CAPÍTULO 7

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Prendeu a sua respiração o máximo possível após submergir sua cabeça na água quente da banheira. Repetiu o processo diversas vezes, até que seus dedos ficassem enrugados pelo tempo em que estava no banho. A cada momento em que fechava os olhos sentia memórias antigas a atingirem como um tsunami, seu corpo se arrepiava de medo se preparando para o toque que não viria. Seus olhos iam em modo automático para a porta trancada e a barricada feita por ela com todos os objetos que encontrara no cômodo. Sentia que a qualquer momento ela seria escancarada e seu espaço pessoal seria invadido.

Se controlou ao máximo para não pegar suas lâminas no chão e desenhar em seu corpo as mesmas linhas brancas espalhadas por todo o seus braços e coxas. Se contentou em morder as dobras de seus dedos, tomando cuidado para não rasgar a pele e o sangue surgir.

Ficou ali. Tremendo dentro da banheira quente. Com seu semblante inexpressivo. Mordendo seus dedos e esperando a porta abrir.

Mas nada aconteceu, e sabia que nada aconteceria.

Continuou tremendo, da mesma forma de quando era criança.

Se odiava por seu corpo não ter sido capaz de suportar a droga. Podia contar nos dedos substâncias que conseguiriam deixar o seu corpo daquela forma, de resto, seu corpo treinado e aprimorado para aguentá-las e ser tão danosas como a água.

Aquele grupo era poderoso o suficiente para ter conseguido essa droga dopante, tudo graças a gangster Mogak Belly, precisava descobrir qual era aquela substância e quais eram a relação entre eles. Se arrependia por ter deixado o cara inconsciente, se não morto, e agora não teria respostas. Sentia que algo bem errado havia acontecido, e uma merda grande estava por vir, mas era óbvio que isso iria acontecer. Só precisava proteger aqueles dois homens e tirá-los daquela situação, só não sabia como.

Caso o sequestro pelo carinha de cabelos verdes não acontecesse, a briga que tiveram no momento anterior teria definido o fim do trio. Reiyeh iriam embora sem olhar para trás, Roy voltaria para sua casa e resolveria seus assuntos familiares e Kristian teria sido pego e morto pelo próprio pai. Nenhum deles havia se dado conta que o sequestro havia os deixado juntos, mas se isso era algo bom ou ruim, era outra história.

Querendo fugir dos pensamentos sentimentais, focou no que teria que fazer agora. Já havia feito o pedido de More, Kristian houvera entregado o papel e depois elu resolveria os assuntos com o dono do número. Assim poderiam ficar na casa o tempo que quisessem, ou até o androide os jogar para fora.

Em algum momento em que tracejava diversos possíveis planos ela cochilou e acordou com o som de alguém esmurrando a porta e gritando ''Reiyeh, eu preciso fazer xixi, por favor!''. A água já estava gelada, não tinha ideia de que horas eram, seus dedos ainda estavam vermelhos das mordidas e o cabelo fora da água seco. Mergulhou na banheira e depois saiu rapidamente enrolando uma toalha na cabeça, não queria usar as roupas sujas de antes, que estavam jogadas em um canto. Tirou os objetos da barricada em que um deles era um armário com toalhas, roupões e outros acessórios de banheiro, que ela mesmo havia colocado pois o andróide não se banhava.

Vestiu o roupão, mal abriu a porta e o homem já corria para dentro. Saiu desviando dele e depois indo a lavanderia para buscar roupas limpas. Ignorou a presença do outro homem deitado no sofá que observava em volta enquanto comia um sanduíche, pegou suas roupas e esperou Roy sair do banheiro para se vestir.

— Opa! — Disse ao dar de cara com a mulher emburrada. — Fiz sanduíches, se quiser, estão em cima da bancada.

Concordou com um aceno e entrou no banheiro. Roy do lado de fora se sentou do sofá ao lado de Kristian que já não estava mais deitado, ligou a televisão e ficou surfando pelos canais, ambos em silêncio com o homem comendo os últimos pedaços de seu sanduíche.

Os Caçadores FuriososOnde histórias criam vida. Descubra agora