Capítulo 99

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O lustre balançava em cima da mesa de jantar. A lâmpada, mal colocada pelo vagabundo que morava naquela casa, alternava entre o acesso e apagado constantemente. Tudo bem, aquilo dava uma sensação de perigo a ele que me deixava mais saciado.

Estava algemado nos braços e pernas, mas começou a acordar. Dava para enxergar a tontura dele com clareza. Ao contrário, acredito que ele não conseguia ver muito bem o ambiente. Eu havia drogado. Boa noite Cinderela. Velho e prático para pegar vagabundo de balada.

— O-o que? — A cabeça dele rodava. — Onde estou? — O esôfago dele encheu. Logo vomitou para a esquerda, sujou o próprio carpete.

— Em casa. — Respondi a ele.

Assim que me olhou eu o segurei pelo cabelo e bati o rosto dele contra a mesa três vezes. Na segunda o nariz já havia sangrado.

— QUE PORRA É ESSA!? — gritou assustado. Tentou retirar as amarras do corpo, mas sem sucesso. — QUEM É VOCÊ!? — Olhou para trás. Havia notado a presença do meu companheiro que permanecia no escuro. — Quem são vocês?

— Não interessa. — O soquei no rosto mais algumas vezes. — Quero que responda algumas perguntas. Quem estava no esquema de execução do Pavlov?

— Que merda é essa? — Ele riu. — Você é o que? Um fã do arrombado do Pavlov?

O segurei pelos cabelos e o fiz me enxergar na luz fraca. Minha barba grisalha, e meu ódio expressado. — Apenas um amigo. — O dei outro soco que o fez cair com a cadeira.

O palhaço ficou se contorcendo de dor no chão.

— Cadê o paradeiro de Baby? — Coloquei a perna no peito dele. — Fala onde estão meus homens, e eu vou te deixar morrer em paz, Sargento Ricardo.

— Morrer? — O filho da puta riu, ainda que cuspisse sangue. — ME TIRA DAQUI SEU VERME, E EU VOU ENFIAR MEU PAU NO FUNDO DA TUA GARGANTA ATÉ VOCÊ PEDIR DESCULPAS!

— Novato, as chaves. — Pedi ao meu companheiro. Ele me jogou.

— O-o que? — Ricardo ficou surpreso.

Eu o virei de costas, e tirei as algemas.

O Sargento não perdeu tempo e me segurou pelas pernas. Quebramos a mesa com o peso das minhas costas. Algumas bocas começaram a surgir ao redor do corpo dele.

— Assim que eu te morder você está fodido, velho de- — Enfiei um soco na boca dele. Admito que os dentes dele me machucaram, mas nada que sarasse em alguns dias.

Olhei para os lados em busca de alguma lasca de madeira. Assim que encontrei a peguei. Puxei o corpo dele para próximo, e evitei tocar nas bocas. Enfiei a estaca no olho dele. O Sargento berrou em dor. Foi a oportunidade que tive de me afastar.

— Com quem acha que Pavlov aprendeu a matar magos? — Fiquei de pé. — Mas diferente dele, eu não tenho misericórdia. — Estendi a mão. — Novato, a marreta.

O meu parceiro me jogou uma marreta na mão. A empunhei com as duas mãos. Comecei a batê-la no corpo de Ricardo com o máximo de força que tinha. Costelas. Tórax. Costas. Braços.

— PARA! PARA! PARA! PELO AMOR DE DEUS, PARA!

— Quem matou Pavlov, e quem matou Baby?

— EU NÃO POSSO DIZER! — Ricardo chorava. — Se eu falar ele vai me matar assim que eu sair daqui.

— Você não vai sair daqui.

Voltei a amassá-lo com porradas. No começo ele gemia de dor. Até que os gemidos sumiram, e tudo que ouvíamos era o som do corpo amassado. Ricardo estava morto.

— Que sujeira chefe. — O novato zombou.

— Liga para algum serviço de limpeza. Preciso fazer uma ligação também. — Me afastei dele por privacidade.

Na cozinha de Ricardo, investiguei a geladeira e encontrei uma cerveja. Tudo que precisava. O telefone ainda chamava. O maldito sempre demorava para atender.

— MESTRE! — O som do funk que tocava no fundo e das motos. Característicos da nova vida.

— Eu te fiz um policial Federal, e você continua nessa vida de Dono do tráfico. Imbecil. — resmunguei.

— Mestre, mestre. Se for para ficar me dando sermão eu vou desligar. Já aguentei muito por anos! Fiz até terapia para superar isso!

— O Pavlov está morto.

Ele ficou em silêncio. O barulho começou a sumir. — Eu sei, Lobo, tenho feito minhas investigações há um tempo. — me respondeu.

— O que descobriu?

— Foi o Barão. — me respondeu. — Mas tem outros nomes envolvidos. Mikael e Fritz, dois cientistas do alto escalão. E também o time dele que sumiu depois da prisão dele. Luana, Gael e Roma, são meus maiores suspeitos.

— Acha que o time dele traiu ele?

— Uma traição dessa não pode ter vindo de longe, mestre.

— Tem algum lugar para eu ficar por aí? — dei uma golada. — Vou precisar de você para matar esses arrombados.

— Sempre tem, mestre.

— Combinado. E vê se atende mais cedo na próxima vez Ícaro. Caralho de telefone que tu nunca atende na hora...

Desliguei.

"Roma, Gael e Luana." Eu vou caçar vocês pelo que fizeram ao meu amigo. 

Deuses de Sangue [VENCEDOR WATTYS 2022]Onde histórias criam vida. Descubra agora