Do céu, ele me olhava. Como a reencarnação de Messias. Até a luz que o adornava era formosa. Enquanto eu permanecia de pé nos escombros do rochedo. Coberta pelas sombras e escuridão. Renascida do inferno ao qual fui jogada todos esses anos.
Irmãos... No começo dessa nova vida, apenas conhecia um. Agora, dois faleceram em meus braços, enquanto o outro era meu inimigo. Todos líderes naturais. Que tomaram dons mágicos incríveis. Além de terem vidas envolta de feitos majestosos.
E eu? Criminosa. Assassina. Essa escuridão que estava ao meu redor, perseguia minha vida. Os momentos de dor. Torturas. Não importava mais. Era o caminho escolhido para pará-los. Essas criaturas... Esse "Legado".
Fiz círculos com os movimentos das mãos. — Quarta Quebra de Destruição de Pacto. — Lanças de mana começaram a circundar minhas costas. — Oito Lâminas Arruinadas!
Heliel permaneceu imóvel. Aguardava para reagir às minhas ações. Usei da velocidade. Cheguei próximo a ele pelo lado esquerdo. No ar. Ele tomou ciência do meu ataque. Bloqueou o soco com o braço. Só que algo o surpreendeu. Uma das minhas lanças mágicas o atravessou na costela. Heliel esbugalhou os olhos, e deixou escapar sangue na boca.
— Acha que vou deixar sair daqui tão facilmente?
Ele ficou irritado. Tentou me desferir um tapa, mas desviei. Em seguida o ataquei. Outro soco, dessa vez localizado no rosto, para apagá-lo. Enquanto meu punho se aproximava do rosto dele, algo aconteceu. Heliel teve tempo para reagir. Apontou dois dedos para o local que iria ser acertado.
Um maldito portal. Meu soco transpassou um portal dimensional. O punho acertou meu próprio rosto. "Não esperava por isso." Fiquei alerta. As lanças arruinadas não tinham consciência própria. Por um milésimo de segundo, senti despertar uma mana nova próxima ao meu rosto e foquei minhas energias para poder reagir a ela. Antes que a lança me acertasse, consegui segurá-la.
— Sem truques baratos, Heliel! — Dei uma estocada para frente, e enfiei a lança na barriga dele.
Mais sangue há de cuspir. Poderoso e humano. Sentia dores de machucados. — Basta! — Ele arrancou as armas sem esboçar dor. O corpo dele começava a se curar das feridas. Apontou o dedo aos céus. — Julgamento Eterno! Nove Anéis! — Uma luz se postou acima de nossas cabeças. Eram nove círculos enormes. Eles giravam enquanto a iluminação incandescia.
— Merda. — Foi a única coisa que consegui proferir. O raio que desceu dos céus era pura magia celestial. Ela acertou todo meu corpo, e eu, tola, apenas pensei em defender meu rosto com os braços. Utilizei de toda mana possível para proteger-me dos danos. O poder me amassava contra o chão. A terra não era capaz de pará-lo. Quanto mais permanecia me atacando, mais me afundava. Podia sentir a quentura atrás das costas "Há quantos metros eu desci?" Me sentia próxima do núcleo do planeta.
— AAAAAAAAAAAAAAAAH! — O grito do inferno.
O urro do último demônio vivo. Era a forma que eu encontrei para dizer a Heliel que não iria morrer. Não até matá-lo antes. Quando o poder dele parou, tudo que sobrou fui eu. Com os pés no chão de magma.
Saltei do buraco em direção a Heliel. Nos céus, trocamos socos, chutes e magias de curto alcance. Numa velocidade onde faíscas e estrondos luminosos nos acompanhavam. Os ventos mudavam de direção enquanto as nuvens se abriram em meio a nós.
Eu sangrava. Ele também.
Na verdade, havia aceito que era uma investida a morte. Estava exausta. Não aguentava mais usar mais ou lutar. O corpo pesava e os movimentos saíam desordenados. Heliel percebia, ainda sim, tomava sufoco.
Um soco. Voei contra o solo de uma montanha. O rochedo se quebrou ao meio. Fiquei sentada numa espécie de ravena. Cansada, me ergui. A mana cinza não abarcava mais meu corpo. Residia em curtos espaços como mão e rosto. O terceiro olho permanecia ali, vivo, e não desgrudava os olhos de Heliel. Conseguia vê-lo só de estar direcionada.
— Vamos embora. — Heliel abriu o portão de dois pontos. Criou uma conexão a uma paisagem conhecida. — Não precisamos mais lutar por isso.
"Um último golpe. Uma última lança..." Comecei a concentrar magia no meu único punho restante. Os Slaafs se agruparam a Heliel, e seguiram caminho as ordens do novo Imperador.
— FILHA DA PUTA! — Arremessei a lança Vehuiah contra ele.
Apatia se colocou na frente. Ele abriu a boca de baleia, e engoliu a magia por inteiro. O poder brilhou dentro dele, mas não o permitiu sofrer danos. O Slaaf arrotou após tudo. Era inútil pará-los agora. Estava fraca demais.
— Acabou, Roma. Eu venci. — Transpassou o portal.
Apatia foi o último. Algo começou a brilhar no estômago dele. Em seguida, o monstro cuspiu uma bola de energia. Três vezes maior que meu corpo. Pensei em fugir, mas meu corpo pesou. Queria desmaiar. Até que algo me segurou como um relâmpago. Quando me dei por conta, havia sido ajudada a fugir do golpe.
Meu auxiliar, um homem de barba rala e desenhada, com braços grossos e mãos compridas. Usava um sobretudo branco e roupas pretas.
— Agora não é o momento para atacar, Roma. — Me olhou. Tinha olhos azuis. — Precisamos recuar.
— Quem é você?
Apatia, o último Slaaf. Entrou no portal sem notar que ainda permanecia viva. O caminho em direção a Heliel se fechou.
— Não nos vemos faz anos. — Sorriu. — Sou Henrique. O Filho de Zeus.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Deuses de Sangue [VENCEDOR WATTYS 2022]
FantasiaCampeão do The Wattys - Carta Coringa e Gancho mais cativante Roma testemunhou o brutal assassinato do irmão, o mago mais poderoso do Rio de Janeiro. Sem o paradeiro do real assassino, e apelo popular. Ela foi condenada ao crime cometido contra o pr...