Capítulo 23- Plofessura

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Anteriormente em Até o Para Sempre...

- Desculpe, é que, é engraçado, agradeço você por ter vindo até aqui, mas diga a sua chefe que não precisa se preocupar comigo, isso é o tipo de coisa que uma professora não faria por sua aluna. - Eu vou sim, a consulta, mesmo que Valentina quisesse que eu esquecesse ela, eu não largaria meu tratamento, mas não aceitaria mais nada dela.

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Valentina PVO.

Fiquei irritada pela recusa de Luiza, eu estava tentando ser gentil mesmo depois de ontem, mas pelo menos ela vai a consulta o que me confortava saber que ela não largaria seu tratamento. Eu sei que ela estava chateada comigo e com razão.

Duas semanas haviam se passado após meu último contato com Luiza, nossa relação se restringia apenas de forma acadêmica, era um saco, eu sentia falta dela. Luiza tirava suas dúvidas em aula fazendo questão de frisar a professora Reis e isso me irritava demais, ainda por saber que eu causei aquilo.

Era pesado ficar longe de Luiza, eu não sei em que momento aconteceu, quando aconteceu, mas a garotinha tinha me cativado. Eu sabia disso, e era doloroso admitir. Eu estava afundada em plantões extras e em intercorrências emergenciais no SAMU, eu estava morando hora em hospital, hora em sala de aula, hora em uma ambulância. Eu queria desesperadamente ocupar minha mente, mas eu sentia que não estava funcionando. Tudo me remetia aos mesmos pensamentos.

Era um dia comum, eu estava cobrindo um plantão oncológico a dois dias, um senhor em específico me chamou atenção, ele estava em estado terminal, câncer na próstata, apenas alguns dias de vida, mas não parecia nenhum pouco abatido, na verdade ele estava eufórico por estar chegando o dia.

- Como estamos hoje seu Carlos? - digo esboçando meu melhor sorriso, eu não gostava muito de oncologia, me lembrava de minha mãe, mas cá estou eu dando mais um plantão extra para ocupar minha mente.

- Eu estou muito bem Doutora – acamado, passando os canais, me olha cúmplice. - Porque não senta um pouco, esse sorriso pode enganar outros, mas a mim não, tenho 70 anos de história minha garota. Sorrio em sua direção e por algum motivo em me sento. - Qual o nome da pessoa?

- Do que o senhor está falando? - isso era uma surpresa.

- Ora vamos, eu conheço um coração partido quando vejo um. - Ele era bem audacioso, mas tudo que eu fiz foi rir e me sentar.

- É complicado demais, senhor Carlos. - Meus olhos param em minhas mãos e eu sinto o cansaço recair sobre meus ombros.

- Complicado demais é não viver um grande amor por complicar demais ou por medo. Doutora - seu olhar é sincero e profundo, e eu sinto profundamente suas palavras. - Sabe Dra.

- Valentina, me chame de Valentina. - Seguro sua mão próxima à cama.

- Valentina, passaram 50 anos da minha vida amando a mesma pessoa. - Isso me surpreende, 50 anos era muito tempo. - Mas ela nunca soube. - Nossa, vejo-o se remexer um pouco, eu estou completamente surpresa. - Eu fui covarde demais e a perdi.

- Porque o senhor não diz agora? - afinal ele ainda estava vivo, ainda podia resolver as coisas.

- Porque quando me dei conta, eu não podia mais fazer nada, ela morreu a Cinco anos. E no início eu achei que esse câncer era um castigo, mas na verdade agora vejo como uma oportunidade, eu vou morrer Doutora e eu sinceramente peço todos os dias para ter a oportunidade de contar a ela.

Não entendi em que momento eu chorei, eu tinha fama por ser dura, mas aquilo era tão, inexplicável, chorei, chorei muito. Eu não queria me arrepender, eu não queria ter medo, eu não queria estar morrendo para poder viver um grande amor.

Até o Para Sempre - ValuOnde histórias criam vida. Descubra agora