Capítulo 98

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— Por que veio para cá? — Observei o portal se fechar. "Filho da puta..." a raiva que acumulei por Heliel piorou, mas a pergunta foi direcionada a Henrique. Mesmo auxiliada, não fazia questão de concedê-lo total felicidade. No momento, não era hora para isso. Havia sido derrotada.

— Estava em missão no exterior. — Henrique continuava a me olhar. — Eu fiz um pacto com Caleb que iria te ajudar caso alguma coisa acontecesse a ele. — Ele olhou para o cotoco no meu braço. — Desculpa por chegar tarde.

— Não se desculpe. — Me desprendi dos braços de Henrique. — Por que confiaria em você?

— Caleb sabia que Ivan estava em ameaça. Me pediu para buscar alguma forma de impedir o selo nas ruínas do Egito. — Henrique se mostrava frustrado. — Desde a sua entrada para Os Protetores. Eu fiquei lá. — Abaixou a cabeça. — Acredito ter encontrado coisas, mas... Não imaginei que as coisas teriam avançado tanto.

— Hum... — Não dei ouvidos.

— Quem você acha que foi o melhor amigo de Caleb? — Questionou.

— Ruan. Óbvio.

— Ruan era amigo de infância. Tempo não é similar a qualidade. — Sorriu para mim. — Eu o conheço melhor que ninguém. Até porque, eu também sou um mago de nível Federal. Tanto eu quanto ele fizemos parte da mesma equipe. — Me encarou.

— Então vamos precisar nos reunir.

— Para onde você acha que ele foi?

— Brasília. Eu não tenho dúvidas. — Eu respondi. — Ele quer dominar o Brasil e colocar o país como Império do mundo. — Estalei o pescoço. — Por enquanto, ele terá o país. Mas não terá o Rio de Janeiro. E sabe disso.

— Segura na minha mão. — Estendeu a palma. — Vou nos tirar daqui.

— Preciso encontrar um amigo antes.

— Espero que não seja o demônio na frente do portal.

Fiquei sem entender. Mas não voltei a questionar a afirmativa de Henrique. Ele não era de fato o filho de Zeus, mas com certeza era um exímio dominador do trovão. A velocidade que nos fez atravessar o território Slaaf foi superior à que eu era capaz de percorrer. Por um piscar de olhos, estávamos na frente do portal. Antes de atravessarmos, uma sombra pairava sentada. Ela defendia a travessia para o Rio de Janeiro.

Olhei para os lados. Havia corpos e mais corpos destroçados de Slaafs. Ossos expostos e carnes que compunham o cipó das árvores. O sangue pingava como gotas de orvalho nas folhas largas. Era um ambiente de carnificina e morte. Ainda dava para ouvir o gemer de algumas criaturas. Sofriam com a decomposição do próprio corpo.

— G-Gael?

Dei mais alguns passos à frente. Era ele, exausto e coberto de sangue inimigo. Com as asas de morcego expostas. Gael me olhou, e sorriu ao me ver. — Você está viva! Eu fiquei tão preocupado! — O olho concentrou lágrimas. — Pensei que ia ter que pagar minha própria cerveja...

Corri para abraçá-lo. Se não tivesse agido a tempo, ele ia desmaiar no chão. Estava fraco, mas consciente.

— O que aconteceu aqui Gael?

— Eu me tornei um Rei, Roma. — me encarou. — Eu sou um Slaaf de alto nível agora. — Pensou na frase. — Um... Semi-Slaaf? Ou um mago Slaaf. — Com dificuldades, ficou de pé. — E Heliel?

— Ele ganhou... — Nos olhamos, entristecidos. — Precisamos voltar pro Rio agora. Só a gente pode proteger a cidade.

Gael não contestou. Apenas assentiu com a cabeça, e se apoiou no meu corpo. Quase caímos, se Henrique não tivesse se intrometido no meio para nos ajudar. Caminhamos lentamente para o portal de saída.

Deuses de Sangue [VENCEDOR WATTYS 2022]Onde histórias criam vida. Descubra agora