Capítulo Dezesseis

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Duas semanas mais tarde e eu sabia exatamente que dia era e que horas eram!

Hoje, para ser mais exata, era 17 de novembro as 11h da manhã. Júlio, como prometera, me deu algo para que eu soubesse informações tão básicas como essas. Um celular que, sendo melhor que um simples relógio, me dava mais algumas funções. No entanto, funções tão básicas hoje como ter conta em redes sócias, estava longe de ser uma possibilidade para mim naquele momento. Então além de me dar horas e dias da semana, o celular só seria utilizado para ligações de urgência.

Nada mais que isso, tinha especificado Júlio, ao me dar o celular.

As coisas entre ele e eu ainda rumavam devagar, mas de todo modo iam bem. Eu sabia perfeitamente que as coisas entre nós provavelmente jamais voltem a ser como antes, mas éramos pessoas diferentes agora. Os acontecimentos e desafios da vida nos mudara de tal forma que, desta nova forma, talvez criássemos um novo elo de irmandade. Ou assim eu esperava e prévia, do modo como as coisas iam nas últimas semanas. Até tinha tentado devolver a corrente a ele, que rejeitara alegando que agora ela pertencia a mim. A corrente era nosso laço físico que sempre nos ligaria, ele dissera.

Júlio, que se mudara no dia seguinte ao contar a verdade, dividia agora a casa comigo e com Hugo. No início, até tinha pensando que seria um desastre nós três ficarmos confinados naquela casa, porém não foi!

As duas últimas semanas tinham sido calmas e boas, coisas que há muito tempo eu não sabia o que eram. Hugo e eu, também, permanecíamos rumando devagar para um caminho desconhecido, mas agradável. Muito agradável, na verdade. Morarmos na mesma casa logo fez com que eu conhecesse melhor seus hábitos diários; o que gostava ou não de comer (nesse quesito devo dizer que ele é tão estranho quanto eu para alimentação). Coisas básicas como essas me encantavam cada vez mais. Até me encantavam profundamente, mas eu queria saber mais. Queria saber o fato dele não ter família, por exemplo. Sentimentos profundos e dolorosos pareciam sempre tomar seu espírito quando o assunto chegava perto daquele tópico. O que fez eu não questionar abertamente por respeito, mas não significava que minha curiosidade não aumentasse gradativamente. Ela crescia ávida para saber mais.

Nossos encontros logo foram tomados por beijos, que me faziam delirar no mar do esquecimento. Ele me atraía como um ímã! E de jeito nenhum eu conseguia resistir. Não que eu quisesse, de todo modo. Mas eu tentava, já que beijar um homem na frente do meu irmão não era algo que ambos quisessem fazer.

A primeira vez que Júlio havia nos pego, ele praticamente arrancou Hugo de cima de mim. Reação típica de irmão mais velho protetor, mas na segunda vez ele acabou sendo mais tolerante. Apenas tinha advertido Hugo para parar de me agarrar pelos cantos da casa. Reação essa, que eu suspeitava ser resposta à conversa séria que eles tiveram longe dos meus ouvidos curiosos. Realmente queria saber o que Hugo dissera para acalmar o espírito protetor de meu irmão. Mas, seja lá o que fosse, havia funcionado perfeitamente!

Mas talvez também houvesse funcionando, por que ambos eram melhores amigos. Isso, eu havia percebido assim que tinha os vistos juntos. Até pareciam irmãos de outra mãe! Faziam brincadeiras um com o outro e a confiança que cada um depositava no outro podia se vista de longe! Estava aí o porquê Júlio ter confiado em Hugo para me tirar de lá...

Pensando em um contexto geral era engraçado a ironia. Meu irmão, era o melhor amigo do cara ao qual eu começava.... A me apaixonar. A me apaixonar perdidamente a cada segundo que eu ficava perto dele e a cada pensamento do dia que ele me roubava sem ao menos saber. E, mesmo que eu quisesse parar o frio cortante na minha barriga por achar aqueles sentimentos me dominarem cedo demais, eu não conseguia fazer parar! Ele era como um vício, que não importava o quanto tentasse não cair, ele me puxava de qualquer maneira em queda livre...

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