ENCHANTED

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Foi preciso que eu ficasse duas semanas no hospital em observação e me recuperando antes de receber alta e ir pra casa. Iria fazer fisioterapia para voltar a ter minha coordenação motora normalizada.

Não deixei de pensar em nenhum segundo no garoto dos meus sonhos, tirando os momentos que eu chorava pensando no quanto me sentia traída por Kisaki. Acabei entrando em depressão me sentindo sozinha cada vez mais, meus pais não deixavam que ninguém que fosse próximo de Kisaki ter notícias de mim, o que era certo.

Obviamente contei para minha mãe sobre o garoto do meu "sonho" antes de acordar, ela sorriu enquanto pensava nas palavras certas a dizer. Eu nunca fui de acreditar em destino, reencarnação, nada do tipo, mas ela acreditava tanto que sempre tinha uma explicação na ponta da língua que poderia convencer qualquer pessoa.

- Ele foi quem te acordou... Talvez o destino de vocês estejam cruzados de alguma forma. Irão se encontrar quando menos esperar - Dizia enquanto penteava meu cabelo delicadamente já que meus fios estavam quebrados e ressecados por conta de toda a medicação e falta de vitaminas - Pra tudo se tem uma explicação, se foi ele quem trouxe você de volta pra gente, talvez tenha sido você que também o trouxe de volta.

- Como assim? - Olhei pra Yuu Shoyo curiosa pela primeira vez - São tantos talvez dito.

- Não é algo certo, mas pode ser que a alma de vocês se encontraram sabe lá onde e o toque que tiveram devolveram vocês para seus respectivos corpos novamente. - Amarrou o meu cabelo em um coque malfeito já que não levava jeito para aquilo - Não sabemos o que acontece quando as pessoas estão em coma ou mortas. Apenas nos agarramos àquilo que possa nos tranquilizar.

- Entendi - Olhei minhas mãos com certa tristeza, tentei esboçar um sorriso que logo se desfez. - Eu gostaria de um dia conhecer ele.

Após tomar meus comprimidos para abrir apetite, peguei meu celular e vi que todas as pessoas que eu seguia e considerava amigos tinham me bloqueado. Passaram dias até que eu criasse coragem para verificar essa parte da minha vida, o que me fez me arrepender profundamente. Eles tinham me apagado como se já me decretassem como morta.

Minhas fotos com Kisaki ainda estavam nas minhas redes sociais, logo me desfiz de cada uma jogando meu celular no chão.

Se uma coisa que não vou dar a eles é esse gosto de vitória.

*QUEBRA DE TEMPO*

Minha vida seguiu cada vez mais me recuperando, meus pais as vezes me trancavam quando a abstinência batia na minha porta, diversas vezes tiveram que comprar coisas para repor já que eu quebrava tudo. Me fizeram entrar em grupo em que pessoas se ajudavam, fiquei nessa por mais três meses até finalmente conseguir me controlar melhor. Estávamos em Janeiro, o Natal havia passado e nós três permanecemos unidos.

Aos poucos minha vida voltava ao normal, apesar da solidão de não ter amigos e viver isolada em um quarto dia e noite. Mas minha mãe dizia que era para o meu bem, que eu deveria permanecer em repouso até estar 100% bem.

Tinha desistido de encontrar o tal garoto, não tinha nenhuma pista além da aparência dele. Minha alma foi burra demais em não perguntar o nome dele.

- Acho que irei cursar Artes - Falei encarando meus pais

- Tem certeza que essa é sua decisão ? - Meu pai me encarava sério

- Eu sei que vocês queriam uma filha médica ou advogada... Mas tem sido a arte meu ponto de refúgio durante esse tempo.

- Claro querida, nós sabemos, não estamos decepcionados - Minha mãe me entregava uma xícara de café - Se é essa a sua decisão final, então iremos amanhã na faculdade realizar sua matrícula. - Sorriu

- Eu amo vocês, obrigada por não terem desistido de mim - Me levantei abraçando os dois - Tudo bem se eu for agora tomar um sorvete ?

- Quer companhia ? - Minha mãe já se levantava do sofá quando pousei minha mão no ombro dela.

- Esta tudo bem, serei rápida. Preciso esticar as pernas e pegar um ar fresco.

- Certo, toma cuidado - Meu pai voltou a prestar atenção no jornal.

Peguei o dinheiro colocando no bolso da calça, ao me olhar no espelho vi que não estava tão ruim assim. Amarrei o cabelo em um rabo de cavalo e fui até a sorveteria mais próxima. Meus fones tocavam alto a música da Taylor Swift - Enchanted, não era muito fã mas a música estava no meu top 5 das favoritas no momento.

Chegando no local vi algumas motos estacionadas, o que era estranho já que o local não era tão frequentado por pessoas de fora. Respirei fundo entrando no lugar e indo em uma mesa qualquer, observei que havia um grupo de rapazes vestindo um certo tipo de macacão preto, eles riam descontraídos enquanto zoavam um aos outros.

Fiz meu pedido e enquanto esperava tive a impressão de estar sendo observada, permaneci com o olhar fixo no meu celular tentando ignorar. Logo meu sorvete de morango com calda de chocolate foi colocado na minha frente, quando eu estava prestes a devorar ouvi o sino da porta tocar e duas pessoas entrarem. Todos os outros garotos que já estavam ali dentro batiam palmas enquanto gritavam pelo nome de um dos garotos.

- Olha ele de volta. - Um moreno de cabelos compridos se levantou indo até o garoto - Pena que continua baixinho.

- Nunca mais faça isso conosco, que susto nos deu - Um de cabelo platinado dizia enquanto tomava milkshake

- Vaso ruim não quebra, lembrem sempre disso - Ele dizia indo em direção aos amigos com uma risada nasalada - Eu precisei desse choque para voltar ao que eu era.

Eu estava paralisada com a colher pousada perto da boca caindo algumas gotas de sorvete. O cabelo loiro comprido e aquela voz... eu estava reconhecendo. Senti um olhar em minha direção e logo algumas risadas.

- Você nem voltou a ativa e está conquistando corações, já pode comemorar de um jeito especial, Mikey. - O moreno ria mostrando seus caninos enquanto me encarava.

Pisquei algumas vezes voltando à realidade, o tal Mikey não tinha virado para minha direção ainda, ele usava um garoto mais alto que ele de apoio já que o mesmo estava com uma das pernas engessada. Era a oportunidade perfeita para fugir dali. Deixei o dinheiro na mesa e segui em direção a saída, minhas costas ardiam como se estivesse sendo fuzilada somente com o olhar.

*Porque você esta fugindo depois de ter desejado tanto encontrar com seu... salvador ? E porque ele esta logo aqui ?. Esquece, tudo que eu vivi enquanto estava em coma foi apenas uma ilusão, não existe nada daquilo que minha mãe disse. Pare... Pare...*

Ei, você ai - Ouvi uma voz atrás de mim, olhei por cima do ombro vendo o garoto com diferença de tamanho assustadora, ele tinha o cabelo amarrado em uma trança e tatuagem na lateral. - Você por acaso é surda ? JÁ FALEI PRA PARAR ! - Ele deu um grito como se fosse me assustar, o que com certeza conseguiu.

- ME DEIXEM EM PAZ, EU NÃO FIZ NADA. - Falei correndo em direção a minha casa com coração acelerado, não escutei mais os passos atrás de mim o que não me fazia recuar e parar de correr. Queria estar em casa o quanto antes salva. 

LIGHTS - 𝐒𝐀𝐍𝐎|𝐓𝐀𝐊𝐀𝐒𝐇𝐈Onde histórias criam vida. Descubra agora