CAPÍTULO 55

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Adentrou pelo teatro escuro, uma extensa fileira de cadeiras se prolongavam defronte ao palco, e ao seu redor, pilastras negras incrustadas de rubis elevavam até a abóbada que pendia um lustre apagado. As cortinas pesadas vermelhas percorriam por todo salão, como sempre, a cor presente em abundância em todo o castelo monocromático.

Se sentou em uma das primeiras fileiras, um ponto confortável para assistir a homenagem prestada. Elevou sua postura e uniu suas mãos escondendo seus tremores e respirou fundo ao ver as cortinas se abrindo e o teatro se apagando completamente para logo luzes surgirem no palco.

Uma clara luz etérea iluminava três dançarinos, a Rita, a Morgana, e o Mircah, que adentravam no palco. Uma doce melodia de piano preenchia os arredores, e descobriu que, o seu musicista era o mesmo garoto o qual havia lhe entregado a joia presente em suas mãos, Khien. As dançarinas pareciam voar sobre o palco, suas roupas claras e esvoaçantes se tornando seus pares na coreografia, logo o ritmo foi diminuindo até que todas se uniram e começaram a entoar um único canto harmônico. Suas vozes ecoavam por todo o teatro, a acústica do ambiente contribuindo para o poder de seu cântico combinado.

Assim, em uma opera, começaram a recitar uma história, a história da Deusa da Lua. E assim que o conto começou, viu uma mulher de cabelos platinados entrar em cena. E ao vê-la, se lembrou de quem era. Aegis era seu nome, a primeira cortesã que Mei conseguiu tirar do bordel.

Aegis era uma linda mulher, seus cabelos tão brancos como seus olhos cegos. A cortesã tentando se livrar de sua vida, cegou a si própria, com o intuito de ser expulsa ou até mesmo morta por não ser mais digna. Entretanto, não conseguiu nenhuma das alternativas e continuou presa naquele lugar. E Moama ao ver tamanho sofrimento decidiu tirá-la dali, roubou todos os seus clientes e a fez ser mal vista e mal falada, e dessa forma, se tornar apenas uma peça inútil e descartável. Foi atirada nua para morrer em uma viela, mas Moama a esperava e a levou para o futuro lugar a que se tornou o Sangreal.

Aegis interpretava a deusa da lua, e dançava conforme a história fluía. Em uma terra distante, a deusa da lua cuidava de suas plantações, protegia os frutos, refletia as marés, iluminava a escuridão da noite e trazia sua beleza a quem a observava. Reinava alegre em seu mundo de paz. Então, um dia surgiu um homem encantado por sua graça e hipnotizado pela sua luz. Mircah surgiu interpretando o homem na história, seu canto se calando como se estivesse imerso na beleza da deusa, sendo içado pela luz e deixando o seu grupo de ópera.

Moama lembrava de sua história, Mircah havia matado um de seus clientes, em um ato de desespero contra a tamanha violência que sofria, e foi destinado à morte pelas mãos de Yancy, mas Moama interviu, dizendo que seria melhor vê-lo morrer pelas suas próprias lâminas, e assim forjou a morte de Mircah, enganou seu cafetão e o levou à Sangreal.

Mircah, que interpretava o homem da história, dançava tentando conquistar a deusa da lua, que dos céus sempre o observava. Ele dormia durante o dia e acordava à noite, para dançar e reverenciar a deusa, soltar encantos e cortejos para o luau. Declarava todos os dias seu amor pela lua e derramava suas lágrimas e sangue a espera da deusa o escutá-lo. Então um dia, a deusa comovida com suas palavras, decidiu ouvir suas preces e foi se encontrar com o homem. Saiu das águas que refletiam a lua cheia e se encontrou com ele, que contente a recebeu com alegria. Festejou por toda a noite, recitou poemas e poesias para a deusa tão amada, se declarou e dançou até que seus pés doessem. Entretanto, antes do amanhecer, a deusa precisou ir e o homem desesperado implorou para que ela ficasse, todavia, a deusa não podia, devia retornar ao seu lugar para apenas vir a visitar na noite.

O homem não ficou feliz e todas suas palavras de amor e alegria se tornaram maldições, lançou pestes e rogou por desgraças para a outrora amada deusa da lua. E em um ato cruel e impiedoso, o homem aprisionou a deusa. Com correntes a levou para o fundo de uma caverna, onde a deixou presa e miserável. E assim, ela nunca mais viu o homem ser feliz, nunca mais o viu cantar e nem dançar.

Os Caçadores FuriososOnde histórias criam vida. Descubra agora