Capítulo Onze

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Dormir seria mais fácil, se buzinas não fossem apertadas a todo momento aleatoriamente!

Dispersando a névoa do sono de minha mente levanto minha cabeça, que até então estava encostada em algo duro. Ao abrir meus olhos gradativamente logo percebo que minha cabeça estivera apoiada na janela. Olho feio para ela enquanto passo a mão em meu rosto e reprimo um bocejo. Ao me localiza por completo noto o que faz as pessoas não pararem de apertar as azucrinantes buzinas. Um congestionamento, para ser mais exata, que quase repuxa meus lábios em um sorriso.

Céus, achei que nunca mais veria um!

Viro minha cabeça para o outro lado e logo noto Hugo me observando. Um embaraço me sobe as bochechas e eu olho para frente novamente. O congestionamento não se mostra ser muito grande, já que mais a frente os carros pareciam andar mais rápido. Mesmo com isso é evidente ouvir as reclamações e o praguejar de quem odeia ficar esperando.

-Bom dia, Hugo. -digo assim que prendo meu cabelo em um rabo de cavalo.

-Bom dia, Julia.

A calma no tom de Hugo é completamente diferente dos demais motoristas, que mostram uma tremenda irritação com o congestionamento. No entanto, eu estou maravilhada! Não via nada além de quatro paredes por tempo demais!

-Onde nós estamos? -pergunto ao começar a alongar meus músculos rígidos, mas ao ele responder qualquer músculo alongado voltou a ficar rígido...

-Nós há alguns minutos entramos em São Paulo e....

Como assim tínhamos acabado de entrar em São Paulo?

-Eu pensei que lá fosse São Paulo!

-Não, você estava no Paraná, quase na fronteira com São Paulo. Lá é bem escondido o que é bom para os negócios de Victor, pois é difícil de achar aquele lugar. -ele olha para mim notando a confusão em meu rosto. -Você não lembra o quanto demorou para você chegar lá?

-Na verdade não. Já que eu estava dopada a metade do caminho.

Sou incapaz de esconder minha amargura. Aquele dia tinha sido o começo desse pesadelo no qual não poderia acordar até Hugo me salvar...

-Mas então você dirigiu a noite inteira?

-Sim e, até que seu ronco é bonitinho. -ele solta uma risadinha.

-Eu não ronco!

Negar imediatamente não faz nada além de o fazer rir ainda mais. A sua risada contagiante, no entanto, só me faz rir também. Mesmo ao pararmos de idiotice eu mantenho meus olhos nele. Ele não parecia tão cansado, quanto eu estaria se estivesse em seu lugar. O que o denunciava era o leve escurecimento de baixo de seus olhos verdes. Totalmente diferente de mim, que mesmo que tivesse dormido o restante da madrugada, ainda me sentia cansada. E, uma coisa que eu adorava era dormir. Sair da realidade, mesmo que por poucas horas, é o que me sustentou nos últimos meses. Ir para uma realidade alternativa aonde os monstros de meus pesadelos reais jamais podem me machucar...

-Você deve estar cansado, não quer parar e descasar? -pergunto preocupada.

-Não, estou bem. -ele banaliza. -Não é como se eu dormisse muito de qualquer forma.

-Por quê?

-Por muitos motivos...

Ele até deixa a frase no ar, mas vejo claramente os pontos que me dizem que ele não quer falar sobre aquilo. O aperto um pouco excessivo no volante e seus olhos não só presos no congestionamento, que já se acabava, como em algo em sua mente.

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