Capítulo 7

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POV PRISCILA

A medida que ia relatando para Carol, eu recriava as imagens em minha cabeça.

- Cometi muitas besteiras, algumas muito maiores do que tu pode imaginar. – Suspirei. – É impressionante o que se faz por um pouquinho de alegria. Por mais que ela seja falsa. – Dei um sorriso amargo. – Para conseguir as drogas eu fui além de tudo, somente não matei, mas o resto... – deixei no ar. – Quem vê por fora pensa que é fácil, que é só querer sair daquele mundo, mas as coisas não acontecem assim... – a encarei, para ver se prestava a atenção. - ...A dor é grande, parece inadmissível viver sem aquilo. – Ela assentiu, compreensiva. – E fora isso, existem pessoas como Lary, que são conhecidos como os chefes do tráfico. – Olhei para o teto. – Eles são muito gentis e amigos... – voltei a olhá-la – enquanto você está consumindo. – Acrescentei. – Depois disso, te tratam como um nada, te humilham e te fazem crer que não sobreviverá um dia sem seus produtos. – Suspirei. – Se isso não convence, eles apelam para a agressividade. – Respirei fundo. – Aquele rapaz na boate, que a maioria sente asco... – ela mordeu os lábios. - ...precisa de ajuda, mas quem vai dar?! – Dei de ombros. – Ele é só um vagabundo, a vergonha da sociedade, a parte que ninguém quer lembrar que existe. – Passei as mãos pelos cabelos. – Vão lá e ignorar, como me ignoravam no início. – Acho que nunca antes havia conversando sobre isso com ninguém, mas sentia que Carol era a pessoa certa para contar tudo de uma vez. – O que aconteceu comigo, a chance de me recuperar e o fato de conseguir, acontece com uma minoria. – Cerrei os olhos. – O buraco está muito mais em baixo do que as pessoas imaginam.

Carol: Na verdade, bem no fundo, todos sabem disso. – Falou, com a voz calma e baixa. – Mas fingem não saber, para descargo de consciência. – Assenti. – Acho que eu já fiz isso, inúmeras vezes, antes de tudo acontecer...

- Você foi um anjo. Certamente eu estaria jogada em algum canto essa hora, se você não tivesse aparecido em minha vida. – Beijei-lhe os cabelos. – Aliás, eu devo ela a você. – Disse sincera. – É impressionante a forma como me conquistou, em uma época que eu só tinha olhos para as drogas e nada mais.

Ficamos em silêncio mais um tempo. Até que Carol se pronunciou.

Carol: Hoje à noite foi cansativa. – Comentou. – Tente dormir... – disse com a voz terna. - ... amanhã é um novo dia. – assenti. E a abracei, acomodando-me melhor, ela selou meus lábios rapidamente. Fechei os olhos, tentando bloquear os pensamentos, somente consegui fazê-lo quando a garota em meus braços pegou no sono, porque então, passei a observá-la.

- Meu anjo. – Sussurrei, apertando os braços em volta dela.

Senti sua respiração calma tocar meu pescoço e percebi que tudo sempre vai dar certo se eu a tiver comigo, porque Carol é muito mais que a garota que eu amo, é o meu porto seguro, a minha força.

A sonolência não demorou muito a chegar, me tornando incapaz de seguir com as lembranças de um passado que certamente não se deixa apagar.

POV CAROLYNA

Merda.

Foi meu primeiro pensamento ao escutar o telefone tocar na manhã seguinte, passei a mão na cômoda ao lado da cama em busca de meu celular. Sem sucesso. Fui obrigada a abrir os olhos para conseguir encontrá-lo, ao meu lado Pri resmungava alguma coisa e esfregava os olhos, na tentativa frustrada de manter-se acordada.

- Alo. – Deitei novamente, enquanto bocejava.

Malu: Bom dia luz do dia. – cantarolou, animada.

- Hm... – Não consegui falar nada mais, além disso, minha voz saia terrível quando tentava, pergunto-me como ela consegue ter essa energia toda.

O Intercambio 2  - CAPRI Onde histórias criam vida. Descubra agora