CAPÍTULO 53

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Ambos os homens estavam vestidos e prontos para irem ao Sangreal. Roy ficou extremamente eufórico ao descobrir que a sede da máfia era um enorme castelo como nos filmes que assistiu. E por mais que estivessem animados com a visita, seus peitos se enchiam de ansiedade enquanto esperavam pelo aviso de Mei no celular.

Ela finalmente iria contar, explicar a eles sua história, seus nomes, e todas as incógnitas e lacunas. E estavam mais nervosos do que imaginavam, por mais que estivessem curiosos, sentiam que iam cruzar a linha que a mulher nunca havia permitido. E descobrir o'que havia do outro lado, era aterrorizante.

E quando a mensagem chegou a eles, pedindo para subir ao telhado, já era noite. Um vento frio batia em suas roupas fazendo o corpo de Roy se arrepiar quando pisaram no terraço do prédio hospitalar. Caminharam até um pergolado de vidro que havia ali, com alguns bancos estufados espalhados. As luzes dos prédios à sua volta iluminavam o terraço escuro, anúncios gigantes passavam em hologramas e outdoors, sendo aquela mesma poluição visual de Toskosoko. Ali de cima era possível escutar os sons abafados das rodovias, dos seres que vagavam nas ruas vivendo suas vidas e dos mais inúmeros barulhos da cidade grande.

E na ponta do terraço embaixo do pergolado, estava Mei.

Seus cabelos balançavam com o vento, dançando em uma sinfonia silenciosa, poucas luzes batiam sobre ela, sendo sua silhueta pouco visível, mas ainda viam que vestia um roupão preto. Ela estava de costas para eles observando a cidade abaixo de si.

Se aproximaram em silêncio e então ela disse, sua voz fria e calma:

— Sentem-se. — Esperou fazerem o'que pediu e continuou: — Antes de eu contar, eu quero que quando acabe, vocês nunca mais falem nada sobre isso, nenhuma pergunta, nenhum comentário. Finjam que isso nunca aconteceu.

As mãos de Mei tremiam e suavam, se mantinha de braços cruzados abraçando seu próprio corpo tentando se acalmar. Não queria falar, não queria dizer nenhuma palavra. Não sabia nem se existiam palavras para aquilo. Mas precisava, duvidava se realmente. Contudo, na situação em que estavam, se ela não contasse, alguém iria. E queria que escutasse de sua própria boca, e não na de outros. Se fossem a enojá-la, se a odiassem, que fosse por ela mesma.

Mas estava com tanto medo.

Não podia mais negar o quanto gostava daqueles dois, de tudo que eles fizeram por ela, de todas as risadas, das brincadeiras, das conversas, dos momentos em que a levantaram e das lágrimas invisíveis enxugadas. Às vezes não conseguia acreditar que eram reais, se perguntava como que alguém poderia ser seu amigo, como alguém poderia amá-la, de continuar ao seu lado e ser corajoso o suficiente para enfrentar tudo oque era. Mas eles ficaram. Era um pensamento a qual se agarrava. E será que continuariam depois que descobrissem? Agora, finalmente, seu medo cessaria ao descobrir se eram reais ou apenas um sonho, e não conseguia deixar de temer que sumissem, que no fim fossem apenas uma alucinação de suas ilusões. De que a verdade cruel tornasse a ser que, os homem a quem tanto amava serem como todos os outros ao longo de sua vida, e receber aquele temido olhar que sempre repudiou.

Iriam deixá-la se escutassem toda a verdade? Se descobrissem quem era ela e de quem são os monstros que a assombram? Seriam corajosos o suficiente para ficarem?

Mesmo ela querendo ir embora, deixá-los, os libertar de si, ela ficou. Não os merecia, não era digna de felicidade, não merecia alguem que a fizesse rir, pois, no final apenas destruía. E era questão de tempo para fazer isso com eles, e não queria os machucar. Desde o começo tentou fugir, mas não conseguiu, aos poucos foi se apaixonando e descobrindo como é ter alguém ao lado, um amigo. E descobriu oque era o amor, o verdadeiro, e não as ilusões e falácias que a ensinaram. Mas não se sentia o suficiente para eles, pois estar consigo era estar fadado à morte. E gostava demais deles para amaldiçoá-los. Tentou fugir, se fechar, mas sempre tropeçava e os deixavam entrar, e se odiava por não conseguir afastá-los, e se odiava ainda mais por gostar de tê-los ao seu lado. Nunca esteve tão feliz, e se viu ser capaz de confiar em alguém novamente, em uma proporção que nunca imaginou realizar. E tinha medo disso, pois sabia que ela própria nunca seria merecedora, era destrutiva, uma vadia, um monstro, uma assassina. Às vezes pensava que se por fim se matasse seria melhor, pois era tarde demais para fugir daqueles dois, então seria melhor acabar consigo antes que ela própria os destruíssem.

Os Caçadores FuriososOnde histórias criam vida. Descubra agora