Inspeção na floresta

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Trazer a bolsa de pano foi uma ótima tática, a primeira coisa que fiz ao tirar e dobrar meu kimono foi enfia-lo na bolsa, assim como coloquei cada item que estava lá dentro em meus bolsos estratégicos e a máscara, comecei a andar pela floresta e talvez por estar claro não apresente sinais de Onis ou luta, há alguns animais por aqui e nada mais. Continuei percorrendo a floresta em vão, tudo está a tão perfeito e a paz que reinava era tão grande que fiquei aliviada em saber que pelo menos um lugar desse mundo não há com que se preocupar e tal sensação me deu liberdade de pensar em mim mesmo e parando pra recordar aquele doutor fez um ótimo trabalho, pois as queimaduras leves do meu braço não afetaram em nada e muito menos a dor, se bem que ainda estou tomando os remédios e essa missão é leve o suficiente para isso, porém não tive o devido descanso e quando voltar questionarei Sanemi sobre isso, ouvi vozes ao longe e saí de meus pensamentos quando notei um pequeno grupo de homens jovens distantes conversando, subi em algumas árvores e resolvi os segui:

-- Ouvi dizer que há um demônio por essas terras. Sempre que ele ataca é a noite.

-- Não seja ridículo Himaru, Oishi é protegida, mas ouvi dizer que há uma caverna onde o grito dos homens ecoa ao luar e o cheiro de sangue se mistura com o vento.

-- Mas ninguém ousa ir até lá Rakao, sabem que é proibido e que a construção está amaldiçoada.

-- Não seja burro, o cântico do vento vem a noite conforme ela se torna mais fria e sempre seduz um homem para fora da vila e eu me pergunto o que vai ocorrer quando não tiver mais homens nesse lugar.

Parei de os segui e lembrei da minha conversa com Fuyumi, pelo visto precisamos correr contra o tempo.

...


Eu inspecionei todos os lados que correspondiam a minha parte da floresta, minha respiração estava controlada por conta de tantos pulos, faltando pouco para retornar ao ponto de partida retirei o kimono da bolsa de tecido e o vesti por cima do meu traje, ajeitei meus cabelos e voltei para a entrada da floresta notando que meu corvo pairava no céu, peguei dentro da minha bolsa uma maçã e cortei, assobiei para Kugumi, que deu um rasante próximo a minha mão e pegou o pedaço maior.

-- SEU FOMINHA! -- Ele não me respondeu mais riu da minha cara, que corvo desgraçado, voltei a comer a maçã sentindo meu estomago roncar e notei que haviam algumas árvores frutíferas pelo local e assim catei umas frutinha escuras que logo identifiquei serem amoras, meu corvo pairou e eu esfreguei afruta no meu kimono limpando antes de morder.

-- HA! KUGUMI ESFOMEADO DESSA VEZ VAI FICAR OLHANDO! -- Acabei rindo da minha conversa com o meu corvo.

-- CROAC CROAC SN SOVINA! SOVINA CROAC CROAC! -- Meu corvo reclamou e Sanemi chegou alguns minutos depois me olhando descente. 

-- Sn você está chamando atenção! -- Olhei para os lados não vendo ninguém além de nós.

-- Atenção de quem Shinazugawa-sama? Só se for das árvores e do próprio vento. -- Debochei sentindo que ele estava perdendo a paciência.

-- Espero que tenha feito o seu trabalho direito! -- Assenti, como ele anda estressado.

-- Sanemi-sama quer uma amora? Elas irão melhorar o seu humor e tingir os seus lábios também. -- Tentei sorrir para ele que aparentou um leve desconforto. Acho que de forma involuntária deixei o hashira do vento com vergonha.

-- Sou profissional Sanemi-s...

-- Para de me chamar assim garota, me chama de Sanemi e só. -- Ordenou.

-- Tudo bem, continuando, eu descobri muita coisa, mas não sei se é seguro conversarmos no trajeto para a pousada, fora que as pessoas vão estranhar se voltarmos tão cedo. Será que não podemos parar? -- Sugeri e ele respirou pesado.

-- Vamos as termas.. -- Pisquei descrente diversas vezes. -- Não pense perversões, mas foi-me recomendado por pelo menos seis velhotes desse lugar, parece que é uma sensação entre casais. -- Ele revirou os olhos.

-- As termas são na sua áreas de patrulha, pois não passei por uma sequer. -- Comentei. Sanemi não me disse uma palavra e conforme nos movemos pude sentir que havia alguém por perto.

-- Sanemi acho que estão nos seguindo. -- Sussurrei.

-- Percebi, desde que entramos nessa parte da floresta. -- Se referiu ao caminho para a terma.

-- Então precisamos agir feito um casal não é? -- sussurrei sem lhe dar tempo para responder e envolvi seu braço direito. -- Querido falta muito para chegarmos?

-- Menos Sn -- Sussurrou. -- Não, estamos próximos.

-- Que bom, a noite de ontem foi maravilhosa, estou curiosa para saber onde me levará hoje. -- Dedilhei seu peito.

-- Vou te levar pro inferno se continuar desse jeito. -- Sussurrou. -- Não seja impaciente e estamos em público querida.

-- Claro amor. -- Minha mestra vai rir muito da minha cara quando eu contar esse absurdo. Continuamos a andar pela trilha conversando informalmente até que chegamos nas termas e não senti mais a presença daqueles que nós vigiavam.

-- Eles sumiram. -- Sussurrei.

-- Diga algo realmente útil garota.

Sanemi estava mais arisco que o normal e eu gostaria de saber o porquê dele me tratar assim se nunca lhe fiz nada grave.

-- Deixa de ser grosso. Por acaso está de mal humor, mais que droga! -- Reclamei ao chegarmos na porta da terma onde demos o nosso sobrenome. Depois uma senhorinha nos indicou onde os casais podem ficar juntos nos banhos e não restou muito para nós a não ser continuar com essa encenação, sendo assim fui para o banheiro que correspondia a mulheres e me despedi deixando minha roupas dobradas e minhas armas guardadas na bolsa de pano, me enrolei em uma toalha grossa e segui para a terma adentrando a água quente e relaxando Sanemi já estava ali e só percebi pela voz de desdém.

-- Agora podemos conversar em paz. -- Me aproximei ficando de frente encarando aquele peitoral definido e cheio de cicatrizes assim como os meus braços. Respirei fundo e contei tudo o que ouvi para ele que permaneceu em silêncio.

-- A floresta é pouco escura e nem mesmo as sombras das copas seria o suficiente para proteger os onis no fim da tarde. Então tem alguém incentivando os homens a buscar trabalho na construção da ferrovia. -- Concluiu.

-- E precisamos nos apressar, as pessoas estão com medo e devem estar oferecendo muito dinheiro para convencê-los. -- Respondi.

-- Hoje iremos aquele evento ridículo e quem sabe de lá não sairemos com a resposta, quero tudo resolvido em no máximo setenta e duas horas.

Assenti e assim terminamos o nosso banho, ao retornamos para a entrada já prontos e após pagarmos o banho pude ouvir um dos donos conversando com Sanemi e entendi o motivo de seu estresse: aparentemente como somos um casal jovem em um lugar pequeno o povo está curioso e quer dar dicas para a nossa lua de mel e por um segundo tive que prender o riso imaginando Sanemi escutando dicas de lugares para me levar e onde poderíamos comer.

Fuyumi nos aguardava no quarto nossas roupas prontas para a festa e toda a conversa que tivemos na floresta fora o patrulhamento foi lhe passado, aparentemente ela duvidava disso, já que está aqui a mais tempo, porém negou a história de que os homens do vilarejo tem sumido, porém eu sei o que ouvi e essa linha de desinformação só pode significar algo: há mais de um Oni naquela caverna.

𝐕𝐞𝐧𝐝𝐚𝐯𝐚𝐥 | 𝐒𝐚𝐧𝐞𝐦𝐢Onde histórias criam vida. Descubra agora