Capítulo 01- Que mal tem? (revisado)

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É eu, eu - tento evitar gaguejar, mas não consigo, não com aqueles olhos verdes me encarando. - Vamos estudar doenças Genéticas? - Tento não soar tão contrariada, mas tudo que faço é parecer uma idiota a sala inteira rir da besteira que acabei de falar.

-Muito boa senhorita? - Seus olhos encontraram os meus e meu corpo inteiro se arrepia, respirar de repente ficou difícil, diante daqueles olhos.

-Buiar. -Pelo seu tom de voz, solto o ar que nem sabia que estava segurando. E respiro fundo. Lá vem, dei mancada.

-SENHORITA Buiar. Ótima resposta, se não levarmos em consideração que o nome da nossa disciplina é: Processos Biopatogenicos e Doenças Genéticas. - Ela me olha de maneira sugestiva e o Will ri baixo "idiota" eu penso. - Onde quer que sua cabecinha esteja, traga-a de volta e mantenha em minha aula. – Disse completamente séria, eu tremo na base.

-Si..., sim senhora. - Tento repetir o mais firme possível, se ela soubesse que a viagem da minha cabeça foi em sua voz, o que ela pensaria?

Espera.

O que eu estou fazendo de novo? Eu não posso. Penso, penso, penso. E a aula acaba e no final acabo que não prestei atenção em nada do que aquela mulher falou, ótimo semestre esse seria.

-Senhorita Buiar? - Aquela voz me chama, antes que eu possa sair. Ela havia aprendido meu nome e isso causa pulinhos em meu estômago e medo.

-Sim? - Me viro e me arrependo no mesmo instante, quando aqueles olhos encontram aos meus. Sinto um frio percorrer por minha espinha, olho para o relógio para disfarçar, quinze minutos para o ônibus sair. O que estava acontecendo comigo?

-Venha até a minha mesa, por favor. - Assim eu faço. - Já vi bastantes alunos dispersos em um primeiro dia de aula, mas considerando que você estava no meio do estacionamento prestes a ser atropelada, e viajou a minha aula inteira...

Ela não termina.

Fico me perguntando o que ela queria que eu falasse agora?

- Me desculpe por ter ficado dispersa em sua aula, isso não vai mais se repetir. - Falo com sinceridade e firme para que ela possa sentir que estou falando sério.

- Se estiver com problemas, eu como madrinha da turma, me disponho a ajudar. - Aí está de novo, aqueles olhos verdes me encarando, eu não conseguia sustentar por muito tempo.

- O... Obrigada. - Droga, porque eu fico gaga toda vez que essa mulher me encara?

Saio da sala e faço a mesma rota que sempre faço antes de ir para o ônibus que me espera no outro lado da pista. Vou ao banheiro. Encaro-me no espelho. Tremendo. Eu estou tremendo. Porque eu estou tremendo? Merda. Passou do horário do meu remédio. Deve ser por isso.

- Boa Noite, Sr. Valdir. - Digo entrando no ônibus. E lá está ela, minha preciosa poltrona. Aconchego-me em minha companheira de todas as noites, duas horas e meia de viagem me aguardava, busco meu remédio em minha bolsa, Carbonato de Lítio. Meu remédio para humor e controlar meus minis surtos. E o tomo, em um gole só, dois comprimidos de Lítio, para controlar as crises. Ofícios.

Que primeiro dia de aula maluco, meu Deus e que professora é aquela? É linda, mas meu coração ainda anda balançado por Louise.

Já estava bastante cansada de correr atrás de Louise, garota mais complicada impossível, mas de uma beleza exuberante. Eu não sei. Eu não sei se deveria ser assim. Perdi tantas coisas, tantos momentos, por mágoa e eu sentia que estava desperdiçando minha vida estacionada em Louise. Isso não era certo.

E nessa briga eu fico até adormecer e acordar quase perto da minha parada. Ele não estará lá, como em todas as noites ele estava para garantir minha segurança, mesmo que minha casa ficava a poucos metros.

Até o Para Sempre - ValuOnde histórias criam vida. Descubra agora