Capítulo Sete

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Três dias.

Três dias para eu poder ter o primeiro sinal de vida de Hugo. Um sinal que viera junto com a primeira refeição que Luiz trouxera para mim. Um bilhete para ser mais exata. Escrito com letras finas e caídas de lado que, eu tinha que admitir, serem bem melhores que os meus garranchos.

"Espere-me hoje à noite

Hugo."

Por causa do bendito bilhete passei o dia inteiro inquieta, andando de um lado para o outro para tentar amenizar a ansiedade. Não que tenha funcionado de imediato, mas ao anoitecer minhas pernas superaram minha vontade de ficar de um lado para o outro.

Parada perto da janela fico observando a beleza singela das esporádicas estrelas e o contraste da lua prateada no céu negro. Uma vista a qual nem todos têm o privilégio de ver, já que obviamente grandes metrópoles tampam tamanha beleza natural. Mesmo estando presa, eu estaria a apreciando mais, se uma ansiedade não me devorasse de dentro para fora...

Tão perdida em meus martírios que dou um pulo quando a porta é aberta. Viro no exato segundo que Hugo entra e fecha a porta com extremo cuidado atrás de si. Leva pelo menos um minuto inteiro para que ele se vire e, quando faz isso, não faz nada a não ser me encarar.

Vestido com uma calça jeans e uma blusa cinza, que realçava seus olhos, espero que ele tome a iniciativa. E, enquanto espero, é impossível não perceber o cansaço que serpenteia pelo seu rosto. As olheiras escuras debaixo de seus olhos e uma barba por crescer evidenciam isso, mas, mesmo assim, eu ainda o acho um dos mais belos homens que já vi...

-Você está bem? -pergunto dando um passo para frente, meio que esperando alguma reação dele.

-Eu já sei como vou tirar você daqui. -ele rebate ignorando minha pergunta anterior. -Se você ainda quiser sair daqui, é claro...

Ao ele deixar as palavras no ar simplesmente abro a boca para responder de imediato! Mas a indignação é tão grande, que só bufo primeiramente. Assim que prendo meus olhos nos seus, a frieza que encontro é totalmente diferente do que já vira naquelas ônix verdes. Elas combinavam perfeitamente com as suas palavras duras que, me deixavam, extremamente confusa!

-Mas é claro que eu quero sair daqui! O que faz você pensar que eu quero ficar nesse maldito lugar?!

-Eu vi muito bem que, há dois dias atrás, você estava bem próxima de Victor. Talvez, ele possa ter feito você mudar de ideia... - ele diz com um tom suave impregnado de sarcasmo.

-Era você na janela.

Pela sua expressão não tive mais dúvidas. Era ele que estivera na janela vendo Victor e eu no jardim.

-Sim, era eu. Pensei que não havia me visto.

A ironia que desprendem de suas palavras fazem com que eu o olhe um pouco espantada. Ainda o observando poderia jurar que toda aquela ironia era ocasionada por um sentimento: ciúmes. Mesmo que ele não demostrasse com palavras, sua postura rígida e seus olhos duros e insondáveis, não conseguiam esconder tão bem. Sinto com isso meu coração estúpido dar duas batidas mais rápidas, pois se ele estava com ciúmes era por que no mínimo gostava um pouco de mim.

Bom, pelo menos é assim que eu quero pensar...

-Eu não fui com ele totalmente por opção! Além de que, assim que vi você, pedi para voltar para o quarto. Teria explicado se você tivesse vindo antes!

Minha convicção em fazer ele ver as coisas de outro jeito até funciona, mesmo que ele não admitisse. O mínimo alívio em seus olhos é perceptível para mim, que dou mais um passo em sua direção.

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