Hospital

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Saio da sala e eles logo saem e vão para suas sala, passo por Laura que está focada no computador e fazendo anotações na agenda e sigo para o banheiro do meu andar. 

Quanta falta de respeito o senhor Correa teve comigo, isso me deixa visivelmente irritada, eu sou capaz como o meu papá e isso está bem claro nesses anos que assumi a vinícola depois de seu falecimento, tenho cuidado e zelado como ele me falava quando eu era criança antes de ser forçada a ir embora, o que me deixa mais irritada, é que ele se acha no direito, ele pode ter anos de trabalho ao lado do meu papá, mas isso não dá o direito.

Eu confesso que estou preocupada com a situação da safra e produção, eu não me arrependo de ter ido com Apolo na lua de mel, mas isso me custou essa situação de ter o atraso maior, deixei o Matteo no meu lugar, e ele fez um bom trabalho, mas mesmo assim, temo que isso vire uma bola de neve.

Entro, tranco a porta, vou até o vaso, abaixo a minha saia e faço o meu xixi normalmente, e quando vou me limpar, vejo o papel manchado com sangue. Isso automaticamente me congela, jogo o papel no lixo e pego outro, e sai igual ao outro, manchado de sangue vermelho vivo, passo uma última vez e sai novamente.

Temo que o pior esteja acontecendo.

Meu coração dispara, o sentimento de irritação dá lugar ao de medo, isso me gera um gatilho da última vez que isso aconteceu e eu não posso deixar isso acontecer de novo, não posso perder esse bebê, preciso manter ele aqui sã e salvo.

Ergo a minha calcinha e saia rápido, vou para minha sala correndo, começo juntando as minhas coisas e colocando na bolsa.

- Geo, eu queria ver se você... - Laura entra na sala e me vê jogando as coisas na minha bolsa. - Tá tudo bem? - Ela pergunta se aproximando.

- Uhurum. - Respondo sem olhar para ela e desligando o computador.

- Tem certeza? Você passou como um furação e tá toda agitada. - Ela fala chegando mais perto.

- Carmem... - Minha voz embarga. - Eu fui no banheiro, e quando fui me limpar, saiu uma mancha de sangue. - Nessa hora meus olhos ficam marejados e minhas narinas abrem e fecham, pois seguro o choro.

Ela chega mais perto de mim, segura a minha mão.

- Você precisa ligar para o Doutor Elliot, e ir para o hospital. - Ela fala preocupada.

- Eu estou indo, vou pegar e ir. - Olho para ela e sinto um nó na garganta.

- Você já avisou o Apolo? Quer que eu avise? - Ela fala prestativa.

- Não, não, eu vou ligar, ligue para o doutor por favor. - Me solto da sua mão e caminho apressada para a porta. - Só desmarca a minha agenda de agora a tarde por favor. - Peço saindo.

- Pode deixar, farei. - Ela fala saindo da sala também.

Procuro o meu celular na bolsa, encontro e ligo para o Apolo que atende logo.

EleOoi deusa, que surpresa boa.

Eu: Marido... - Respiro fundo segurando mais as lágrimas. - Estou indo para o hospital maternidade, me encontre lá. - Falo de uma vez só com  um pouco da coragem que me resta.

Ele: Por que? O que foi? O que aconteceu deusa? - Sua voz é pura preocupação.

Eu: Pessoalmente te falo, estou indo para lá, me encontre, beijos, te amo. - Falo tudo rápido para não dar tempo para ele fazer mais perguntas, apenas ir.

Meu coração aperta por ouvir ele todo preocupado e logo me lembro de como Apolo ficou quando recebemos a notícia daquele aborto, ele me prometeu de que não ficará novamente assim, caso isso aconteça novamente, mas eu sei que aquilo matou um pouco ele, e que reviver isso pode ser mais frustrante ainda, tenho receio que isso nos distancie novamente.

Tão sonhadoOnde histórias criam vida. Descubra agora