Oportunidade

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- Eu estava aqui por perto e pensei: Porque não dar uma passadinha e ver o meu fratellino (irmãozinho). - Respondo no mesmo tom de brincadeira e me ajeito em uma de suas poltronas em frente a sua mesa, ficando cara a cara com ele.

- Confessa, mamma te pediu para vir aqui, não foi? - Ele fala me olhando e juntando as mãos sobre a mesa.

A verdade é que eu vim aqui foi mais para tentar coletar algum dado relevante sobre o assunto que Laura me falou e sobre a conversa recente que tive com mamma, ou tentar descobrir algo sobre a vida pessoal de Matteo, na qual venho me dando conta que não sei nada. Posso estar sendo evasiva, mas em uma família de italianos onde a privacidade está apenas no dicionário, alguém com a vida tão privada assim, me deixa com os sentidos aflorados e eu não vou conseguir ter paz enquanto não souber o que há com o Matteo.

Eu não sei explicar, mas como diz o ditado: "Se há fumaça, há fogo". E se eu sinto o cheiro de fumaça, pode procurar pelo fogo, não costumo falhar no quesito intuição e algo me diz que Matteo tem algo que não está deixando transparecer.

- Não, eu vim porque quis. Não achei que este lugar estaria tão mudado assim, pensei que gostasse de como as coisas eram quando eu estava gerenciando, nunca me fez uma única sugestão. - Deixo um pouco do meu incomodo escapar.

- Que isso, Geo! - Ele exclama. -  Não, eu só coloquei um pouco do meu jeito nas coisas, acabou sendo quase que inconsciente e involuntárias essas mudanças. - Ele me responde tranquilo.

A tela do seu notbook ascende e ele vira a cabeça para olhar.

- Eu vi, um jardim na entrada, um recepcionista no saguão, os móveis nesta sala, o que mais mudou? A forma de cultivo das uvas? Ou a forma como produzimos nossos vinhos? - Pergunto impulsivamente, séria e demonstrando o meu incomodo com toda essa mudança.

Ele nota que meu comportamento mudou, e se vira para mim novamente. 

Ter um temperamento forte é difícil de segurar quando se tem um turbilhão de hormônios no organismo, não pensei que a gestação pudesse trazer de volta o meu temperamento antigo, se zia Victória convivesse comigo novamente, com toda certeza viveria me reprendendo, como fez no passado. Na verdade todos ao meu redor tem feito breves comentários sobre isso, mas decidi que não vou deixar mais ninguém me moldar, eu tentei ser mais racional, ser mais responsável e contida, e o que me adiantou? As coisas foram tiradas de mim, pessoas me subestimaram e fui reduzida a uma simples e frágil: mulher grávida. 

- Geo, estou tentando deixar o prédio mais atrativo e seguro. O jardim foi ideia de um de nossos clientes em uma visita, e eu pensei porque não? E segurança é segurança né? - Ele se justifica me estendendo a mão sobre a mesa. - Se você quiser, podemos voltar como era antes. - Matteo me dá essa opção. - E eu seria terrivelmente insano se mudasse o cultivo ou produção, papá viria do além puxar o meu pé. - Ele descontraí com uma piada que me arranca um riso.

Percebo o quão inflexível eu estou sendo com essas mudanças, o quão são coisas pequenas e eu estou potencializando tudo devido a essa demissão que o conselho me deu, onde acabou se tornando uma bola de neve dentro de mim.

- Não, tudo bem. Eu exagerei. - Respondo pegando na mão dele e sorrindo.

- Sinta-se à vontade para sempre me falar o que te incomoda aqui. - Ele me olha nos olhos, eu assento e soltamos as mãos.

- Matteo, eu estava esses dias me lembrando de zia Victória, lembra de como era delicioso os pães dela? - Tento entrar no assunto despretensiosamente.

- Eu que me lembro, quentinho saindo do forno, são uma delicia. - Ele fala se virando para o notbook novamente.

- Nossa, pensei que você não se lembrava, você foi quantas vezes para lá? Umas 4 ou 5 vezes? - Tento soar indiferente, sem demonstrar extrema curiosidade.

Tão sonhadoOnde histórias criam vida. Descubra agora