EPÍLOGO

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Tum...Tum... Tum...

Sinto meu coração bater calmo e sereno. Respiro fundo e sinto o bom ar das flores em volta, me invadir. Olho ao redor e vejo tudo tão mais bonito, colorido e vivo!

Já faz um mês que Victor morreu. Um mês daquela noite que teve altos e baixos.

Um mês que as meninas que tinham sido mantidas presas no Paraná foram soltas. Após a morte de Victor não demorou mais do que 24h para a polícia do Paraná invadir o 'edifico' e libertar todas as garotas que estavam sendo mantidas presas.

Eu havia estado presente no dia que elas foram resgatadas; mesmo contra vontade de Júlio e muito contra vontade de Hugo, que queria que eu ficasse em repouso mais de algumas horas depois de ter um corte no meu pescoço. Mas eu não fiquei, eu tinha uma promessa a cumprir. A promessa que eu havia feito ainda quando estava sendo mantida presa também, a promessa de ajuda-las.

Naquele dia quando elas foram tiradas do subsolo da casa muitas estavam em um estado lastimável, se assim eu poderia dizer.

Agora as 10 meninas estavam bem melhores, alimentadas e abrigadas. Claro que muitas estavam muito danificadas emocionalmente, pois muitas tinham sido espancadas ou simplesmente estrupadas por os capangas de Victor ou por Victor mesmo.

Mas o que mais me doeu foi saber que eram para ter 15 meninas ainda lá, mas parecia que Victor já sabia do iminente e vendeu 5 garotas as pressas. Ódio ainda entrou no meu peito por saber disso.

Respiro mais uma vez e sinto o doce cheiro das flores me invadir de novo. Estou no alto de uma pequena colina, onde olhando para baixo posso ver as meninas, que quiseram ser ajudadas pelo governo, se juntarem para fazer uma leve comemoração por estarem livres de novo.

O governo com ajuda de Fran, que mexeu os pauzinhos, havia doado um lugar do tipo de reabilitação para as meninas se recuperarem. Eu estava as ajudando do jeito que eu poderia, muitas eu já poderiam até dizer que eram como irmãs para mim, só pelo mês que passei aqui com elas.

-Querida?

Olhei para o lado para ver Luiz subindo a pequena colina na minha direção. Eu havia o trazido para cá assim que tudo tinha ficado pronto, as meninas ficaram felizes em ver Luiz novamente, pois como ele foi gentil comigo ele tinha sido gentil com todas elas no subsolo.

Ele tinha sido um bom homem em meio ao inferno.

-Está tudo tão bonito, não é mesmo? -eu perguntei quando entrelacei meu braço em volta do seu quando ele parou ao meu lado.

Eu já o amava como o meu pai.

Falando no meu pai, não o vi ainda depois de tudo que aconteceu. Ele simplesmente sumiu no momento que me apostou. Mas não faz diferença. Ele já tinha sumido antes mesmo de me apostar, eu só não tinha percebido. No momento que minha mãe morreu ele morreu também, o coração dele havia morrido junto com ela. Eu sei agora que eu havia esperado mudança de onde certamente não viria.

-Está mesmo! Elas estão arrumando tudo nos mínimos detalhes. -Luiz respondeu paternalmente olhando-as se movimentarem lá embaixo.

Olhando-as também uma pergunta veio as meus lábios sem que eu a processasse na minha mente primeiro.

-Você acha que Victor tinha redenção?

-Acredito que todos tenham redenção. -ele soltou um leve suspiro enquanto seu sotaque alemão se amenizava. -Mas nem todos querem, e é aí que está a diferença. Pelo o que eu conhecia Victor ele não queria e nem teria se redimido nessa vida. Acredite, doeu em mim saber que ele estava morto, pois eu o vi crescer. Mas também o vi entrar em um caminho tortuoso demais que o mudou e o deixou completamente frio paras coisas.... Acho que a alma atormentada dele está bem melhor morta.

Eu concordei com as suas palavras. Ele havia conhecido Victor melhor do que ninguém.

-Julia eu quero dizer uma coisa para você; - começou Luiz quando se virou para mim e eu fiz o mesmo quando ele embalou as minhas mãos nas suas enrugadas e calejadas. -Eu quero dizer que eu tenho muito orgulho de você! Você já passou por coisas demais nessa vida. Coisas que fariam muitas pessoas caírem e jamais se levantarem...

O modo paternal e carinhoso que ele falava já estava deixando os fundo dos meus olhos marejados. Eu havia contado tudo para ele quando nos encontramos de novo. Então era muito importante para mim ele dizer que estava orgulhoso.

-Nos meus 60 e poucos anos já vi de tudo, mas nunca tinha visto uma garota tão forte quanto você, que sofreu tanto com tão pouca idade. Mas acho que a vida agora vai deixar as portas da felicidade abertas para você. Por que ninguém mais do que você merece ter toda a felicidade do mundo!

Ele me abraçou e o abracei também; deixando um par de lágrima emocionadas escaparem pelo cantos dos meus olhos.

-Tudo bem por aqui ? -ouvi a voz de Hugo perguntar quando me afastava de Luiz, que sorria.

-Tudo mais do que bem. -eu disse quando limpei meus olhos.

-Cuide muito bem dela ! -Apontou Luiz a Hugo que já se encontrava atrás de mim com os braços a minha volta.

-Esse é o meu trabalho oficial pra toda a vida Luiz. -disse Hugo convicto.

Olhamos Luiz se afastar e ver logo depois ele se juntar as meninas que estavam arrumando lindas flores, que Luiz não perdia o hábito de cultivar.

-Júlio já está chegando? -perguntei me perdendo na sensação maravilhosa de ter os braços de Hugo ao meu redor .

-Ele está resolvendo as últimas coisas, mas chega ainda hoje.

Júlio estivera resolvendo metade da burocracia no último mês. A impressa tinha caído em cima da pequena cidade querendo saber mais sobre a morte e os negócios de Victor. Sabíamos que não demoraria muito para quê todos ficasse sabendo de tudo, mas Fran encoberto tudo o que era sigiloso demais para impressa saber . Como Júlio e Hugo que eram Agentes da Interpol, não dava para o mundo saber que a Interpol colocava agentes para descobrir os tipos de crimes mais hediondos. Então para todos os efeitos a Polícia federal havia feito tudo.

-Ok. Mas então, tudo já foi a baixo ? - eu perguntei calmamente.

-Foi. Alguns senhores foram contra, mas acabou dando tudo certo. O clube já foi demolido e agora só têm poeira e concreto no lugar. -ele disse deixando que o ar que saía de sua boca tocar minha pele, me arrepiando completamente.

Foi bom saber que o Clube, que tinha estado em pé desde que eu me entendo por gente, finalmente ir ao chão. O melhor foi saber que a prefeitura tinha doado o terreno para fazer um centro comunitário para a pequena cidade.

E adivinhem quem se propôs dar uma boa quantia para ajudar reerguer o centro ?

Sim, foi Hugo que não se importou em doar a metade do dinheiro dos seus falecidos pais para levantar o novo centro.
Me virei para ele e joguei meus braços ao redor do seu pescoço.

-Eu já disse que te amo ? -eu perguntei sorrindo.

Deixei-me perder naquela imensidão verde de seus olhos, que brilharam com travessura quando seus braços me puxaram para ficar colada com ele.

-Eu vivo pra ouvir isso.

Sorrindo ele abaixou até tomar a minha boca. Como sempre seu beijo mágico fez eu me esquecer de tudo ao meu redor e só lembrar de como eu me sentia bem estando em seus braços.

De como eu me sentia bem e feliz. Uma felicidade que eu pensei que nunca viria, mas que agora estava aqui e parecia pronta para ficar.

Uma coisa eu aprendi nesse vida....

...Que não importa quantas vezes eu caía, eu sempre vou tentar levantar. Pois hoje eu sei que não há dor que supere o amor!

Caindo pelo Caminho Onde histórias criam vida. Descubra agora