Capítulo 06- Serelepe

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- Prazer nosso, sente-se. - Minha madrinha fala de maneira sugestiva para mim.

A noite seria longa.

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Após mais de uma caixa de cerveja, todos nós já estávamos para lá de Bagdá, eu estava muito louca, ria por tudo.

- Vocês são lindas juntas. - Minha madrinha solta com sua voz embargada, mas não deixando de transparecer sua malícia. Serelepe. Não sei de onde ela tira a ideia de que eu fico com garotas. Apesar de ser verdade.

- Madrinha, a menina namora, não tem nenhuma maldade. - Falo com sinceridade, apesar de que eu sentia algum interesse da parte de Helena, o momento todo.

- Pode ir no banheiro comigo? - Helena se pronuncia. E me fita com seus olhos claros, seu olhar era de um flerte notório, enquanto eu olho em volta da mesa e todos estão em expectativa sobre minha resposta.

Porque não? Estou solteira mesmo, e porque não ser babaca de vez enquanto? O que eu tinha a perder além da minha dignidade?

-Vamos. - Digo me levantando com certa dificuldade.

Quando entramos no cômodo que daria ao banheiro, ela me puxa contra a parede e me fita, segundos que pareciam horas, até ela olhar para minha boca. Eu queria aquilo?

Naquela altura do campeonato eu não estava mais pensando em nada, nas consequências daquilo. Eu sabia que eu me arrependeria depois, mas não há consequências dos atos tomados no calor dos momentos, elas vêm depois e ficam, para você se lembrar de tentar não ser estúpida.

Em um súbito calor de momento, e euforia, além da coragem que me abateu naquele momento, eu a puxo até que meus lábios se choquem aos dela, o beijo é urgente devido o teor de álcool que nós duas havíamos ingerido, seus lábios são macios, e apesar de não sentir nada, é um beijo considerado bom.

- Nossa que beijo. - Helena fala espontaneamente após o ar de nossos pulmões se tornar necessário. - Não acredito que demorei tanto tempo para fazer isso. - Me beija novamente, e dessa vez é um beijo menos eufórico que o primeiro, até que somos interrompidas, e nos afastarmos abruptamente.

- Meninas, vamos? - Minha tia, fala em um tom que pudéssemos ouvir, mas sem entrar no cômodo em que estávamos.

- Acho melhor a gente ir. - Helena fala sem jeito, até que as maçãs de seu rosto tomem uma coloração vermelha.

- Não precisa ficar assim, com vergonha, está tudo bem, ok? - Falo o menos enrolada possível, mas sinto que passo a confiança que desejo. - É melhor você ir na frente.

Dito isto a mesma sai, esbarrando na cadeira que havia perto da porta, e eu fico ali até dá um tempo considerado aceitável, para que eu retornasse à mesa em que todos estavam nos aguardando. Era indubitável o olhar de Marie sobre nós, não dou atenção alguma.

Sem mais delongas, nos despedimos do dono do bar e saímos em direção a casa de Helena, todos muito bêbados, mas por um fio eu ainda tinha uma sanidade.

A essa hora já escureceu e todos nós estávamos relativamente alcoolizados, mas pelo menos meu tio era responsável e experiente ao dirigir assim.

- Onde você disse que mora mesmo? - Ele se dirige a Helena, que permaneceu calada durante todo o percurso.

- Na rua da escola, a frente, do lado do Bar do Diogo. - Rapidamente ela fala, e meu tio assim segue suas instruções, conhecíamos a Ilha como a palma de nossas mãos, afinal já havíamos bebido em todos os bares dali.

- Você poderia ir para a sede com a gente né? Aí dormia lá em casa? Vocês podiam até dormir no quarto lá de casa. - Dessa vez é minha madrinha a pessoa a falar, e quando ela está assim, o sentido dela de falar e fazer coisas fica menos aguçado, o que me causa pânico diante da pergunta que a mesma faz a menina que ela conheceu a algumas horas. Como ela dá uma mancada dessas?

- Acho melhor deixar para outro dia. - Resolvo intervir antes que Helena responda.

- Ok, já que Camila não quer que eu vá, eu vou ficar em casa mesmo. - Helena diz com deboche saindo do carro. Eu realmente não queria mesmo.

Decido deixar por isso mesmo. Pensando na merda que daria Helena chegar para dormir lá e comigo, ou meu nome ser citado e Louise ouvir. Aí seria o fim da picada mesmo.

-Vai ficar em casa mesmo? Não quer beber mais? - Meu tio pergunta a fim de que eu responda que irei beber mais.

- Não tio, deu por hoje. - Digo em um sussurro embolado. E ele para em frente à minha casa onde desço com dificuldade. Já estava bem bêbada quando entro em casa, as luzes já estavam apagadas, mas ao chamar minha mãe duas vezes ela logo abre o portão para que eu passe, nem me despeço do pessoal, não tenho forças e vou direto para o banheiro.

Era assim, fazia alguma burrada, tomava banho. Estava estressada, tomava banho, estava alegre, banho, tudo se resolvia com um bom e demorado banho, mas nesse momento era tudo desconexo e assim com os pensamentos vinham eles iam embora em uma velocidade enorme, e eu não tinha controle. Gatilhos. Eu entraria em crise a qualquer momento. Me ajeito rapidamente para dormir, mas tudo que eu consigo é sentar na porta e chorar. Chorar compulsivamente, pelo que? Seria por Helena e Keana? Seria pelo meu pai? Minha mãe? Eu não sei, só sei que choro até pegar no sono, ali mesmo no chão.

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Valentina P.V.O.

Que o céu me ajude a não encontrar Andrea em casa. Eu não sei se sou capaz de encarar aquela mulher, depois de tudo.

Abro a porta, e entro, está tudo uma bagunça, a casa parecia uma verdadeira zona e que não havia sido limpa a um mês, tinha pizza jogada no meio da sala de estar, várias garrafas de bebidas em cima do sofá. Já não bastava está grávida, ainda tinha que ser irresponsável com a criança que não tinha culpa.

- Você voltou amor, eu achei que você não voltaria. - A voz dela sai de um canto da sala, baixinha. Onde olho com desprezo e a sinto estremecer diante do meu olhar e eu não sinto nada diante disso, nem se quer pena. Ela aparenta nem ter tomado banho desde nossa discussão, a maquiagem borrada espalhada por toda sua face, seus olhos vermelhos, enfim, eu não me importo.

Ignoro completamente sua fala, para me dirigir até o quarto, onde não posso a muito tempo mais chamar de nosso. Pego minha mala para a viagem, quando sinto sua presença se fazer atrás de mim.

- Valentina, por favor, vamos conversar. Eu preciso de você. - Ela suplica, e eu apenas me viro para ir até o closet buscar minhas roupas e meus sapatos, tênis e afins. - Valentina eu amo você por favor, não foi porque eu quis.

- Olha só Andrea, eu vim aqui pegar minhas coisas em uma boa, e pretendo sair daqui do mesmo jeito, então facilita as coisas para nós duas e se mantenha calada. - Digo ríspida. Pegando cuidadosamente minhas roupas sociais, e as que utilizo para dar aula. Sempre tive muito apego por roupas, não ligo muito pra marcas, apesar de serem um xodó, mas ligo se estou vestida bem, deve ser por isso que as pessoas falam que eu que sou egocêntrica, mas isso não é errado é?

Andrea se dá por vencida e se senta na cama que fica no centro do quarto, só observando meus movimentos, enquanto arrumo minhas coisas na mala, claro que não caberia tudo, eu tinha roupa e sapatos demais, mas pegaria o essencial do essencial e voltaria depois para pegar o resto. Eu tinha que buscar o restante o mais rápido possível e arrumar um lugar para ficar. Não iria e não queria viver em um hotel o resto da vida. Entraria em contato o mais rápido possível com um corretor de imóveis e com meu advogado.

- Andrea. - Ela levanta a vista de forma abrupta, esperançosa, sinto dó pela primeira vez. - Meu advogado entrará em contato com o seu para iniciarmos o processo de separação. - Me dirigindo a porta digo tudo em um só fôlego, eu só quero sair dali.

- Valentina, por favor, não. Eu juro que dessa vez será diferente. - Ela se derrama em lágrimas mais uma vez.

-Andrea não. Você já teve todas as suas chances e você desperdiçou todas elas, e agora chega. Isso é demais. Para mim e para você.

Até o Para Sempre - ValuOnde histórias criam vida. Descubra agora