CAPÍTULO 26

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Ainda ninguém ousava encarar Mei e Kristian, esperando a porta do líder viam milhares de espécimes olhando para o chão. O pátio aberto em que aos lados subia prédios com sacadas, local onde guardas armados e com camisas cobrindo seus rostos ficavam. Então de dentro da sala, saiu uma mulher gorda e usando roupas fofas, mas seu cenho portava uma feição séria e fria. A mulher os chamou para dentro e assim fizeram.

A sala era escura, a única iluminação era vinda de um abajur em uma mesa de escritório no centro da sala, sua luz amarela e fraca. Não era possível enxergar nada direito ao seu redor, apenas as formas escuras dos objetos. Um cômodo frio dando uma sensação de vazio. Sentia uma vibração estranha no ar, um frio na espinha alertando perigo. O estranho silêncio intensificando o instinto de sair dali. Kristian sentiu medo subir suas veias, a escuridão firmando o sentimento assim como a luz que parecia fogo. Pânico ameaçava brotar, se continuasse encarando a luz, memórias antigas tomariam sua visão. Fugindo então, mudou seu olhar para seu parceiro.

Roy olhava para o chão, sua cabeça inclinada para baixo como submissão. Suas mãos cerradas grudadas em seu corpo rígido de tensão. Em contraponto, a mulher ao seu lado parecia confortável, o peito estufado como uma rainha, seus olhos mortíferos encarando algo. Ver sua confiança diminui o pavor em seu peito, mas isso durou poucos segundos antes de algo escuro se movimentar atrás da mesa.

Algo grande e pesado arrastou a cadeira, sendo uma sombra enorme que não sabia onde era seu fim. Braços foram iluminados pelo abajur quando Cuxiú apoiou seu queixo em seus punhos se encostando na mesa. Ao invés de um rosto humano, residia ali uma cabeça de macaco, ou melhor de um Cuxiú-preto. Cicatrizes tomavam sua face, e fios brancos sua pelagem. Seu semblante escurecido, agressivo e cruel, com a falta de luz ambiente o tornava mais amedrontador. Abriu sua boca e quando o ar passou por suas pregas vocais, as paredes tremeram com o som bruto e grave, tão profundo que era quase impossível entender suas palavras.

— Touro, o que faz aqui?

— Chefe, venho alertá-lo sobre um perigo crescente. — A voz de Roy era baixa e submissa, isso fez raiva despertar no peito de Mei. — Cargas de Sangreal foram roubadas, corremos o risco de sermos atacados pela máfia, senhor.

— Estou ciente disso, e não vejo o perigo crescente, somos capazes de enfrentá-los. — Cuxiú disse friamente, mas no fundo havia um tom de desprezo.

Não são.

Mei pensou. Nem toda a força bélica de O Rebanho seria capaz de acabar com um dos Senhores do Submundo. Se manteve calada, guardando sua raiva, não queria fazer merda. Mas não deixou nem um momento de encarar o líder ali sentado, ela deixando bem explícito oque era capaz através de seus olhos.

— Chefe, a comunidade corre perigo, não podemos permitir que algo os atinja. — Roy deu um passo à frente tentando mostrar que era algo importante, mas Cuxiú viu isso como uma afronta e fechou seu cenho em raiva.

— Não discuta comigo, Touro. — Cuxiú ameaçou, sua voz fazendo a sala gelar ainda mais.

Roy parou de respirar.

Kristian sentiu seu pelos eriçarem, percebeu que não foi uma boa ideia vir ali. Assumia, era fraco. Não tinha a capacidade de lutar contra suas memórias, seus pesadelos batiam em suas costas, sentiu o ar saindo de seu peito. Mas não iria demonstrar, se manteve rígido e com a coluna bem eriçada. Deu um passo ao lado tentando chegar mais perto de sua parceira, tinha medo de ser inútil e não conseguir lidar com suas próprias tempestades e acabar destruindo tudo.

Mei percebeu sua aproximação e Cuxiú também. Seus olhos prenderam em Kristian e logo abriram em reconhecimento, Mei na mesma hora enfiou em sua frente o obrigando a encará-la.

Os Caçadores FuriososOnde histórias criam vida. Descubra agora