Capítulo Dezessete

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Meia hora depois estávamos no carro de Júlio. Uma bela BMW preta para ser exata. Ele havia feito questão de me dizer as atribuições magníficas daquela BMW. Porém as únicas coisas que eu lembrava agora era dos vidros, que eram escurecidos e blindados, e que ela corria bastante. O restante já havia se perdido na minha mente no momento que eu tinha ouvido.

Hugo, que decidiu nos acompanhar, por que olhos há mais nunca é demais, ocupava o banco do passageiro ao lado de Júlio. Comigo estando no banco de trás só analisava entre ambos a estrada ir se modificando com o passar de cada curva que virávamos. Evitando rodovias conhecidas adentrando por ruas adversas até finalmente chegarmos onde morei por sete meses.

Logo na entrada da rua, que nem era asfaltada, já se via que ali não era um bom lugar para se morar. As casas de tijolos mal rebocados e o lixo espalhado aqui e ali denunciavam tão bem isso, quanto os viciados aos montes que fumavam seus baseados nos cantos de cada esquina ou beco.

Morar aqui não tinha sido bom, mas pensei que seria pior do que foi. Não tinha sido assaltada e ninguém chegara a mexer comigo. Eu passava o mais despercebido possível. Sempre com o capuz levantado e cabeça baixa, já que chamar a atenção ali era a última coisa que eu iria querer...

Antes que eu possa me aprofundar nos pensamentos sobre me estadia por ali, o carro parou no exato beco onde mais ao fundo se encontrava a casa.

Saio do carro já analisando tudo em volta, como Hugo e Júlio começaram a fazer ao descerem também. Hugo até começou a dar alguns passos para dar uma boa olhada ao redor, mas não tinha ninguém realmente visível naquele exato ponto. Parecia até uma rua fantasma. As únicas casas decrépitas por ali até parecia vazias, mas eu sabia perfeitamente que se estavam vazias eram ponto de venda de drogas. Uma ou outra poderia até estar ocupada, mas eram de pessoas tão ferradas quanto eu quando tinha chegado aqui....

-Eu vou ficar aqui. -diz Hugo quando volta e se encosta no carro.

Júlio assente e com as mãos nas minhas costas começa a me guiar pelo beco. Olho para trás a tempo de ver Hugo me mandar uma piscadela de relance. Decidida em não cair por aquele beco, que tinha o chão muito sujo, presto exclusiva atenção agora a cada passo. A casa de um cômodo era tão escondida, que mal dava para a ver da rua. Porém, só se embrenhar por aquele beco que ela começou a ser visível. Ver a decrépita porta de madeira e parar na frente fez com que eu estancasse no chão. A lembrança da última vez que eu estivera ali me bate como um baque oco. A monstruosa noite que eu gritei e esperneei até minha garganta arranhar para alguém me ajudar, mas ninguém me ajudou ou fingiu se importar...

-Você está bem? -pergunta Júlio ao me ver paralisada.

-Eu estou bem. -afirmo mais para mim do que para ele. Sei que ele vê meu pesar, mas não insiste e assente.

Júlio força a porta para abrir, já que para minha surpresa, ela se encontrava fechada. Com o seu simples empurrão a porta se abre completamente nos dando espaço para adentrar o seu interior. Com passos calmos adentramos um atrás do outro já olhando todos os cantos possíveis. As paredes de tijolos sem reboco continuavam as mesmas, deixando o sol entrar entre suas inúmeras rachaduras; o teto ainda não tinha furos e os poucos móveis que eu não tinha vendido ainda estavam lá.

Tudo estava exatamente como eu deixaria naquela fadiga noite. O lado oposto da geladeira e fogão se encontrava uma cômoda, que eu dividia com meu pai, e uma cama para ambos. Engulo em seco ao analisar a bagunça na minha. Tudo naquele ponto se encontrava revirado, vidro quebrado de algum espelho, uma cadeira tombada e lençóis pelo chão, deixavam evidente a luta que eu havia travado com os meus raptores.

Uma luta que não tive nem um pouco de êxito.

Afastando um pouco os olhos da imagem dou mais alguns passos verificando se alguém específico não saía de algum canto. Não tendo visão da sombra de ninguém volto meus olhos para Júlio, que parecia ter levado um soco no estômago. Ele olhava de um lado para o outro como se não acreditasse muito bem no que via.

Caindo pelo Caminho Onde histórias criam vida. Descubra agora