Capítulo 25

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Ponto A :

A vadia só fugia. Tentei chegar próximo a ela de diversas maneiras, mas sem sucesso. Ela era rápida. Brincava comigo dentro do território de gelo. — Prisão glacial Cruz! — Um momento oportuno para invocar uma armadilha. Fiz dois blocos de gelo fecharem nela. Sepultei-a. Pelo olhar surpreso, a rosada não esperava por isso.

Afaguei a respiração. Só não pude descansar. Os blocos começaram a estilhaçar, e quebraram pela tamanha força advinda do centro. — Entendi! Usou dessa magia para ganhar tempo — Ela havia destruído a prisão. A ponta dos dedos avermelharam, por conta do gelo. — Logo antes tentava me encostar. Pelo gasto de mana e brutalidade, deve ter ativado a complexidade. — caminhava em minha direção. — Você congela tudo que toca. Por isso quer se aproximar. — A vagabunda descobriu rápido demais. Isso me deixou alerta. Encontrar uma maga não estava em meus planos. "Ela não é aliada de Ivan..." Não deveria ser. Poderia? Sim. Contudo, tinha cara de burguesa.

— Quem é você, piranha?

— Vice! — Fez questão de impor a voz, quase masculina. — Muito prazer.

— Se quiser violência, estou aqui! Deixe a Érica fora disso!

— Acho que você não entendeu, não é!? — Olhou para trás, onde estava o corpo de minha prima. — Ela morreu.

A brecha que se abriu foi mínima. Eu não permiti com que a janela da oportunidade se fechasse. Quando ela voltou o rosto, a minha direção percebeu a proximidade. Havia saltado para tocá-la. Vice fez um rosto de espanto, ainda sim... Ainda sim não parecia ter motivos para temer. Ela envergou a coluna para trás. Ao olhar para baixo pude ver os detalhes delicados do abdômen rasgado dela.

Em sequência um soco. Vice me socou no queixo, com um detalhe peculiar. Ela tocou-me rápido demais, mesmo que o movimento não tivesse sido tanto. "Que vadia forte!" Meu corpo foi jogado para cima, como se não tivesse peso. Olhei para a mão dela. "Sem gelo?" Minha complexidade ainda estava ativa. Como ela não congelou o membro?

— C-como...? — A pergunta formou-se na minha boca sem que notasse.

— Isso significa que tem um tempo de contato para tua técnica começar a congelar tudo. — Vice sorria. — Eu venci.

No céu, comecei a derrocada ao solo de gelo. Estava rápida demais, ainda sim, tentei criar uma rampa de gelo para amortecer a queda e direcioná-la para longe da bandida. Vice vinha de encontro. Queria o gosto de me acertar mais vezes.

Me levantei. Foi difícil. Mantinha a complexidade ativa. Podia não ameaçar Vice, mas era o único escudo que a impedia de vir com tudo. Entretanto, a mana e a técnica cobravam o preço. Mal locomovia as pernas. Parecia ter pesos de areia amarrados por todo o corpo. Era como se mover na areia movediça. Os músculos choravam de dor, e pediam para que eu parasse. Adrenalina. A única coisa que me mantinha viva era a adrenalina.

— Você está por trás dos Slaafs? — Tinha de ser mais inteligente.

— Não sou tão insana para criar algo assim. Só vim me divertir!

Isso significava que ela estava no plano. Criar? Slaafs são a consequência do uso de drogas. Não era o Ivan. Havia outros inimigos no território! Quem?

Ela sentiu uma gotícula de floco de neve molhar a bochecha. Levou o dedo até o rosto na mesma hora para secá-lo. A gotícula tornou-se numa bola de espinhos que rasgou todo o corpo de Vice. Os espetos de gelo rasgaram a carne do tronco expondo costelas e órgãos. O rosto ficou totalmente desfigurado.

Desativei a complexidade. Não era capaz de mantê-la por mais um segundo sequer. A carne de Vice ficou espalhada por cada ferrão separado da bola. Como se tivesse sido desmontada. O gelo ficou vermelho por conta do sangue.

Contornei a sepultura de Vice e corri até Érica. Minha prima mantinha-se desacordada. Quando toquei no peito dela, a realidade desabou em mim. Coloquei a mão no pescoço. Busquei pulsação. Sem sucesso. Érica não respondia. Abri a roupa dela e comecei a fazer massagem cardíaca. — Érica! Érica responde caralho! Um, dois, três, quatro! — Deitei o ouvido no tórax dela. Nada. — Caralho! Um, dois, três, quatro, cinco! Érica! — A massagem era inútil. Eu não podia acreditar.

— Hahahahahha!

Olhei para trás. O sangue se reorganizou. Músculos e órgãos recuperaram-se e reestruturam o corpo despedaçado. Vice tomava forma outra vez. Saía da bola de espinho como se não tivesse sofrido um único arranhão. Apenas a roupa havia sofrido alguns rasgos.

— O que vai nos matar primeiro? O amor, ou o orgulho? — Ela retomou a consciência.

— Como? — Aceitei a realidade. Érica não me responderia. Só cabia a mim, retomar a honra dela.

— Consigo regenerar e modificar os músculos. É minha magia. — Explicou, como se fosse óbvio. — Você desativou a complexidade. Vejo que está a ponto de desabar.

Uni as mãos. — Para filhas da puta como você, tenho força de sobra! — Blefei. Mal conseguiria ativar a complexidade. Só não poderia morrer agora.

"Vamos sempre cuidar uma da outra, não é!?" A memória abarrotou minha cabeça. A voz fina e infantil de Érica em nossos tempos de infância preencheu o momento. Tive de olhá-la uma última vez. Pois provavelmente nem a vingaria. "Sim. Para sempre!" Eu menti. Eu menti na infância, e menti na juventude. — Me perdoe, Érica.

Vice estava na minha frente. Ampliava os músculos do braço esquerdo até criar um membro inumano. Ela me viu lacrimejar.

Mísseis?

Alguns projéteis acertaram-na. O impacto me jogou para trás. Bati as costas contra uma coluna destruída. Custei a levantar pela dor. Os olhos fraquejavam para abrir, e a poeira me impedia de ver algo tão claro.

Um policial surgiu da fumaça. Carregava num dos braços o corpo de Érica, enquanto no direito a bazuca esfriava. — B-Baby? — corei.

Ele se agachou? — Ela te causou algum mal? — tocou-me delicado, na busca de algum machucado grave.

— Não! — tentei me levantar. Baby me agarrou no braço e me ajudou. — Obrigada.

— Há uma estação de evacuação a alguns metros daqui. Vamos para lá.

— Mas, Mas e a Vice!? — Tentei afastar nossos corpos, mas ele era forte demais. — Ela precisa ser impedida!

— Não vou te deixar morrer aqui. — Baby firmou os braços. — Nossos aliados estão em perigo. Se ela quiser algo a mais, então a levemos até o epicentro. Não é hora para ser egoísta.

Concordo. Permiti que ele me levasse de lá. O Ciborgue usou de propulsores nas costas e pernas para voar de lá. 

Deuses de Sangue [VENCEDOR WATTYS 2022]Onde histórias criam vida. Descubra agora