Capítulo 20

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A equipe de assessoria estava na nossa frente, dividida. Metade queria reunir os sobreviventes políticos e fugir. A outra ainda chorava por cima do corpo destroçado do governador. — Vamos embora, porra! — o prefeito havia perdido o descompasso e a postura elegante. Suava como um porco desesperado pela vida medíocre.

Havia os afastado do palanque junto de Ares. "Pavlov..." Olhei para os destroços. Pavlov havia sido separado de nós. Todos os Slaafs estavam em cima dele. O Tenente lutava pela vida numa arena de monstros.

— Precisamos ajudar o Tenente! — gritei descompensada.

— Foca na missão, Roma! — Ares segurou forte meu ombro. — Aquilo é uma armadilha clara. Precisamos tirar os políticos daqui!

Ares não estava errado. Que merda! Se foda os políticos! Nunca fizeram nada por mim. Pior! Me colocaram na cadeia! Pavlov me importava. Uma mana grosseira e distinta me tirou do transe. Ela surgiu próximo ao corpo do governador, no meio dos outros deputados.

Um mago havia chego ali Deus sabe como. Os engravatados que perceberam a presença saltaram para trás. Caíram uns sobre os outros. Enquanto o mago continuava agachado. Sentado nos joelhos. Retirou do falecido a costela.

— Você! — um dos deputados berrou. — Quem é você!? — Ele chorava desesperado.

Pude vê-lo assim que todos se afastaram. Tinha um cabelo liso e longo, devia bater na escápula, mas ele o prendia com um coque. Não usava camisa. Mostrava no detalhamento da pele branca as tatuagens grandiosas de animais. Uma águia no peito. Tartaruga na barriga. E uma cobra que enrolava-o no pulso direito ao esquerdo. Os olhos eram fechados, devia ter descendência asiática. Tinha músculos trabalhados e um sorriso psicótico.

Ele limpou o osso com os dedos. Tirou o resto de carne e sangue para analisá-lo melhor. Se levantou.

O Deputado sacou a arma. Não devia ter legalidade para o porte, mas cagava-se de medo para não levar uma. O mago o olhou. Flexionou o braço, e pôs a costela retirada próxima ao rosto. Ele a jogou. O osso rasgou a cabeça do deputado como uma bala de fuzil. Deixou na nuca um buraco do tamanho de uma laranja. Ele caiu desfalecido em cima do governador.

— Protetores e policiais. Só almejo a morte do prefeito. Entreguem-no e evitaremos mais baixas. — O mago estendeu a mão na espera da regalia.

— Quem é você? — Me coloquei à frente do político. Não havia como protegê-lo de maneira fácil com toda guerra.

— Não estamos numa reunião de diplomacia. Senhorita Roma Grozny. — Ele replicou.

Ares me ultrapassou, e ficou na frente. Ele deu um soco na palma aberta e ativou a magia de fogo nos punhos. — Então não precisamos conversar. — sorriu. A magia de Ares era como a de Luana. Elemental e pura. Bela e poderosa. Os sapatos carbonizaram por conta do fogo que surgiu nos pés.

Ele saltou para cima do terrorista. O mago desconhecido continuava a sorrir. Ares começou a notar, mas era tarde demais. No concreto do asfalto algo sobressai, abaixo do Protetor. Garras, como de caranguejo. Assim que ficou preso, o mago tirou do bolso da calça uma folha manteiga. Ele colocou o papel na cabeça do Slaaf. — Pedido de retorno! Transporte! — Caranguejo e Ares sumiram como se nunca tivessem existido.

— O que!? — Berrei — Para onde eles foram, filho da puta! — Sentia-me raivosa e impotente.

— Foi uma magia escrita de teletransporte. Achou que eu enfrentaria o mago mais poderoso de fogo de frente? — O mago riu. — Assim como Pavlov, há dezenas de Slaafs que esperam por ele no fundo do mar.

Fundo do mar? Ele havia pensado em tudo. Por sorte, o prefeito havia sumido desde o ataque de Ares. Havia entrado no carro blindado e cantou a mula para longe do conflito. Éramos eu e ele.

— Você fez isso tudo? Por que?

— Porque os políticos que você está protegendo são porcos. — Respondeu manso. — Tudo que trouxe são apenas as crias. Pessoas que ele não acolheu.

— Crias? Você criou esses Slaafs!?

— O preço infeliz para mostrar o erro deles.

Ele não demonstrava infelicidade. O sorriso falso. A imponência no corpo. Era como se deleita-se com o desastre. Queria aquilo. Havia ocasionado cada centímetro de morte e desgraça no Aterro do Flamengo. Era capaz de criar Slaafs, criar planos diabólicos, assassinar sem pena.

Meu sangue queimava. Borbulhava de raiva. Havia me esquecido da missão. Não me importava com a vida de políticos, na verdade, cagava para eles. Não estava ali para salvar inocentes. — Não dessa vez. — Eu queria saciar um desejo que rasgava o peito toda noite. Queria matá-lo. Só pela simples raiva de vê-lo vivo.

A mana de acumulava no braço. Apontei o dedo indicador e médio para ele. Materializei uma flecha da extensão do braço. Brilhava em roxo e queimava energia. Gritei. "Lança de Vehuiah!" A mana queimou do ombro até a ponta do dedo e disparou a flecha.

Por um momento íntimo percebi o olhar dele se esticar. Surpreso. Apenas colocou as mãos para frente. Uma explosão. — Hahahahaha! — A risada dele era irritante. — Você é de fato uma Grozny.

A fumaça sumiu, e ele ainda estava de pé. Uma carapaça espectral havia o protegido. Parecia a dorsal de uma tartaruga. Ainda sim, vestígios da flecha haviam ultrapassado a defesa e o golpeado. Ele possuía poeira no torso, e alguns cortes.

— É uma maga de exaustão de mana. — Ele gostava de papo. — A raridade desse poder é igualitário à brutalidade dele.

— Que bom, és estudado. — Apontei o braço outra vez. — Pelo menos sabe o motivo da morte.

Comecei a carregar outra flecha. Dessa vez ele não ficou parado. Uniu as mãos, em seguida passou os dedos pela tatuagem no peito. — Voe, Suzaku! — O pássaro sobressaiu do peito dele e atacou meu braço. Passou as garras na minha carne e me fez sangrar.

Não desativei a magia, mas senti a dor latente. Quando tentei mirá-lo outra vez ele não estava mais na minha frente. Olhei para o pássaro no alto "Deve ser só uma magia. Atirar nele não vai me ajudar em nada." pensei.

— Byakko...

A espinha gelou e as pernas estremeceram. Ele havia ultrapassado minha defesa e chego ao meu lado com sutileza. Mal pude conceber a velocidade dele no momento. Tinha os olhos de um tigre. Estava à minha direita, e queria me socar. A mão estava carregada de uma mana cinza. "Merda..."

Uma mão segurou o soco. Mesmo negra, não era minha. Ela apertou vigorosamente o soco do terrorista. Queria quebrar os ossos dele com o aperto.

— Então você é o criador dos Slaafs.

A voz. Firme e delicada. Nunca me esqueceria dela.

— Ora. — O mago desconhecido saltou para trás. Tomou cuidado. — Se não é a cabeça premiada do Rio de Janeiro. Ivan.

Estava ali. Ao meu lado. Havia me protegido. O assassino do meu irmão.

— Se você faz os Slaafs. Matá-lo significa dar paz a morte dos negros de favela. — A aura de Ivan era violenta enquanto encarava o terrorista. — Quem matarei?

— Prepotência... — Respondeu, feliz. — Me chamo Mikael...

Deuses de Sangue [VENCEDOR WATTYS 2022]Onde histórias criam vida. Descubra agora