Passo semanas pensando no que Laura me contou no saguão do hospital, talvez ela tenha entendido mal o nome, bom, as vezes algumas palavras em italiano confundem quem não o fala ou não tem contato com a língua.
É um fato que por mais que eu tente saber sobre a vida pessoal do Matteo, menos eu sei. É como se ele manteasse o mesmo padrão de rotina, qualquer vestígio de qualquer informação sobre si mesmo acaba sempre caindo no que já sabemos. Damos voltas e acabamos na mesma rua sem saída.
Posso estar sendo um pouco exagerada em pensar assim, mas isso me deixa cada vez mais preocupada.
Estou até cogitando a possibilidade de contratar um detetive particular para segui-lo. Eu sei, é loucura, mas não consigo me manter calma e sem pensar em bobagens quando penso na palavra Capos. Por essa razão, revolvi vir na casa de mamma enquanto Matteo está na vinícola para dar uma investigada e tirar as minhas dúvidas.
- Mamma. - A chamo na porta do casarão. - Mamma... Mamma está em casa? - Pergunta um tom mais alto.
- Estou qui. - Ouço ela gritar vindo da cozinha.
Vou entrando para dentro do casarão e ela logo aparece secando as mãos no seu avental um pouco surrado e passando o braço para tirar os fios de cabelos soltou do rosto.
- Ma che buona visita! - Ela abre um sorriso para mim e estica os braços para um abraço.
- Benedizione Mamma. - Peço a benção no abraço.
- Dio ti benedica sempre. - Ela desfaz o abraço e coloca a mão na minha barriga.
- Amém. - Respondo abrindo um sorriso.
- Venha qui, estou fazendo il pane. - Ela me chama indo em direção a cozinha.
Eu a sigo para a cozinha e logo me sento na ponta do banco de madeira da mesa.
- Geógia! Non sente lì, questo banco é perigoso, può cadere.(pode cair) - Ela exclama gesticulando para eu sentar mais para o lado.
Eu me ajeito mais para o meio do banco vendo ela voltar a amassar a massa de pão sobre a mesa.
- E come sta mio neto? - Ela pergunta fazendo força ao sovar o pão.
- Está bem, essa semana acredito que já dê para sabermos o sexo do bebê. - Respondo para ela e brincar com uns farelos de farinha espalhado pela mesa de madeira.
- Spero seja outro ragazzo, assim terei o meu Il volo. - Ela brinca ao começar a corta a massa ao meio.
- Está moderninha dona Giovanna. - Brinco com ela.
- Eles cantam bellissimo, Ignazio, o tenor, lembra muito mio Guiseppe. - Ela junta as mãos, quase encosta na bochecha direita e inclina a cabeça levemente para esse lado e me olha com um olhar que mistura amor e dor.
- Ignazio do Il volo lembra pappa? - Pergunto um pouco curiosa.
- Si, tuo papa quando ragazzo, mio Guiseppe, tinha uma voce bellissima, quando ho incontrato, tuo papa cantava per me. - Ela fala e seus olhos se enchem de lágrimas e ela as secas com o braço, pois está com as mãos cheias de farinha. - Quanta saudade de tuo papa.
Levanto do banco e vou até ela, dando lhe um abraço apertado e um beijo no topo da cabeça que já tem uns fios brancos.
- Eu também sinto, mamma. - Falo com a voz embargada por segurar o choro e solto o abraço.
- Mas, per cosa veio fazer qui? - Mamma pergunta voltando a amassar o primeiro pedaço de massa sobre a mesa.
- Nossa mama. - Faço um drama de leve ao voltar a me sentar no banco. - Eu vim aqui tirar uma dúvida com a senhora. - Olho para ela que inclina o rosto para que eu continue. - a palavra Capos, tem algum significado? -Pergunto despretensiosamente.
- In italiano è chefe. - Mamma responde começando a enrolar o primeiro pão.
- Sim mamma, eu sei, mas minha dúvida é se pode ser tipo um apelido? Um jeito de chamar alguém que não seja chefe. - Falo tentando observar ela com expressão que está pensando.
- Non qui in Brasile, ma in Itália sí. -Ela abre a massa com a garrafa que está próximo à ela na mesa.
- Mas, um italiano pode chamar o outro assim, sem o outro não ser chefe? Sem ter qualquer vínculo assim? Sem serem de fato chefe e funcionário? - Pergunto finalmente o que vem tomando a minha mente, o que me deixa tão questionadora.
- Parlare logo, quem foi chiamato così? - Mamma começa a fica irritada e me olha um pouco séria.
- Matteo mamma, chamaram Matteo de Capos. - Solto de uma vez.
Mamma imediatamente para o que está fazendo e me olha um pouco assustada.
- Mio Matteo? Non Geórgia! - Ela parece ter tomado um choque e fala firme. - È un engano.
- Há umas semanas, um rapaz com um sotaque italiano foi até a vinícola procurar por um tal de Capos, assim que Matteo o viu, ele logo o seguiu para minha sala, conversaram por uns 40 minutos e o rapaz sai as pressas. - Conto à ela o que Laura me contou.
Mamma fica séria, imóvel com os lábios pálidos.
- Mamma? Mamma? - Chamo por ela. - Está tudo bem mamma? - Pergunto me levantando do banco e indo até ela.
Ela balança a cabeça negativamente bem sutilmente.
Vou até a geladeira, pego um copo d'água e misturo com um pouco da torneira e entrego para ela, que pega o copo ainda em choque e bebe.
- Geórgia, quem parlò isso per te? - Ela me olha séria terminando de beber a água.
- Laura mamma, Laura me disse no dia em que o Eros acordou. - Conto para ela em pé ao seu lado. - Lembra desse dia? - Pergunto observando ela a franzir o cenho.
- Sí. - Ela responde seco. - Perché no me disse antes? - Ela se vira para mim e me encara.
- Porque eu não quis deixá-la preocupada mamma, porque na Itália isso signifi... -Ela me interrompe.
- Shiiiuuu. - Ela coloca o dedo indicador sujo de farinha nos meus lábios diminuindo o tom de voz. - Non dire questa cosa qui. - Ela olha para os lados, para as duas funcionárias que estão próxima à nós. - Io sei o che cos'è. - Ainda com o tom baixo, está é uma das poucas vezes que a vi falando baixo.
Nena, foi por muitos anos a governanta e auxiliar de mamma na cozinha, agora é apenas governanta e companhia para mamma. Achamos melhor, quanto filhos, contratar uma auxiliar de limpeza e uma auxiliar na cozinha, pois mamma é teimosa e ainda quer limpar e cozinhar esse casarão todo sozinha.
- Mamma elas nem estão por perto. - Falo com os lábios um pouco travado devido a dedo de mamma ainda na minha boca que ao perceber, tira.
- Georgia Luna Capeletti. - Mamma fala meu nome séria me olhando nos olhos.
- Adrastéia, Mamma. - Completo meu nome com meu sobrenome de casada.
- Sí, sí. Adrastéia. - Ela fala o meu sobrenome grego. - Promettere, che non vai dire para ninguém questa cosa, capisco?. - Ela me olha atenta. - Andiamo, promettere para tuo mamma.
- Sim, mamma. Eu prometo não contar à ninguém sobre isso. - Prometo a olhar nos olhos dela.
- Está bem, punto e basta! - Ela fala e se vira para voltar a enrolar o pão que começou.
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Tão sonhado
RomanceGeórgia e Apolo podem enfim viver o amor que tanto lutaram para ter. Depois de vencerem todos os obstáculos, enfim, casados. A vida de casados é um pouco agitada, pois eles trabalham em turnos diferentes. Geórgia continua mais do que nunca dedicada...