrível. Eles tem uma quantidade de mana que entorpece minhas narinas, e ainda sim respeitam um homem que nem sabe o que é mana."

— O Governador anunciou que falará em público a respeito dos eventos que ocorreram ao longo desse um ano. — O Tenente se virou para nós. — Mas nosso serviço de inteligência mencionou um nível alto de risco à vida dele. Proteger o governador será a primeira missão oficial de vocês. Para isso, preciso que fiquem melhores.

— O salão de treino está pronto. — Érica tinha um timbre mais grosso que o de Gael. — Haverá roupas de treino no vestiário. Possuem dez minutos para se aprontarem.

Levantamos das carteiras, e fomos a passos apressados para o salão de treino. Não queríamos levar mais esporros do que os desmedidos no dia.

— Roma, espera! — Pavlov me chamou. — Você vai vir comigo.

Meus parceiros pausaram durante a ordem, mas seguiram caminho logo em seguida. — Pensei que treinaria magia. — Caminhei um pouco a frente. Pavlov estufou o pomo após tragar o charuto uma última vez.

— Eles não vão ser capazes de lhe treinar de uma boa forma. — Jogou a fumaça na minha cara. — Você é uma Grozny, e quer matar Ivan. Precisa de alguém que seja capaz de te levar ao máximo.

Pavlov estava me dizendo, que só ele poderia me destruir e reconstruir meu poder.

— Começamos agora? — Animada, mal percebi o sorriso no rosto.

— Me acompanhe.